Revista FAATESP Ano 1 / N° 1 - Ago 2014 | Page 46

[email protected] denominava os religiosos que, após árduo processo, em que recebiam os ensinamentos da lei divina, estavam habilitados a discursar publicamente (dar sermões). Entendia-se, à época, que esses religiosos não devotavam sua vida à fé apenas por vontade própria. Eles respondiam a um chamado vindo do alto. Chamar em latim é vocare (o sentido de tal chamamento perdura ainda hoje em alguns meios religiosos sob o nome de ‘vocação’). Nesse sentido, os profateri eram compreendidos como pessoas que, chamadas internamente pelo próprio Deus, abriam mão de si mesmas (sacrificavam-se) para viver em nome da transmissão da sabedoria contida no livro da revelação divina. Tornar-se um profateri não é, portanto, uma escolha do sujeito; ao contrário, apenas quem escolhe é o próprio Deus (e, ao fazê-lo, torna o profateri um privilegiado, um escolhido). A ele, resta agradecer pelo privilégio, desprezando qualquer outra possibilidade de vida. Diante dessas reflexões, podemos agora tentar reescrever o dito popular que compara a docência a um sacerdócio. Provocativamente, sugiro que a frase seja (re)significada como: a carreira docente deve ser exercida por pessoas desprendidas de interesses próprios, abnegadas, dispostas ao sacrifício de si mesmas em nome do saber que professam. Isso mesmo, o professor não é um trabalhador como outro qualquer! Se, por um lado, o sustento material não lhe é favorável, o privilégio de ser escolhido não tem preço... Em que grau a desvalorização do profissional docente se deve a essa compreensão equivocada de nossa missão? Difícil precisar. Mas é outra compreensão derivada das mesmas reflexões que nos interessa no presente artigo. O professor (profateri) é aquele que sabe, que conhece. É isso que lhe dá a prerrogativa de ensinar / professar: saber algo que o outro não sabe. Sobre essa premissa se assenta todo sistema educacional (brasileiro e de todas as partes do mundo de que tenho conhecimento). O docente domina o conteúdo da disciplina que leciona – a “matéria" propriamente dita. O professor de Matemática conhece equações e teoremas matemáticos; o de Português, as normas do padrão culto do idioma; o de Química, as substâncias e suas reações, e assim por diante. Egresso de um curso de licenciatura ou encaminhado ao magistério por contingências do mercado de trabalho, o docente entende ser atribuição básica de sua função a transmissão do conhecimento que detém sobre a “matéria”. Essa transferência de conteúdos, alvo do planejamento de todas as esferas nas quais a atividade docente está inserida - da coordenação pedagógica e da direção de escola às diretrizes governamentais e toda a extensa legislação educacional - constitui o sentido da relação entre professores e alunos. Perseguindo esse intuito, cada professor desenvolve, a partir de sua formação e experiência, estratégias para que o conteúdo seja apreendido pelos alunos da forma mais eficiente possível (o que será avaliado periodicamente por meio de exames). Na relação pedagógica, cabe ao professor, portanto, ocupar o papel de ser AQUELE QUE SABE. Que sabe sempre, e sabe tudo, caso contrário será um professor deficiente. E cabe o papel de ser aquele que pode (e sabe como) transmitir seu saber. É isso que faz um professor: saber algo e transmiti-lo a alguém que não sabe. Esse sujeito que NÃO SABE é o aluno. O outro lado de uma relação entre saídas de