LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
O Matemático
Sonia Regina Rocha Rodrigues
Santos/SP
Por que um homem jovem, saudável, bonito e rico cometeria suicídio?
Luiz Henrique era tudo isso e mais: era inteligente. Todas essas qualidades
eram irrelevantes. Aos olhos de Cacilda ele era invisível, e isso selava o seu
destino.
Luiz Henrique sofria. Sentia todos os clichês e metáfora que os poetas
usam para descrever o coração despedaçado. Fez-se noite em meu viver. Um
infarto em meu coração. Noite sem luar. Vaso sem flor. Mar sem navio. Bússola
sem norte.
Tudo muito poético e pouco analgésico.
Luiz Henrique resolveu terminar com o sofrimento acabando com sua
causa, a vida.
Não às pressas e de qualquer jeito. Com método. Prático, organizado,
responsável, Luiz Henrique era quase maníaco por planejamento. O chato
perfeccionista. Ser excelente em tudo o que fazia era o seu mantra. Com exceção
de Cacilda, o foco na meta desejada sempre o conduzia ao sucesso. Agora, isso
não mais importava.
Nosso empresário calculou quanto tempo levaria para deixar tudo em
ordem e marcou o dia e o momento exato de sua morte. Sexta-feira, 12 de
junho, à meia noite em ponto.
Em primeiro lugar ele lidou com as dívidas. Chamou seu contador e
organizou cuidadosamente um cronograma de pagamentos, transferências
bancárias, liquidações de títulos e coisas do gênero.
A seguir tratou com o advogado, a quem confessou que pretendia partir
para longe por um longo tempo, questões de sucessão, testamento e
procurações.
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