LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
— Está tudo bem com você? — Ele disse engrossando a voz.
— Está sim, obrigado por perguntar.
— Você está sozinha aqui ou é impressão minha?
— Sim, saí pra dar uma abstraída.
— Eu tenho um pirulito do mesmo sabor do qual estou chupando. Comenta Pedro
oferecendo um doce, com a boca no dele.
— Não quero, não. Meus pais sempre me disseram pra não aceitar doces de
estranhos.
— Quanta sinceridade! Vou ser sincero também. Mas eu não sou um estranho.
— De onde nos conhecemos mesmo?
— Tenho a impressão de que nos conhecemos em vidas passadas — Fala para
impressioná-la. A garota não esperava por aquela resposta. Pedro continua:
— Percebi que você está triste, que foi?
— Nada demais.
— Então pare de se entristecer e coloque um sorriso nesse seu rosto —
Colocando seus dedos nas bochechas dela, pressionando-a por um riso.
— Não me toque.
— Relaxe, estou aqui para te ajudar. Amanhã será um dia melhor que hoje.
— Eu duvido, amanhã minha cachorrinha vai continuar morta.
— Meus pêsames.
— Te agradeço. Se soltou da coleira, ela veio a sofrer de um acidente
“automobilístico” enquanto passeava, como disse papai — Gesticulando duas
aspas no ar.
— Fico contente que ela tenha tido uma morte rápida.
— Como!?
— Sabe, morrer lentamente deve ser agonizante.
— Morte é morte — Respondeu ela friamente.
— Essas coisas acontecem, você não pôde fazer nada contra a contingência.
A jovem começou a lacrimejar.
— Não chore. Ninguém tem o controle sobre tudo. Você precisa colocar um
sorriso nessa sua cara e ser feliz.
— Nunca mais vou ser feliz de novo.
— Você precisa ser mais positiva. A vida continua — Disse, incisivo.
— Tu só pode estar de brincadeira comigo.
— Veja bem, um escalador que se depara com uma montanha alta pode ter
medo no início, mas ele sabe que cresce cada dia que passa, enquanto que o
cume fica cada vez menor.
— Isso não faz sentido, a montanha ainda vai continuar gigantesca — Responde
a esperta.
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