Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 124

LiteraLivre Vl. 2- n º 11 – Set / Out. de 2018
Mas talvez fosse apenas saudade... Saudade entre duas almas antigas que eram apegadas e em algum momento, há muito tempo, acabaram por se separar, e só agora se reencontravam. E a noite em que descobriram isso – ou algo parecido – foi a mais marcante que ambos sentiram desde muito tempo.
No céu não havia estrelas nem a lua, apenas uma escuridão vazia. Soprava ventos frios e as notas ternas de uma chuva branda dissipavam melancolicamente o silêncio que jazia nas sombras da noite. O jovem esperava ansiosamente no horário marcado de se encontrarem, temendo que ela não aparecesse.
Para sua surpresa, ela apareceu. Trazia um sorriso doce resplandecido em sua face, que aparentava ter chorado há pouco tempo. Suas mãos eram pálidas e geladas, mas o coração quente. Seu rosto era triste, mas belo e delicado como o rapaz imaginava serem os anjos. Sua voz soava como a mais bela canção dos Deuses e os seus olhos castanho-escuro espelhavam uma moça cheia de sonhos e de esperanças, mas também de medos. Os dois se abraçaram calorosamente, o jovem tocando os cabelos cacheados dela, que mais pareciam rios negros e continham um perfume hipnotizador.
Eles conversaram por horas, compartilhando as suas desventuras, rindo das ironias da vida, pensando no futuro, se aquecendo e dançando em uma rua escura e solitária como duas pessoas que em um momento de êxtase não ficaram com receio de parecer loucos. Foi neste momento que aconteceu o primeiro beijo. Mas não foi apenas um beijo! Foi doce, mas ao mesmo tempo intenso; durou apenas alguns segundos, mas pareceu ter se passado horas, e os dois jovens pensaram ficar a noite inteira naquele beijo e até desejaram morar nele; havia algo de encantador e especial que eles não entendiam, até quando o beijo terminou e de repente perceberam:
Eles não eram duas almas perdidas, era apenas uma! Há muitos séculos, quando os Deuses criaram o mundo, criaram infinitas almas, porém algumas poucas saíram diferentes, e os Deuses nunca entenderam por que: elas carregavam tantos sentimentos dentro de si que excediam o que Eles haviam planejado. Para consertar o erro, resolveram transformar essas almas em duas cada, e fazer com que em suas várias vidas na Terra não lembrassem deste detalhe a não ser que se beijassem, que seria algo altamente improvável em um mundo imensurável.
Mas a existência é irônica e repleta de mistérios. E eis que os dois jovens eram uma dessas pobres almas que foram divididas, um elo eterno os unia. Agora tudo fazia sentido para eles. Eles eram apenas um.
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