Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 125

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 O Matemático Sonia Regina Rocha Rodrigues Santos/SP Por que um homem jovem, saudável, bonito e rico cometeria suicídio? Luiz Henrique era tudo isso e mais: era inteligente. Todas essas qualidades eram irrelevantes. Aos olhos de Cacilda ele era invisível, e isso selava o seu destino. Luiz Henrique sofria. Sentia todos os clichês e metáfora que os poetas usam para descrever o coração despedaçado. Fez-se noite em meu viver. Um infarto em meu coração. Noite sem luar. Vaso sem flor. Mar sem navio. Bússola sem norte. Tudo muito poético e pouco analgésico. Luiz Henrique resolveu terminar com o sofrimento acabando com sua causa, a vida. Não às pressas e de qualquer jeito. Com método. Prático, organizado, responsável, Luiz Henrique era quase maníaco por planejamento. O chato perfeccionista. Ser excelente em tudo o que fazia era o seu mantra. Com exceção de Cacilda, o foco na meta desejada sempre o conduzia ao sucesso. Agora, isso não mais importava. Nosso empresário calculou quanto tempo levaria para deixar tudo em ordem e marcou o dia e o momento exato de sua morte. Sexta-feira, 12 de junho, à meia noite em ponto. Em primeiro lugar ele lidou com as dívidas. Chamou seu contador e organizou cuidadosamente um cronograma de pagamentos, transferências bancárias, liquidações de títulos e coisas do gênero. A seguir tratou com o advogado, a quem confessou que pretendia partir para longe por um longo tempo, questões de sucessão, testamento e procurações. 119