Revista de Medicina Desportiva Novembro 2020 Novembro 2020 | Page 19

Lesões e tempo frio
Alimentação , hidratação e suplementação

Lesões e tempo frio

Dr . Henrique Jones Ortopedia . Clínica Ortopédica do Montijo , Hospital da Luz Setúbal . Past-President da SPAT e da ESMA , Past Vice-presidente do Comité Médico da UEFA
As condições atmosféricas , juntamente com o equipamento desportivo , o planeamento do treino , as condições das instalações desportivas , o estilo de vida e a especificidade da atividade desportiva e modalidade praticada fazem parte dos fatores de risco extrínsecos da lesão desportiva .
Com efeito , sabemos que as baixas temperaturas contribuem para um maior número de lesões . O Comité Olímpico Internacional ( IOC ) e a Federação Internacional de Ski ( FIS ) adotaram a estratégia de desaconselhar competição com temperaturas inferiores a -27 ° C . A União Europeia de Futebol Association ( UEFA ) propõe o adiamento das competições se a temperatura for igual ou inferior a -15 ° C , a não ser que as equipas envolvidas e o árbitro concordem em competir .
O impacto fisiológico e metabólico do exercício a baixas temperaturas poderá ser intenso . O organismo necessita de produzir energia extra para manter um desempenho desportivo e ao mesmo tempo manter a temperatura corporal adequada . A simples compreensão deste fenómeno implica uma instalação mais precoce da fadiga e , consequentemente , a possibilidade de maior número de lesões , sobretudo musculares . A hipotermia (< 35 ° C ) e a vasoconstrição periférica são fatores comuns a lesões , sobretudo cutâneas , muitas vezes severas ( -27 ° C ).
Também o risco de lesão muscular , ou outro tipo de lesões musculoesqueléticas , aumenta
em condições de baixas temperaturas ( abaixo de 0 ° C ). Com efeito , o número de lesões por trauma direto ( quedas ) ou feridas abrasivas e queimaduras tem maior incidência em condições climáticas da adversas , como as baixas temperaturas .
No que concerne às lesões musculares , são efetivamente mais frequentes em baixas temperaturas e é importante perceber as causas implicadas no sentido de estratégias de prevenção . O principal fator é a impreparação muscular para a participação num treino , ou competição , nas referidas condições . A manutenção do aquecimento corporal e muscular é fundamental no sentido de manter condições vasculares no músculo que permitam o desempenho desportivo . A manutenção de exercícios de preparação muscular permite condições de nutrição e vascularização que minimizam o risco de lesão muscular . A lesão surge sobretudo quando o movimento se inicia subitamente em condições em que a vasoconstrição e a isquemia muscular podem estar presentes . A ativação neuromuscular permanente é o segredo para manter circulação e temperatura nos membros , contrariando a tendência do organismo de resguardar o calor interno homeostático .
Em conclusão , no que se refere a lesões desportivas em baixas temperaturas , mais do que a importância da temperatura exterior , é o aquecimento muscular deficiente ( além do equipamento adequado ), o principal fator a merecer atenção nas estratégias de prevenção de lesões nestas condições particulares .
Bibliografia
1 . Sallis R . Chassay C . M . Recognizing and treating common cold-induced injury in outdoor sports . Med Sci Sports Exerc . 1999 ; 31 ( 10 ): 1367-1373 .
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3 . Keller , Cary S . Guidelines for Competition in the Cold . NFHS High School Today . July 28 , 2014
4 . Castellani J . W , Young A . J , Ducharme M . B , Giesbrecht G . G , Glickman E , Sallis R . E . American College of Sports Medicine position stand : prevention of cold injuries during exercise . Med Sci Sports Exerc . 2006 ; 38 ( 11 ): 2012-2029 .

Alimentação , hidratação e suplementação

Dr . Elton Gonçalves Nutricionista . Rio Ave F C .
Com a chegada dos meses mais frios de inverno são esperadas condições climáticas mais adversas à prática desportiva , como aumento da precipitação , vento , humidade relativa e redução da temperatura média . Estas e outras características dos meses mais frios têm consequências no quotidiano dos atletas . Desde a menor exposição solar , provavelmente menor atividade física , um maior número de eventos festivos e sociais , e claro , uma maior prevalência de doenças infeciosas respiratórias . No entanto , as necessidades nutricionais são estáveis ao longo de todo o ano e não existem recomendações nutricionais específicas para os meses de inverno , quer para a população em geral , quer para atletas . Existe , sim , reforço das recomendações ou , se necessário , efetuar ajustes em função da situação vivida pelo atleta .
Na alimentação :
1 . Ajustar a ingestão energética em função do plano de treinos , eventos competitivos e períodos de pausa do atleta , fulcral para manter uma composição corporal otimizada ;
2 . Reforçar a importância das frutas e vegetais , fornecedores por excelência de micronutrientes essenciais , uma vez que podem ser menos apelativos nos períodos de temperaturas mais baixas ;
3 . Aproveitar a sazonalidade dos alimentos , onde existem alimentos nutricionalmente mais ricos e , eventualmente , com menor pegada ecológica ;
4 . Minimizar o consumo de alimentos hipercalóricos e bebidas alcoólicas , tipicamente mais disponíveis durante as épocas festivas .
Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2020 · 17