Revista Educar FCE EDUCAR FCE 6ED VOL1 - 23-06-207 | Page 91

p. 23), não há uma única maneira de se escrever a História e a tarefa do estudioso da História, é saber como capturar o todo, que corresponderia ao real, determinando de múltiplos modos o momento histórico, apreendendo nas profundezas, o que designam como sua essência.
Em relação à temporalidade histórica, o conhecimento histórico se distingue de outros tipos de conhecimento pela perspectiva da temporalidade. O tempo histórico não se limita ao tempo cronológico, à sucessão linear dos acontecimentos no tempo físico. O tempo histórico é produto das ações, relações e formas de pensar dos homens e essas ações variam ao longo do tempo cronológico. Em cada tempo histórico coexistem relações de continuidade e de rupturas com o passado, bem como perspectivas diferenciadas do futuro.
Neste viés, os contos de fadas podem ser vistos como fontes históricas que nos permitem entender histórias coletivas. São realidades que foram contadas a partir de estórias que procuravam alertar sobre os perigos da vida real e a necessidade de se suportar um destino difícil, as quais foram sendo modificadas conforme a necessidade da sociedade em determinado momento histórico.
Podemos analisar a sociedade do período absolutista. Em outras palavras a sociedade que se formou na Europa durante a Idade Moderna constituiu um modelo complexo e específico de organização social, econômica e política. Longe, portanto de representar uma simples transição entre dois sistemas, ou seja, a transição do feudalismo para o capitalismo. Após a Revolução Francesa de 1789, contudo, ela passaria a ser chamada de Antigo Regime. As duas denominações – Antigo Regime e sociedade moderna – parecem contraditórias. Na verdade elas expõem as inúmeras contradições que conviviam no interior dessa sociedade.
Por meio dos contos de fadas podemos conhecer a estrutura social dos reinos onde prevalecia a monarquia absolutista, composta por camponeses, artesãos, comerciantes e burgueses.
LE GOFF( 1985, p. 15) em seu livro“ O maravilhoso e o cotidiano no Ocidente Medieval”, fala sobre os Tempos Breves e tempos Longos. O Tempo Breve é entendido por um nascimento ou uma morte, sendo o tempo de alguma coisa que tem um início e um fim. Já os tempos longos, os tempos das estruturas, apesar de as estruturas também se modificarem, não podem em contrapartida ser definidos com nascimentos e mortes. Na história moderna( 1453 a 1789), o predomínio dos tempos longos reporta-nos à característica de uma sociedade estamental, sem mobilidade social e no caso da Francesa, clero e nobreza possuíam diversos privilégios, enquanto os outros grupos sociais sustentavam os privilégios dos outros estamentos.
Tal momento pode ser conhecido, problematizando os contos de fadas, tomando-os documentos que possibilitam a investigação de determinado contexto histórico.
ABRIL | 2017
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