LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
Quando Ricardo estava na cama, o som da chave na fechadura acordava-o, e
então via aqueles poderosos pés autoritários, passando repetidamente antes do
nível de seus olhos, primeiro em sapatos de salto alto e depois nos chinelos mais
confortáveis. Ele permanecia capturado pela visão, não conseguia separar o olhar
daqueles pés majestosos e a mulher percebeu isso.
Uma manhã, Ricardo tinha ficado na cama. Não tinha vontade de sair ou se
levantar, ou tomar qualquer iniciativa de vida ativa. Djamila entrou por volta das
oito da manhã, acenou e passou em frente a ele, ainda velada, com os pés
orgulhosos sob o véu, ainda com tamancos de salto alto. Ricardo não aguentou
mais, estendeu as mãos, acariciou um pé dela. A mulher teve por um momento a
reação instintiva de se retirar, mas parou, com uma emoção de triunfo: na
realidade, era exatamente o que esperava desde uns meses. Com doçura, o
homem começou a acariciar o tornozelo, desceu sob o calcanhar. Ela levantou o
pé um pouco e o sapato começou a escorregar. Ricardo tornou-se mais corajoso:
tirou o sapato, aproximou a boca e começou a beijar os dedos dos pés, um após
o outro. Ele sempre gostara dos dedos grandes afusados e das unhas compridas
ligeiramente enganchadas, lembrando as garras duma fera. Djamila colorava-as
com um esmalte escuro, tendendo a violáceo, às vezes preto. Ele chupou os
dedos grandes, então se comprometeu a lamber os outros dedos e interstícios.
Estavam levemente empoeirados, os pés de Djamila: ela tinha caminhado na rua.
No entanto, tinham um sabor doce, o da pomada baseada em mirra e do incenso
com o qual perfumava seu corpo. Sob as pomadas e os aromas, Ricardo percebia
o sabor ligeiramente salgado do suor entre os dedos, o que lhe oferecia uma
sensação proibida de intimidade. Isso o deixou louco e perdeu toda moderação.
Agarrou-se aos tornozelos da mulher e começou a adorar seus pés, com total
devoção, um após o outro. Ao fazê-lo, ele se movia de forma decomposta na
cama, mostrando toda sua excitação inequivocamente para a mulher, que
entendeu que ele estava totalmente em seu poder. Ela conseguiu habilmente
remover o véu, sem extrair o pé direito do abraço do jovem, e ordenou com um
gesto imperioso: "e o outro? Beije-me o outro pé!" Então passou para outras
ordens: "Lamba-me debaixo da planta!" "E o calcanhar? Beije o calcanhar!"
"Bom! Passe a língua bem entre os dedos, quero perceber sua saliva que me
banha!"
Ricardo imediatamente obedeceu e se entregou totalmente a um êxtase fetichista
que ainda não conhecia. A única coisa que podia pensar era: "Por que nunca fiz
isso antes?". Sua língua secou, ele respirou fundo, humildemente levantou os
olhos para olhar a mulher, engolindo para acalmar a excitação e começou de
novo, como um cachorro fiel. Djamila começou a pisar nele, de forma cada vez
mais autoritária, fazendo com que ele perca todas as últimas restrições. O jovem
cobriu-lhe os pés, os calcanhares e os tornozelos com beijos, sem nunca se
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