Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 97

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 que o entregador rodasse pelos quarteirões, e finalmente descesse pela rua do cemitério. Não podia perder tempo! Quando percebeu que a carroça estava bem próxima, Juvenal correu para o canto do muro do cemitério, subiu num cavalete de pau que ficava ali, e com a cabeça acima do muro, ergueu os braços e começou a balançá-los no ar para chamar a atenção do entregador de pães, sem que precisasse gritar. Afinal, ainda estava escuro, e muitas pessoas ainda dormiam. O cemitério ficava num terreno bem alto, a rua da frente era de terra, forrada de pedriscos e cascalhos soltos, e formava uma ladeira em direção da vila. Costumeiramente, quando o entregador de pães passava diante do cemitério, um tanto ressabiado, naquele lugar ermo, numa noite escura, tratava de fustigar o cavalo para que fosse mais rápido. Ao começar a descer a ladeira, vislumbrou no canto do muro a cabeça de Juvenal, os braços erguidos sendo sacudidos no ar... Na escuridão não dava para saber quem era quem. E ele nem queria saber... Ficou endoidecido! Soltou as rédeas, levou as mãos à cabeça, enfiou os dedos pelos cabelos e destampou a gritar. Urrava de pavor... O cavalo, com as rédeas soltas, desembestou numa carreira doida ladeira abaixo. A carroça quase nem tocava as rodas no chão. Voava! E foram tantos solavancos que as amarras se soltaram, a carroça se desvencilhou, tombou. O entregador de pães, aos berros, foi arremessado longe, caindo sobre uma moita de capim. E berrava. Sentado, com as mãos enfiadas nos cabelos, os olhos estatelados, gritava... Juvenal, atordoado, continuava no canto do muro, também com as mãos na cabeça. Tudo aconteceu tão rápido... Só então percebeu que havia assustado o entregador de pães Como estava sem a chave do cadeado do portão, o coveiro o deixara trancado, Juvenal fez um esforço danado para pular o muro e ganhar a rua. E, no escuro, saiu à procura do entregador de pães. 91