LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
Em breve o moço absorveu-se na leitura. Pelo tamanho do texto,
terminaria com folga antes da meia noite.
No entanto, lá pelas tantas, ele tornou-se um leitor inquieto. Levantou-se,
pegou um bloco de papel e lápis, escreveu, rabiscou, sentou-se por fim à
escrivaninha, pegou tabelas e calculadora, embrenhando-se furiosamente em
uma série de cálculos. Conferiu. Exclamou:
- Está errado! Aqui há um erro de lógica. Kummer fez uma suposição e nao
justificou o argumento.
Ninguém lhe responderia, mas falar em voz alta era um de seus hábitos ao
encarar problemas difíceis.
Animado, Luiz entregou-se ao trabalho. Encheu folhas e mais folhas com
números, sinais, contas, equações.
A lixeira foi recebendo parte dos rascunhos amassados; muitos foram
lançados
a
esmo
pelas
mãos
frenéticas
do
jovem.
As horas foram passando.
Pela manhã, um sorriso iluminou-lhe o olhar.
_ Encontrei!
Só mesmo outro matemático para compreender seu gozo. A sensação
intensa de encontrar-se diante de algo Belo. A alegria de compreender. Vieram-
lhe à mente os versos de John Gillespie: "– Put out my hand, and touched the
face of God."
Um tanto sonolento, ele espreguiçou-se e olhou pela janela, por onde a luz
do sol nascente derramava sombras longas pelo tapete. Na escrivaninha a sua
frente avistou os comprimidos, pegou e rolou os vidrinhos entre os dedos. O
relógio marcava sete horas da manhã,
- Bem, parece que aquele boboca apaixonado morreu ontem à meia-noite.
Pegou a pilha de cartas, rasgou-as e jogou os papéis picados no lixo.
http://escritoraporvocacao.blogspot.com/
121