LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
— Precisamos sofrer para crescer, a verdade é essa: só damos valor as coisas
quando as perdemos — Pedro cerra os punhos para cima, eufórico.
— Me deixe em paz. Saia daqui, quero ficar um tempo sozinha. Me desculpa te
pedir isso mas é que tá braba a dor no peito.
— Quero ajudar. Você quer uma massagem?
— Ahhg... nojento! Tu caiu em meu conceito agora. Saia daqui, quero ficar só.
Obrigada.
— Garota ingrata que não quer ser ajudada. Tomara que se afogue em suas
lágrimas — Fala aborrecido, deixando às costas para a chorona, seguindo à banca
comprar o jornal dominical.
Distando alguns quarteirões, avista a banca, porém, fechada. Começa a
cair água do céu e, sem guarda-chuva, Pedro encharca-se pela chuva ácida da
capital. Sua carteira molha e, ao chegar em casa, nota a necessidade de tirar a
segunda via da identidade. Teve que jogar fora suas meias. Baldes já
posicionados soam com as goteiras. Ao entrar no banheiro, gira a válvula do
registro para tomar uma ducha quente, coloca o xampu e começa a esfregar seu
coro até que acidentalmente a espuma cai em seus olhos; a eletricidade acaba,
tudo fica escuro de repente.
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