LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
rastro de sangue fazendo uma trilha em seu rosto e diversas marcas róseas
cobrindo-lhe o corpo em diversos locais. Ajoelhado ao seu lado estava seu
Francisco, os olhos novamente marejados e vermelhos, dessa vez não pelo
tempo no bar, mas pelas pequenas lágrimas que delineavam sua fronte
enrugada. Sua face se contorcia de tempos em tempos e seu olhar parecia
perdido no horizonte em que contemplava o corpo que jazia em sua frente, e
segurava um terço em suas mãos que tremiam e se entrelaçavam com a mão
inerte de sua mulher. A cena causou tanta estupefação que foram necessários
alguns segundos até que os vizinhos retomassem suas ações e corressem para
afastá-los. Seu Francisco deixou-se afastar, o corpo mole caindo no chão, levando
o terço nas mãos e juntando-o perto da boca. Quando deitou, pareceu cair em si
e começou a chorar copiosamente, as lágrimas descendo em meio a um gemido
rouco e grosso em que chamava por sua mulher. Um dos vizinhos correu para
buscar o carro e levá-la ao hospital, mas antes que chegasse até a porta
disseram-lhe que não seria necessário. Estava morta.
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