Revista ideaas Edição DOIS | Page 27

Revista ideaas | DOIS | Impacto social 27 MAIS SAÚDE, MENOS LIXO. Conheça o Cataki, o aplicativo que une sustentabilidade e inclusão social, e, de quebra, ainda colabora para cidades mais limpas A comida que sobra dias na gela- deira, os produtos que vencem no armário, as roupas e calça- dos usados um par de vezes e que vão parar no fundo do guarda-roupa... O que a gente compra precisa ser utilizado, caso contrário, vira lixo. E, de uma forma ou de outra, gera desperdício e onera o meio ambiente. O raciocínio parece simples, até óbvio, mas a gestão de resíduos nem sempre funciona e os materiais dispensáveis às vezes acabam nas ruas, praças, terrenos baldios, rios... Há muito o que fazer para dar melhor destino de tudo isso e, entre outras coisas, preservar a nossa saúde. A cada dia, estamos gerando mais lixo; muitos municípios ainda descartam os resíduos coletados em lixões, e não para aterros sanitários e, para piorar, a coleta seletiva não avança. Para se ter uma ideia, cerca de 10% do total de resíduos sóli- dos gerados em 2017 no Brasil – algo em torno de 7 milhões de toneladas – não foram coletados. Os dados são da 15ª edição do Panorama dos Resíduos Sóli- dos 2017, estudo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resí- duos Especiais (Abrelpe). “Discutimos segurança, saúde e educação, mas não falamos sobre gestão de resí- duos sólidos que, na verdade, é transver- sal a esses temas. Ao abordar o assunto, podemos trabalhar segurança alimentar (saúde) e prevenção ao desperdício e rea- proveitamento de nutrientes do resíduo orgânico para a agricultura (educação), por exemplo. Também podemos evitar o descarte de material como entulhos em locais que podem se tornar ameaça à população (segurança e saúde)”, afirma Gabriela Otero, coordenadora do depar- tamento técnico da Abrelpe. fotógrafa: Ana Oshiro/Divulgação catador: Michael Douglas Bezerra da Silva Sabemos que o papel dos catadores no cenário da saúde pública é bem importante. O descarte incorreto de resíduos sólidos, é um problema de saúde pública, porque gera alagamentos e doenças. Faz sentido. A discussão sobre o lixo é ampla e multifacetada, por isso, sim, precisamos falar sobre o assunto, adotar medidas no dia a dia para lidar com ele – Henrique Ruiz, o consumo consciente é o primeiro passo coordenador do Cataki – e olhar para os movimentos que traba- lham para mitigar os efeitos que os resí- duos sólidos causam no meio ambiente e na sociedade. TECNOLOGIA, RECICLAGEM E TRABALHO SOCIAL Entre as medidas, a reciclagem está no centro dessa engrenagem. E, no Brasil, os catadores ou coletores de lixo são peças fundamentais no equilíbrio desse ecossis- tema. O Movimento Nacional dos Catadores estima que, atualmente, haja quase 1 milhão de pessoas exercendo essa função no Brasil. Eles têm papel fundamental na destinação do lixo reciclável, principalmente nas grandes cidades. Para ajudá-los a se organizar, surgiu o Cataki, projeto criado em 2016 pela organização não-governamental Pimp my Carroça, do ativista e grafiteiro Mundano. Ele trabalha há 12 anos com reforma e pintura de carroças e idealizou o Cataki, aplicativo para conectar catadores com usuários interessados em descartar lixo – basta ter um celular com conexão à internet para aderir ao serviço. CATAKI EM NÚMEROS Estão presentes em 480 cidades brasileiras Possuem 2.600 profissionais cadastrados Já registraram mais de 150 mil downloads no aplicativo Os catadores registrados pelo app têm renda R$ 300 a R$ 3.000 mensais de 60% deles usam carros como kombis e pequenos e caminhões para o transporte “O Cataki não cobra dos catadores e usuários pelo uso do aplicativo. Ganhamos com trabalhos de consultoria B2B”, diz Henrique Ruiz, coordenador do aplicativo Cataki. Ele conta: “Criamos o app para conectar as duas pontas e ajudar a movi- mentar adequadamente a cadeia do lixo. E para melhorar a vida dos catadores. Deu certo”, diz. “Além disso, sabemos que o papel dos catadores no cenário da saúde pública é bem importante. O descarte incorreto de resíduos sólidos, é um problema de saúde pública, porque gera alagamentos e doenças.” O próximo passo é incrementar as funcionalidades do aplicativo - a atualização deve ocorrer no início de 2020. Entre outras melhorias, haverá funções similares às dos apps de carros compartilhados, como Uber. Os catadores poderão ser ava- liados e receber gratificações. Também haverá possibilidade de o usuário anunciar uma coleta e o catador pegá-la, como funciona com os motoristas de carro. Por fim, o Cataki vai passar a trabalhar com volumes maiores e usuários mais assertivos, atendendo a bares, restaurantes, hospitais e empresas de eventos. “Os catadores vão ser remunerados pelos estabelecimentos e pela venda do material recolhido. Estamos muito otimistas, acreditando que a vida deles vai melhorar ainda mais”, afirma Ruiz. A sociedade e o meio ambiente agradecem. PANORAMA DA RECICLAGEM NO BRASIL Confira alguns dados sobre o descarte do lixo no Brasil, de acordo com Dados da 15ª edição do Panorama dos Resíduos Sólidos 2017, estudo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais . PARTICIPAÇÕES DAS REGIÕES DO PAÍS NO TOTAL DE RSU COLETADO Norte 6 ,5 % Nordeste 22,4 % Discutimos segurança, saúde e educação, mas não falamos sobre gestão de resíduos sólidos que, na verdade, é transversal a esses temas. Gabriela Otero, coordenadora do departamento técnico da Abrelpe Centro oeste 7 ,3 % Sudeste 52,9 % Sul 10,9 % PERCEPÇÃO DOS BRASILEIROS COM RELAÇÃO AOS RESÍDUOS Conhecem embalagens retornáveis de vidro 28 % Sabem que garrafas PET podem ser recicladas 40 % Afirmam que o serviço de coleta seletiva não é disponibilizado ou não sabem se isso ocorre no município 44 % Sabem que alumínio é reciclável 47 % Sabem que papel é reciclável Sabem que vidro é reciclável Sabem que plástico é reciclável 50 % 64 % 77 %