Revista Educar FCE EDUCAR FCE 6ED VOL1 - 23-06-207 | Page 143
páginas mais difíceis de sua
vida, pode acionar os registros
traumáticos mais obscuros
do sujeito.
A LEITURA COMO UM DIREITO BÁSICO
Para o sociólogo e obra de difícil entendimento, assim o meu caos interior.
crítico literário Antônio Cândido pode sugerir um modelo de Independente do meio onde
(1988), a literatura ter de ser superação do caos. Na medida vivemos, precisamos de
vista como um direito básico em que tira as palavras do representações, de figurações
do ser humano. Em geral, nada e as dispõe como todo simbólicas que nos tirem
pensa-se na literatura como articulado. Essa organização do caos interior. Através de
instrumento transmissor de da palavra fala com o espírito uma expressão exterior, nos
conhecimento, como um tipo e o leva a organizar a si e ao instalamos em nós mesmos.
de instrução. Contudo, o efeito mundo.
das manifestações literárias é
Estamos sempre neste artigo superestimar a
devido também à maneira pela em busca de ecos confusos, capacidade da leitura como
qual a mensagem é construída. que às vezes são revelados atividade suficiente para
O significando de uma obra explicitamente pela leitura. fornecer representações que
literária é construído dentro Toda obra literária pressupõe nos restabeleçam. É claro que
de um aspecto estrutural. É a superação do caos, escolhida também necessitamos de
esse objeto construído, essa por um arranjo de palavras, vínculos sociais e de outras
estrutura gerada pela força a partir de uma proposta de práticas culturais que saciem
da palavra, proposta dentro sentido. O conteúdo só essa busca pela expressão.
de um modelo de coerência, atua por causa da forma, que Mas também não se pode
que humaniza o leitor. Essa traz em si uma capacidade negar que há, na leitura,
organização de construção de humanização devido à um acesso a espaços mais
dentro da obra literária é coerência mental sugerida. O amplos. Há a promessa de
que nos deixa mais capazes produtor escolhe uma forma alargamento desses espaços,
de, organizar nossa mente e a partir de um material bruto de viajar sem sair do lugar,
sentimentos nossa visão de e é esse caos originário que de se abrir para o que está
mundo. Neste sentido, uma se torna ordem, ordenando distante, o novo. Deve ser
ABRIL | 2017
Não se pretende
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