Revista de Medicina Desportiva Novembro 2020 Novembro 2020 | Page 10

A radiografia do ombro é um exame barato e que confirma ou não a luxação , assim como poderá dar indicação sobre a existência de fraturas associadas . 2 Numa revisão da literatura , publicada em 2019 , refere-se que de um modo geral não há necessidade da radiografia , a menos que umas de três situações exista : idade superior a 40 anos ; primeiro episódio de luxação e mecanismo traumático . 22 Optou- -se pela ressonância magnética , pois é importante para o estudo dos tecidos moles , como seja a lesão do labrum , rotura do tendão do músculo subescapular , nervo axilar ou cápsula articular 2 e é bastante sensível para o diagnóstico das lesões de Bankart e de Hill-Sachs . 14
Existe controvérsia sobre o melhor tratamento para LAO que ocorre em plena época desportiva . 17 Após o 1 º episódio , a maioria dos pacientes é tratada de modo conservador com redução fechada e imobilização em rotação interna por 2-3 semanas 6 ou 1-3 semanas 2 , 17 , apesar do risco de recorrência da LAO ser significativamente superior ao tratamento cirúrgico em pessoas com menos de 30 anos de idade quando são tratadas de modo conservador . 20 As taxas de recorrência indicadas nos vários estudos variam entre 28,7 % e 70 % 2 , sendo tanto maior quanto mais jovem for o paciente : 68 % se < 20 anos de idade , 54 % se < 30 anos e 12 % se > 30 anos de idade , num estudo de seguimento durante 1 a 9 anos ( média = 4,5 anos ). 10
A rotura do labrum indica a existência de lesão de Bankart , a qual ocorre com bastante frequência nas LAO ( 73 % dos casos 14 ), e seria mais um elemento a favorecer a indicação de cirurgia imediata .
Uma meta-análise sueca , com follow-up de 10 anos , indicou uma taxa de recorrência igual a 48 % ( n = 118 ), dos quais 28 % vieram a precisar de cirurgia . 15 Também neste estudo , verificou-se que nos ombros que tiveram pelo menos dois episódios de recorrências nos primeiros dois ou cinco anos não tiveram necessidade de cirurgia no final dos 10 anos de seguimento . 15 O sexo masculino , a hiperlaxidão da cápsula articular , níveis elevados de atividade física , dor aumentada , deformidades da cabeça do úmero e níveis elevados de medo de recorrência estão também associados a risco elevado . 2 , 15 , 16 , 18 , 23 Vermeiren , J . et al , verificaram em 154 luxações traumáticas que os jovens pacientes que não tinham uma pequena fratura associada tiveram risco elevado de recorrência 10 , o que não era o caso deste jogador . A perda óssea relevante , a instabilidade recorrente e a lesão em final de época poderão motivar a realização imediata da cirurgia . 7
O estudo realizado ao longo de 10 anos ( n = 76 ; 15-39 anos de idade ) encontrou , dois anos após o primeiro episódio de LAO , a taxa de recorrência de 54 % com o tratamento conservador e de 3 % nos sujeitos operados . 24 Noutro estudo , realizado em 58 jogadores de futebol americano , verificou-se que 98,7 % voltaram a jogar pelo menos durante um ano sem novo episódio de LAO e apenas um teve de deixar de jogar por instabilidade recorrente . 25 Kirkley A et al referem que a artroscopia dá mais confiança ao paciente e um retorno mais rápido à atividade 19 , assim como é desejável nos sujeitos entre os 21 e 30 anos de idade , que sofreram luxação traumática e que estejam envolvidos em desportos de risco elevado .
Este paciente é um jogador de futebol profissional , a jogar com muita regularidade na equipa principal e com chamadas frequentes à seleção nacional . Após a LAO houve aconselhamento de um cirurgião ortopédico , o qual sugeriu o tratamento conservador em primeira instância . O jogador foi informado das possibilidades terapêuticas , dos riscos de recorrência em cada uma delas ( bastante menor com tratamento não cirúrgico ) e do tempo necessário para o RTP ( 2-3 semanas vs . 4-6 meses , respetivamente para o tratamento conservador e para o cirúrgico ). O tratamento cirúrgico colocá-lo-ia fora de competição para o resto da época competitiva , o que não estava de acordo com a motivação do jogador . 17 Por outro lado , a análise de 221 LAO consecutivas que foram operadas revelou que ( apenas ) 80 % dos sujeitos voltaram ao nível competitivo existente antes da lesão 9 , ao passo que ( apenas ) 72 % dos doentes operados tiveram resultados bons ou excelentes ao fim de
10 anos de seguimento . 24 Foi também informado que , a optar-se pela abordagem conservadora , e no caso de recorrência , a intervenção cirúrgica teria de ser então considerada . Contudo , a possibilidade de estabilização do ombro mesmo após um ou dois episódios de LAO é , de algum modo , tranquilizador . 9 O jogador aceitou o risco de recorrência e optou-se por não realizar a cirurgia .
Habitualmente após a redução da luxação a imobilização é feita com o ombro em rotação interna . 2 Da análise de 734 pacientes tratados com imobilização , não foi possível constatar a vantagem da imobilização em rotação externa em relação à interna 6 , assim como o risco de recorrência não é influenciado pelo tipo de imobilização . A simples suspensão do braço até que o paciente se sinta confortável sem ela revelou resultados semelhantes aos obtidos com a imobilização tradicional , mais prolongada . 15
Numa meta-análise sueca , com follow-up de 10 anos , verificou-se que a taxa de recorrência era igual a 52 % e a imobilização por mais de uma semana após a LAO não melhorou o risco de recorrência 26 , mas os que não usaram a suspensão braquial tiveram maior taxa de recorrência ( OR = 0.38 ). 23 Por outro lado , estudos com imobilização em rotação externa revelaram resultados ligeiramente superiores em relação à rotação interna 20 ( taxa de recorrência igual a 25 % vs 40 % 26 ), em doentes entre os 20 e os 40 anos de idade 27 , mas também há estudos que não apoiam a superioridade da rotação externa . A rotação externa do ombro , por outro lado , é uma posição desconfortável e certamente colocará dificuldades na vida quotidiana . Por outro lado , a rotura no músculo subescapular , quando diagnosticada pela ressonância magnética , contraindica a imobilização em rotação externa . 6
É consensual que o RTP deve ocorrer após o atleta estar sem dor , tenha níveis de força semelhantes nos dois lados , especialmente com recuperação da força dos músculos da coifa dos rotadores , e amplitude articular adequada para a prática desportiva específica 2 , 7 , 18 , 20 , 28 e , habitualmente , ocorre entre 2 a 3 semanas com o tratamento conservador 7 , 17 , 18 ,
8 novembro 2020 www . revdesportiva . pt