LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
— Preso? O que é estar preso?
— Você não tem liberdade.
— Liberdade, o que é liberdade?
— Você não pode sair daí. Sua vida é só este pequeno espaço. Sua vida é
só cantar.
— Cantar? O que é cantar?
— É isso que você faz tão bonito!
— Mais bonito do que o que você faz, convenhamos.
O pardal baixou a cabeça, triste.
— Desculpe se te ofendi. Mas é a realidade. Você é uma negação para
cantar.
— Sou sim. Eu vou embora. Deixo você com o seu canto.
— Aonde você vai?
— Vou voar por aí. Curtir no ar, entre as árvores, nos telhados das casas,
minha tristeza de não poder cantar como você.
— Espere, espere! O que é voar, curtir no ar? O que é isso?
— Ah! Você não pode voar, não é mesmo! Console-se, então com seu
canto. Eu, pelo menos, vou aonde eu quero, na hora que quero, como quero. Eu
prefiro meu canto feio e minha liberdade ao seu canto bonito na gaiola.
— Gaiola? O que é gaiola?
O pardal não respondeu. Já estava longe, passando entre as mangueiras,
entre os fios da rede elétrica, pousando aqui, pousando ali, cantando o seu canto
que mais parece um grito.
O azulão voltou a comer e a cantar. Não se entristeceu. Ele só conhecia a
gaiola, a parede, o alpiste, a vasilha de água, seu canto e seu dono. Nada mais.
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