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Revista ideaas | UM | Entrevista Especial 14 ENTREVISTA ESPECIAL Dr. Denizar Vianna de Araújo, secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (SCTIE) A umentar a eficiência e o alcance do Sistema Único de Saúde - SUS, aplicando os recursos disponíveis de forma mais assertiva, é um dos grandes desafios do Brasil atual e a missão assumida por Denizar Vianna de Araújo, novo secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (SCTIE). Médico cardiologista, Vianna é Doutor em Saúde Coletiva e professor da faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e chega ao cargo trazendo uma vasta experiência em Economia da Saúde. Nesta entrevista, ele detalha as prioridades de sua gestão na Secretaria e as ferra- mentas que utilizará para alcançar os resultados almejados. 1) Quais responsabilidades da SCTIE? Quais os pilares estratégicos da Secretaria e os principais objetivos de seu mandato? A SCTIE é a Secretaria do Ministério da Saúde responsável por gerar informação e conhecimento, para apoiar a decisão de alocação de re- cursos nas demandas por insumos da área de Saúde. Os objetivos da minha gestão são avançar no processo de priorização explícita para alocação de recursos, estabelecer orçamentos para grupos de doença, instituir modelos de compartilhamento de risco com a indústria far- macêutica e de materiais médicos, fomentar pesquisa de efetividade comparativa para apoiar os contratos de compartilhamento de risco. 2) O Ministro da Saúde e o senhor vêm citando o conceito de risk sharing junto à indústria farmacêutica como uma das principais estratégias para otimizar os recursos e gerar incorporação de ponta. O senhor acha que é possível mensurar os desfechos dentro do sistema para apurar a efetividade real do risk sharing? O monitoramento do desfecho clínico é um dos alicerces dos acordos de compartilhamento de risco. O Departamento de Ciência e Tecnolo- gia (DECIT) será o coordenador da pesquisa de efetividade comparativa nos centros de referência, junto com os Institutos de Ensino e Pesquisa dos Hospitais de Excelência do PROADI-SUS, para apoiar contratos de compartilhamento de risco. 3) As críticas ao SUS são muitas. Falta de financiamento adequado, falta de gestão adequada, de políticas adequadas, de atendimento adequado. Como a sua Secretaria pode ajudar a melhorar esse cenário? A SCTIE tem corpo técnico de alta qualificação. Em cenário de restrição orçamentária, o papel da SCTIE é ainda mais relevante, para qualificar o processo decisório e auxiliar o incremento do acesso da população do SUS às tecnologias efetivas, de maneira sustentável. 4) Como o Brasil vem investindo em ciência, tecnologia e inovação no Ministério da Saúde? (medicamentos, materiais, equipamentos, sistema etc.)  Houve corte no fomento à pesquisa nos últimos anos, em função da crise econômica que o país enfrentou. O desafio dos pesquisadores neste momento é focar a pesquisa para as necessidades prioritárias da população assistida pelo SUS. O ambiente acadêmico possibilita acesso a metodologias e ferramentas analíticas que ajudam o gestor e formulador de políticas de Saúde no processo decisório. Dr. Denizar Vianna Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (SCTIE). 5) Quais os desafios diante das mudanças demográficas no Brasil, como o aumento da expectativa de vida da população? O aumento da expectativa de vida da população e a incorpo- ração de novas tecnologias são determinantes na elevação dos custos nos sistemas de Saúde. O cuidado ao paciente com cân- cer é um dos campos em que as despesas aumentaram mais ra- pidamente, com crescimento de até 21% ao ano na última década, devido à introdução de novas terapias de alto custo, jun- tamente com o aumento da prevalência de câncer, consequência, em parte, da maior longevidade da população. 6) Qual o percentual do orçamento do Estado destinado ao SUS? Como atuar tendo um cenário de necessidades ilimitadas com a barreira da emenda constitucional do teto dos gastos à frente? O Setor Saúde no Brasil tem se mantido nos últimos anos como o 2º item de gasto federal, depois de Previdência e o 3º item do gasto agre- gado das três esferas de governo (depois de Previdência e Educação). Esses gastos representam aproximadamente 8,5% do Produto Interno Bruto (PIB), incluindo o gasto público (Sistema Único de Saúde - SUS) e privado, sendo que a participação privada corresponde a mais de 4,5% do PIB. O SUS oferece cuidados de Saúde a 150 milhões de habitantes que não possuem planos privados de Saúde e representa 4% do PIB. Os recursos são insuficientes para atender o compromisso constitucional de acesso universal à Saúde. O teto dos gastos nos impõe desafios, mas ainda há gargalos e ineficiência na assistência à Saúde da população que, uma vez diagnosticados, permitirão “fazer mais com menos”, isto é, melhorar a qualidade do gasto em Saúde. 7) Como esse orçamento destinado ao SUS se compara ao investimento feito por outros países em Saúde pública? Países com acesso universal à Saúde devem investir pelo menos 6% do PIB em Saúde pública. Ao contrário dos sistemas de Saúde europeus, somente 44% do financiamento total dos serviços de Saúde no Brasil é de origem pública, o que nos coloca entre os países com menor fi- nanciamento público per capita do mundo. 8) O senhor é um estudioso da Farmacoeconomia. A Farmacoeconomia é usada de forma efetiva e eficiente no Brasil? A Farmacoeconomia pode ser definida como a descrição, a análise e a comparação dos custos e das consequências das terapias medi- camentosas para os pacientes, os sistemas de Saúde e a sociedade, com o objetivo de identificar produtos e serviços farmacêuticos cujas características possam conciliar as necessidades terapêuticas com as possibilidades de custeio. Desde o início dos anos 2000, avançamos muito no SUS com o uso da Far- macoeconomia para o processo decisório em Saúde. O exemplo mais mar- cante foi a instituição da CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) em 2011. 9) Como o senhor vê o Brasil em relação às pesquisas que envolvem engenharia genética, terapia biológica e telemedicina? A comunidade de pesquisa no Brasil tem massa crítica para avançar nesses pontos. Cabe ao Estado regular e fomentar pesquisa de qua- lidade nessas áreas, com objetivo de atender às necessidades do SUS. 10) Sua vida sempre esteve ligada à academia e ações de suporte técnico ao sistema de Saúde, seja estadual, federal ou até privado. Como estão sendo estes primeiros meses nesta nova atividade? O ambiente acadêmico possibilita acesso a metodologias e ferramentas analíticas que ajudam o gestor e formulador de políticas de Saúde no processo decisório. Outro ponto relevante do meio acadêmico é a busca pela meritocracia, que pode ser utilizada na gestão pública. Essas características estão me auxiliando nesta experiência única de contribuir para regulação e formulação de políticas no SUS.