LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
Sobre o Cigarro e o Esquecimento
Elieni Caputo
São Paulo/SP
Quando fumava, ele evocava suas memórias mais antigas: algumas eram
feitas de ferro e pressionavam a parte fina do coração. Desejava extirpá-las a
cada tragada, mas parecia injetá-las no tecido nervoso, que recebia essas marcas
pesadas. E quando fumava, a cada baforada, ele percebia que a parte de sua
vida esquecida não era selecionada conforme a tristeza que trazia: as memórias
mais aflitivas eram as dotadas de maior teimosia. E quando apagava o cigarro,
dessas memórias não se desfazia, mas daquelas que, à revelia, iam navegar para
longe de sua vida.
Assim ele se despedia do que nem mais sabia, à mercê do rio da vida, que
deságua no esquecimento e no desalento de um dia que não me lembro.
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