Revista ideaas | UM |
Promover uma
distribuição
mais igualitária,
combatendo
o acúmulo e
o desperdício
de recursos, é
fundamental.
ompartilhar e colaborar são palavras de ordem no novo milênio. Em
uma realidade fluída, tão cheia de informações e novidades a cada
minuto, esses dois conceitos antigos invadiram a economia, trazendo
para o dia a dia das pessoas uma nova forma de viver e de consumir.
Economia colaborativa, chamada também de compartilhada, é ba-
seada na troca, venda, aluguel ou empréstimo de bens e serviços
entre pessoas, e não entre uma pessoa com uma grande empresa. É
alugar uma casa particular para passar as férias tratando diretamente
com o proprietário, usar o próprio carro para transportar pessoas,
comprar um objeto usado de quem já não precisa mais dele ou en-
contrar quem cuide do seu animal de estimação quando você precisar.
Nenhuma dessas ideias é nova. São ações que nossos avós e bisavós
já conheciam no passado e praticavam todos os dias, entre amigos e
vizinhos. A diferença é que, agora, a conexão é global, entre pessoas
que não se conhecem, mas que decidem confiar umas nas outras e
se reúnem em torno de um objetivo comum.
Essa nova versão de colaboração entre desconhecidos começou a
ganhar força há cerca de 10 anos por uma combinação de fatores. E
a popularização da internet foi o grande catalizador.
Outro impulso importante foi o aumento da preocupação em relação
ao consumo e o impacto de nossas escolhas no meio ambiente. Com
uma atenção cada vez maior em relação à quantidade de objetos que
compramos, os recursos naturais que usamos para fabricá-los e à
assustadora quantidade de lixo que estamos produzindo, o mundo
voltou a olhar para o compartilhamento de bens com bons olhos.
Além disso, a crise financeira, a partir de 2008, fez muitas pessoas bus-
carem fontes alternativas de renda e formas de reduzir seus gastos.
Para os brasileiros, a economia colaborativa é atraente
e deve crescer muito nos próximos anos.
Segundo pesquisa realizada pela Confederação
Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço
de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em 2018, 89%
dos brasileiros que já experimentaram alguma forma
de economia compartilhada ficaram satisfeitos, e
68% pretendem tornar essa forma de consumo mais
frequente na sua rotina.
Modelos mais usados pelos brasileiros:
41%
CARRO COMPARTILHADO
38%
ALUGUEL DE IMÓVEL
COMPARTILHAMENTO DE ROUPAS 33%
BICICLETAS COMPARTILHADAS 21%
FINANCIAMENTO COLETIVO 16%
COWORKING
15%
Revolucionando
o consumo
Nos últimos anos, a economia
colaborativa mostrou ser não apenas
uma boa opção para consumidores,
mas, também, com um olhar atento
ao mercado, um bom caminho para
os negócios. Iniciativas que surgiram
para intermediar essas conexões
entre pessoas acabaram fazendo
mais do que isso: elas cresceram
exponencialmente e se tornaram,
elas mesmas, grandes empresas.
Uma das maiores histórias de sucesso
responde pelo nome Uber. A empresa
foi criada pelos norte-americanos
Garrett Camp e Travis Kalanick para
conectar motoristas particulares e
passageiros por meio de um aplicativo
de celular. A Uber surgiu em 2010 e
revolucionou a mobilidade urbana:
hoje ela atua em mais de 63 países,
realiza 15 milhões de viagens por dia,
possui 75 milhões de usuários e 20 mil
funcionários no mundo. No Brasil, mais
de 100 cidades possuem uma rede de
motoristas cadastrados no app.
Outro gigante da economia
compartilhada atual é o Airbnb,
plataforma on-line que permite o
aluguel de imóveis para temporada.
Ele nasceu em 2007, quando Joe
Gebbia e Brian Chesky decidiram
alugar um cômodo de seu
apartamento em São Francisco
para conseguirem pagar o aluguel.
Para atrair interessados, criaram
um site. Hoje, mais de 5 milhões de
pessoas fazem a mesma coisa, em
81 mil cidades: anunciam sua casa
para receber completos estranhos
utilizando o site de Gebbia e Chesky.
Para o sucesso do Airbnb, da Uber e
da economia compartilhada de forma
geral, confiança é importante. Afinal
entrar no carro ou na casa de
um desconhecido ou pagar por um
objeto usado que você ainda não
checou o estado de conservação pode
ter resultados negativos.
A saída encontrada pelas empresas
e bem aceita pelos usuários foi
implementar avaliações. Nos sites e
apps, cada usuário dá notas à pessoa
com quem interagiu, e a construção
de uma boa reputação se torna
essencial para que ela continue
participando daquela rede.
Colaboração na Saúde
A economia colaborativa é muito maior do que os gran-
des exemplos de sucesso. O conceito vem se espalhando
para as mais diversas áreas, como a área da Saúde.
O setor de Saúde já começou a se beneficiar de boas
propostas colaborativas com grande potencial de fazer
a diferença na vida de cada pessoa. Muitas dessas ideias
têm como ponto de partida a conexão de profissionais de
Saúde e indivíduos que precisam de cuidados, enquanto
outras buscam otimizar o uso de espaços e equipamentos
médicos de forma inteligente e colaborativa.
É o caso da Cohealo, criada em 2012 nos Estados Unidos, com foco na ociosidade
de aparelhos médicos. Hospitais e clínicas investem grandes fortunas em equipa-
mentos de exames importantes, mas, muitas vezes, esse maquinário passa parte
do tempo parado.
Para minimizar esse desperdício, a Cohealo conecta diferentes estabelecimentos
de Saúde e oferece os dados e a tecnologia necessários para que eles realizem o
compartilhamento de equipamentos, tirando o máximo proveito de cada um e
diminuindo a necessidade de produção e aquisição de mais máquinas.
No Brasil, empreendedores criativos, grandes companhias e mesmo o poder
público estão empenhados em encontrar soluções para a Saúde dentro da
economia colaborativa.
Uma das propostas que está surgindo é a Livance, iniciativa que tem como
objetivo otimizar consultórios médicos, permitindo que diferentes profissionais
partilhem o mesmo espaço com flexibilidade de horário e de acordo com suas
necessidades específicas.
Soluções pensando nos pacientes também estão ganhando espaço nesse ecossis-
tema. Um exemplo são plataformas como a Zenklub, que liga psicólogos, terapeu-
tas e coachs a pessoas que buscam esse serviço. As sessões são virtuais, oferecendo
a praticidade proporcionada pela tecnologia e preços mais baixos.
O portal Cuidar é Viver surge como uma proposta semelhante, mas com foco na
Saúde dos idosos. O site nasceu de uma parceria entre a Cruz Vermelha Brasileira
e a Danone e interliga cuidadores de idosos a famílias que precisam desse serviço.
Para utilizar a plataforma é necessário fazer uma doação à Cruz Vermelha, que
será revertida para a formação de novos cuidadores, e, dessa forma, ampliando o
alcance do projeto e criando um círculo virtuoso.
A colaboração pode se dar também no campo das ideias. É o que acontece no
IdeiaSUS, uma plataforma para o compartilhamento de experiências, práticas
e soluções no campo da Saúde. O banco de ideias é coordenado pela Fundação
Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) em parceria com conselhos da Rede de Apoio à Gestão
Estratégica do SUS e visa reunir informações para fortalecer o sistema de Saúde
brasileiro e aproximar pesquisa e inovação da gestão pública de Saúde e o dia a dia
dos pacientes.
Mas não é preciso olhar a Saúde de forma tão ampla para fazer a diferença. Muitas
vezes, a colaboração começa com uma ideia simples e o trabalho de uma única
pessoa, e foi assim que surgiu o Banco de Remédios. Criada por Dámaso MacMil-
lan em Porto Alegre, desde 2006 o banco recebe doações de medicamentos que
estão sem uso, mas dentro da validade, e repassa sem custo à população carente.
Saúde
para todos:
o ideaas chega
para mudar
Aprendendo com experiências bem-
sucedidas e amplificando o alcance de
boas práticas, chega agora o ideaas
com uma proposta mais abrangente.
A nova plataforma brasileira surge
para interligar pessoas físicas ou
jurídicas, sem distinção, em torno do
objetivo de tornar o acesso à Saúde
mais amplo, levando medicamentos,
objetos, exames e até informações a
quem precisa, de forma simples.
O ideaas conecta pessoas que
possuem um recurso ou serviço
ligado à Saúde a quem procura por
ele. Pode ser uma muleta ou um
inalador usado durante um período
de recuperação, mas que perdeu a
utilidade, ou um fisioterapeuta que
possui horários livres em sua agenda
e quer oferecer seus serviços. Pela
plataforma, esses itens e serviços são
anunciados, seja como doação ou a
preços acessíveis, e quem procura por
eles supre sua necessidade de maneira
rápida e fácil.
Na ferramenta, é possível também
buscar informações relacionadas
à Saúde ou até mesmo pedir
ajuda financeira para realizar um
procedimento importante, mas que o
paciente não tem condições de pagar.
Para Carlos Pappini Jr e Francisco
Piccolo, criadores do ideaas, o
sistema de Saúde brasileiro precisa
de novos olhares para enfrentar
suas deficiências, e promover
uma distribuição mais igualitária,
combatendo o acúmulo e o desperdício
de recursos, é fundamental.
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