LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
Batizado Tardio
Júlio Bernardo Machinski
Guarapuava/PR
Na semana passada, a Camila telefonou convidando-me para a cerimônia
de seu batizado tardio. Por eu sempre tê-la visto como uma historiadora
materialista e agnóstica, fiquei meio atônito com o convite inusitado,
desconfiando que se tratava de uma brincadeira. Mas, por via das dúvidas,
ontem, na hora marcada, lá estava eu na casa dela.
Fomos até a igreja, que ficava num bairro simples e distante, no carrão
com ar-condicionado do namorado bonito e algo complicado que ela arranjou
algum tempo atrás, que a arrastou pra igreja e que agora, ao que parece, virou
seu novo marido. No trajeto, fomos escutando, em volume um pouco mais alto
do que os meus ouvidos gostariam, alguns louvores de um CD de música gospel.
Embora eu tenha nascido numa família católica e ande meio afastado da
igreja há uns bons anos, já tive a oportunidade de frequentar, no passado, alguns
cultos evangélicos a convite de amigos ou de familiares. No entanto, aquela seria
a primeira vez que eu assistiria, ao vivo e in loco, a um batizado fora da tradição
católica apostólica romana.
A Camila, que estava com os cabelos naturalmente soltos, contrariando seu
estilo punk rock habitual, cobria todas as suas inúmeras tatuagens usando um
esvoaçante vestido de algodão verde-claro, com compridas mangas boca-de-sino
e indo até a altura dos joelhos. Tal visual conferia-lhe um ar hippie-romântico-
angelical e contribuía para eu me sentir uma espécie de figurante deslocado no
clipe de Sin Sin Sin, do Robbie Williams.
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