LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
Cidades, Habitações e Censo
Fábio Rabelo Rodrigues
Brasília/DF
um balde com água embaixo pede
para flutuar com água em cima, como um grito afundado
sem usar a cabeça ou com ela levemente submersa.
cabeça elegida.
e, depois, tudo a crescer pelo lado de dentro,
o esforço de uma inteligência interior.
sem dúvidas, um grito abaixo de nós para apagar um grito acima.
enquanto isto o riso afoito de uma cidade incompleta,
com ruas sem asfalto e gente sem casa.
e colho logo o coentro quando amanheço
porque é importante seguir com o sonho enunciativo, rito de fé,
de que havia força entranhada nos nódulos da cabeça.
prestes a assumir que não há braços para agarrar o mundo
ou pés para subir todas as escadas,
digo que, apesar disto, há sonhos formidáveis
amaciados pela força dos pés e que sopram e que se espantam
de crescer com a primavera repercutindo neles.
e sobre o vazio da casa em que morei penso que hei de deitar um dia.
quem sabe usar o peito para abrir os lugares, os recônditos lugares,
há brisa para que o céu e o inferno esperem
até ameaçar a vida por tantos anos quanto os que viveremos
esta vida primordial e coletiva,
cada vez menos primordial e coletiva.
deve de haver muito mais holofotes do que gente.
deve de haver gente em algum lugar.
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