Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 126

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 A parte mais difícil veio a seguir. As cartas de despedida a familiares e amigos. Luiz Henrique escreveu a cada um segundo seu grau de afinidade e afeto. Estremecia ao pensar na tristeza verdadeira de seus entes mais queridos, muito mais merecedores de seu sacrifício que aquela pérfida Cacilda. Elaborou a lista e cumpriu todos os itens. No dia marcado, voltou para casa, trancou janelas e portas, desligou o telefone, colocou a sua frente os comprimidos fatais, um copo d'água e olhou o relógio. Oito da noite. Muito cedo ainda. Luiz Henrique tomou um banho, colocou um pijama confortável, sentou-se na biblioteca em sua poltrona predileta e resolver passar as últimas horas lendo. Um dos assuntos prediletos de Luiz Henrique era a matemática. Em suas horas de folga ele se entretia com enigmas, problemas e equações cabeludas. A amizade com os números era, em parte, responsável pela sua riqueza. Entre os livros que ele ainda não abrira, encontrou uma preciosidade. Bem ao lado do Curiosidades Matemáticas, que ele saboreara no último semestre, escrito pelo reverendo Charles Dodgson, mais conhecido como Lewis Carroll, escritor das Alices (no mundo das maravilhas e no país do espelho). Que preciosidade era essa? Tratava-se de um trabalho clássico de Kummer sobre o famoso Teorema de Fermat, cuja demonstração os matemáticos procuraram por séculos. Em 1637 foi encontrada uma anotação em um dos livros de Fermat, uma afirmação hermética, dessas que só aficionados entendem: "É impossível para um cubo ser escrito como a soma de dois cubos ou uma quarta potência ser escrita como a soma de duas quartas potências ou, em geral, para qualquer número que é uma potência maior do que a segunda, ser escrito como a soma de duas potências com o mesmo expoente”. Ora, a partir desse dia, matemáticos profissionais e amadores procuraram desesperadament e pela resposta, que Fermat não deixara, ou não foi encontrada em seus pertences. Um desses foi o alemão Ernst Eduard Kummer, de cujo trabalho Luiz Henrique comprara uma cópia que ainda não tivera tempo de apreciar. Chegara a hora. 120