Conte-nos como foi sua experiência como flautista solista na Orquestra Sinfônica Brasileira, função que ocupou por 19 anos.
Este trabalho com a OSB constitui-se numa verdadeira escola de música para mim; pude ampliar os horizontes flautísticos conhecendo repertório muito abrangente tanto orquestral como camerístico pois tive a oportunidade de desenvolver importante trabalho também na Música de Câmara ao lado dos maiores músicas da época como Noel Devos e José Botelho, colegas da OSB e com os quais formei o Trio de Sopros Norton, Botelho e Devos. Além disso, mantive um Duo com um dos maiores violonistas brasileiros, Sérgio Abreu atuando também em Duo com Homero Magalhães, Laís de Souza Brasil, Helena Jank, Glacy Antunes de Oliveira, para citar alguns.
O senhor atuou em concertos em duo com Jean-Pierre Rampal, o maior flautista do Mundo. Conte-nos como foi tocar com Jean Pierre Rampal?
Conheci Jean Pierre Rampal em 1980 quando ele solou com a OSB; ao me ouvir tocar alguns solos, Rampal logo virou-se demonstrando satisfação do que ouvia e convidou-me para um encontro no camarim após o ensaio; neste momento, surgiu uma grande amizade e a proposta de fazermos juntos, no ano seguinte com a OSB, o Concerto para duas flautas de Cimarosa. A partir daí outras oportunidades surgiram com grande sucesso: Rampal, como solista e tocando comigo em Duo e sob minha regência, lançou, em São Paulo, a Orquestra de Câmara de Blumenau que eu tinha recém-criado e que viria a tornar-se em referência de qualidade na Música Brasileira. Esta parceria repetiu-se até os anos noventa em Recitais de Trios Sonatas com a cravista Helena Jank e também várias vezes com a OSB.
Há alguma lembrança saudosa em suas performances como flautista e como regente?
Como flautista, além dos duos com Rampal guardo a preciosa lembrança dos memoráveis concertos com o grande Maestro alemão Karl Richter, maior autoridade em Bach, com quem tive a oportunidade de tocar como solista nos Festivais Bach do Rio de Janeiro. Devo também lembrar de importantes convites que recebi, por exemplo, de Kurt Masur para integrar a Orquestra Gewandhaus de Leipzig e de Mstisláv Rostropóvitch para participar da Orquestra Sinfônica de Washington, quando lá assumiu a titularidade.
Quais são as suas peças/concertos favoritos?
É tão vasto o repertório para flauta em diversos estilos e épocas o que torna difícil enumerar preferências, mas é claro que Bach e Mozart são, para mim, como pérolas na literatura. O que então dizer da nossa Música Brasileira a qual sempre tive a preocupação em executar e divulgar?
Em sua opinião, o que torna um flautista grandioso?
Primeiramente sua musicalidade acompanhada da busca de uma sonoridade aliada à técnica e à preocupação estilística o que, certamente, é fruto de muito estudo, obstinação e disciplina.
O senhor lançou muitos LPs e CDs, inclusive recentemente lançou um CD inteiramente dedicado ao compositor Radamés Gnattali. O que guiou a sua seleção de repertório em suas gravações?
Note-se que nos meus aproximadamente 40 discos gravados e dezenas de vídeos sempre há a preocupação de divulgar a produção de nossos compositores brasileiros; tive a honra e a felicidade de conviver com muitos deles, como Radamés, Guerra Peixe, Mignone, Waldemar Henrique, Henrique de Curitiba, Santoro, Guarnieri, Edino Krieger, José Siqueira entre tantos outros; tive a oportunidade de fazer estreias e ou gravações de obras primorosas como flautista e como regente.
Qual é o próximo passo em sua carreira? Há novos projetos em mente, como a gravação de um novo CD?
Continuo a querer gravar/registrar obras de compositores brasileiros não só os consagrados como também novos talentos que vão surgindo. Atualmente, com minha Orquestra, a Sinfonia Brasil, tenho realizado inúmeros projetos através de Leis de Incentivo à Cultura o que vem possibilitando a continuidade deste trabalho.
Que tipo de conselho o senhor daria para os jovens estudantes de Flauta?
Estudar, estudar, estudar, ouvir, ouvir, ouvir...
Estudantes de Flauta/Setembro 2019
UMA CONVERSA COM Norton Morozowicz