Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 157

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 Sobre o Cigarro e o Esquecimento Elieni Caputo São Paulo/SP Quando fumava, ele evocava suas memórias mais antigas: algumas eram feitas de ferro e pressionavam a parte fina do coração. Desejava extirpá-las a cada tragada, mas parecia injetá-las no tecido nervoso, que recebia essas marcas pesadas. E quando fumava, a cada baforada, ele percebia que a parte de sua vida esquecida não era selecionada conforme a tristeza que trazia: as memórias mais aflitivas eram as dotadas de maior teimosia. E quando apagava o cigarro, dessas memórias não se desfazia, mas daquelas que, à revelia, iam navegar para longe de sua vida. Assim ele se despedia do que nem mais sabia, à mercê do rio da vida, que deságua no esquecimento e no desalento de um dia que não me lembro. 151