Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 127

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 Em breve o moço absorveu-se na leitura. Pelo tamanho do texto, terminaria com folga antes da meia noite. No entanto, lá pelas tantas, ele tornou-se um leitor inquieto. Levantou-se, pegou um bloco de papel e lápis, escreveu, rabiscou, sentou-se por fim à escrivaninha, pegou tabelas e calculadora, embrenhando-se furiosamente em uma série de cálculos. Conferiu. Exclamou: - Está errado! Aqui há um erro de lógica. Kummer fez uma suposição e nao justificou o argumento. Ninguém lhe responderia, mas falar em voz alta era um de seus hábitos ao encarar problemas difíceis. Animado, Luiz entregou-se ao trabalho. Encheu folhas e mais folhas com números, sinais, contas, equações. A lixeira foi recebendo parte dos rascunhos amassados; muitos foram lançados a esmo pelas mãos frenéticas do jovem. As horas foram passando. Pela manhã, um sorriso iluminou-lhe o olhar. _ Encontrei! Só mesmo outro matemático para compreender seu gozo. A sensação intensa de encontrar-se diante de algo Belo. A alegria de compreender. Vieram- lhe à mente os versos de John Gillespie: "– Put out my hand, and touched the face of God." Um tanto sonolento, ele espreguiçou-se e olhou pela janela, por onde a luz do sol nascente derramava sombras longas pelo tapete. Na escrivaninha a sua frente avistou os comprimidos, pegou e rolou os vidrinhos entre os dedos. O relógio marcava sete horas da manhã, - Bem, parece que aquele boboca apaixonado morreu ontem à meia-noite. Pegou a pilha de cartas, rasgou-as e jogou os papéis picados no lixo. http://escritoraporvocacao.blogspot.com/ 121