Revista ideaas | DOIS |
Ponto de vista
TECNOLOGIAS
A FAVOR DA
SAÚDE
A
tecnologia sempre existiu na área da saúde.
Todo saber médico é uma tecnologia, pois en-
volve padronização, fundamentos, aquisição
de habilidades e treinamento. A própria anamnese,
que é o momento de interação entre o médico e o pa-
ciente, é uma tecnologia, pois há diversas habilidades
incluídas nesse processo.
Mirhelen
Mendes
de Abreu
Professora de
Reumatologia – UFRJ
Existem três tipos de tecnologias: as duras, semiduras
e leves. As duras são as que requerem insumos que
otimizam os processos ou executam ações em larga
escala, como métodos diagnósticos e terapêuticos. As
semiduras envolvem processos – mecanismos proces-
suais de gestão de risco e de fluxo de trabalho estão
dentro dessa definição. Por último, as tecnologias le-
ves têm a ver com a relação, a comunicação, fluxos e
processos de tratamento e hierarquia.
Todas as esferas da tecnologia empregada na saúde estão
em contínua transformação. No entanto, as relaciona-
Doutorado em Saúde
das à comunicação, seja no ambiente de trabalho em
Coletiva – Especialista saúde, seja na relação entre os profissionais da área são
em Avaliação de
as mudanças realmente transformadoras no segmento.
Tecnologias em Saúde Essa transformação é representada pela consolidação
de outros players, isto é, profissionais de saúde diversos
Pós-doutorado na
atuando de forma definida no processo de trabalho; pela
Escola de Medicina
conscientização do paciente em seu papel no processo
da Universidade de
de cuidado e pelos processos de trabalho, acreditação e
Harvard (EUA)
certificação de qualidade institucionais.
Dentre todas as tecnologias, desta-
co a Telemedicina como a de maior
exigência de eficiência em todas as
dimensões, já que é a tecnologia que
vai consolidar a revolução da relação
médico-paciente. Talvez por ser um ponto de
maior interação com a bioética, ela vai exigir maior efi-
ciência de todas as esferas: duras, semiduras ou leves.
Sem dúvida alguma, cada vez mais, será preciso usar
recursos com inteligência e equilíbrio. Explico: uma
expertise é uma tecnologia. Um marceneiro, por exem-
plo, utiliza tecnologias para transformar madeira em
um banco. Ele pode usar sua tecnologia leve (como
cortar e medir) e uma tecnologia dura (como um serro-
te e um martelo) para construir um banco em 20 dias.
No entanto, ele pode atualizar seus conhecimentos
(tecnologias leves) sobre os cortes e ajustes, bem como
sobre o melhor emprego das tecnologias duras dis-
poníveis. Com essa aliança, ele poderá executar e até
mesmo aprimorar sua tecnologia leve em maior escala,
garantindo maior precisão de corte, mais rapidez e
quantidade de produção. Essa associação vai permitir
que ele entregue, nos mesmos 20 dias, 20 bancos, em
vez de apenas um. Para isso, no entanto, também vai
ter de reformular sua lógica de recebimento e entrega.
Por fim, precisará contar com parceiros e novos cola-
boradores para executar sua produção com eficiência.
Toda essa quantidade de serrotes elétricos, máquinas e
afins, porém, pode se tornar uma grande parafernalha se
ele não souber empregá-la para os corretos fins. Seu custo
pelo emprego exagerado e desnecessário pode aumentar.
E ele ainda não terá a garantia de que os bancos terão
maior qualidade. Isso poderá exigir reparos frequentes,
que utilizam mais recursos, o que poderá provocar perda
de clientes e, ainda, custos de processos judiciais decor-
rentes da insatisfação com clientes.
A associação de tecnologias duras e semiduras com
tecnologias leves na área da saúde tem uma lógica
semelhante. O uso racional das tecnologias duras e
semiduras é potencializada pelas leves. Em qualquer
esfera do conhecimento ou campo de trabalho é na
leve que está a principal vantagem transformadora.
Conhecimento sempre será poder e quem entender
que essa é a que verdadeiramente importa, sairá na
frente da lógica mutante do mercado.
As tecnologias agilizam os processos e as interven-
ções, e qualificam a transparência nas relações. Mas
enquanto houver resistência a mudanças realmente
efetivas, as tecnologias duras podem ser usadas de
modo inadequado e exagerado. Isso certamente acar-
retará em alocação ineficiente dos recursos. Os resul-
tados podem ser desastrosos. Por isso, acredito que se
por um lado a tecnologia em saúde está evoluindo, de
outro, precisa de atenção para não cair nas armadilhas
que acabo de mencionar
16