Revista Junho Jornal Manauara - junho 2018 PG | Page 4

No caso, o barracão da escola, onde durante todo ano carnavalescos e operários do samba produzem os adereços, as fantasias, os carros alegóricos etc. Certamente não é nos escritórios nem nas salas de reuniões que nasce um desfile de carnaval. De forma similar, é no chão de fábrica de uma empresa que se cria o valor. É lá que se deve concentrar os esforços. É onde se pode enxergar e resolver os problemas. Uma empresa que não prioriza de verdade a gestão no samba dificilmente vai conseguir “encantar na avenida”. Outra lição de gestão típica do carnaval é a que vem da bateria das escolas de samba. Ela deve reunir pessoas que trabalham verdadeiramente em equipe, e não em nichos isolados. Se uma errar, provavelmente outras também errarão, e vai ficar feio. Então, todos tocam prestando atenção em todos. Não há trabalho individual. Não há uma estrela maior que a outra. Os movimentos são coletivos, sincronizados: os movimentos não são a mais nem a menos, somente o necessário para dar o ritmo certo para a escola. O ritmo dado pela bateria embala a evolução da escola, quesito muito importante nos desfiles. A escola tem um tempo para atravessar toda a avenida e, portanto, tem que evoluir com harmonia, pois se atrasar, perderá valiosos pontos. A gestão lean também requer de um “ritmo” igualmente preciso. No caso, é o que chamamos de tempo talk, conceito lean que significa o tempo disponível para a produção de um único produto considerando a demanda do cliente. O que mais vemos, no entanto, são empresas que produzem sem o menor ritmo: ou produzem mais do que precisam e aí acumulam estoques desnecessários e onerosos ou mesmo não produzem o que é demandado pelo cliente, gerando atrasos, descumprimentos, desabastecimentos, frustrações e reclamações. Empresa sem ritmo certo e constante desafina e não tem “nota 10 na bateria”. E há ainda o exemplo dos mestres das baterias das escolas de samba. É um típico modelo ideal de liderança: a que lidera perto dos liderados, no meio deles, ouvindo-os, corrigindo-os, ajudando-os a entrar no ritmo, a fazer a batida certa, sinalizando. Seja nos ensaios ou nos desfiles, os mestres das baterias estão sempre ao lado de quem produz. Seria possível um mestre de bateria liderar seu grupo do escritório? Certamente não. Da mesma forma, líderes empresariais que gerenciam à distância, sem estar cotidianamente no local onde se realiza o trabalho, que não dão o exemplo, que não apoiam seus liderados a se desenvolverem e resolverem problemas, lideram de forma precária. Sempre vão desafinar. E o público vai perceber. Carnaval também é gestão. Claro que nem todas as escolas de samba nos dão bons exemplos, mas o fenômeno social envolvido nos traz boas reflexões. Observe mais da próxima vez em que estiver pulando por aí. E aproveite a ressaca de carnaval para pensar sobre isso, para colocar a gestão da sua empresa no ritmo do cliente. Será só alegria. *Flávio Picchi é presidente do Lean Institute Brasil e Prof. Dr. da Unicamp Fonte :https://epocanegocios.globo.com/colunas/Enxuga-Ai 4