LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
Sobre o que se cala
William Eloi
Natal/RN
Eu nunca fui bom em matemática. Só tenho simpatia pelos números
quando os vejo subjetivamente como uma espécie de incerteza quântica. Mas a
culpa não foi inteiramente minha. Bem, foi em parte. O problema está
justamente “nessa parte”, que fica do lado direito inferior do meu cérebro;
responsável pela intuição e pela criatividade - diz a neurociência e um amigo
cientista e professor, o qual começou outro dia um debate comigo. Descobri isso
respondendo a um teste de dominância cerebral proposto por ele.
Ainda, segundo esse meu amigo, disciplina e uma condição favorável pode
fazer com que qualquer “indivíduo” faça “qualquer coisa”, ao refutar a minha tese
romântica de dom natural. Não posso culpar o meu amigo cientista por pensar o
mundo de forma empírica. Porque o cérebro dele age do lado esquerdo, oposto
ao que tenho mais afinidade. Como também não pude deixar de pensar que por
“lógica” eu não deveria estar aqui escrevendo esse artigo. Pois não tenho
formação alguma - sou pouco instruído- embora insistente no que faça.
Confesso que assino como “escritor” esse texto e tantos outros que já
escrevi, porque simplesmente me proponho a escrever- da mesma forma como
poderia assinar como “encanador” ou “pedreiro”, se tivesse habilidade para tal.
Porque talvez a escrita seja mesmo uma função motora que todo primata possa
desenvolver se estimulado em consonância com alguma carga genética que se
carrega.
Mas daí me vem à cabeça exemplos de Genet, que abandou a escola aos
13 anos de idade partindo para uma vida criminosa, escrevendo suas
obscenidades de cócoras em papéis racionados da prisão de Santé na segunda
guerra mundial. Ou Henry Miller saindo de algum pardieiro pulguento em Clichy
até um cabaré, e de volta, até sua máquina de escrever. Arthur Rimbaud e Paul
Verlaine, sujos e famélicos, compondo seus versos no inferno de Bruxelas. Todos
eles exemplos de trabalhos e vidas fantásticas, mas de métodos caóticos.
Gosto da ideia de mundo como a do filósofo austríaco Wittgenstein (1889-
1951), que propõe em seu Tractatus logico-Philosoficos(1921): O mundo é o
lugar onde as coisas se relacionam. Uma representação da linguagem, criada
pela lógica. Pois o que está além da linguagem é o “inefável”, a “experiência
mística”.
Deus, amor, morte - É lá onde qualquer proposição de sentido para
qualquer significado é um absurdo; onde a “experiência” mística só pode ser
152