Revista de Medicina Desportiva Novembro 2020 Novembro 2020 | Page 9

menores taxas de recorrência 20 , mas obriga a maior tempo de paragem até ao Return to play ( RTP ), cerca de 4 a 6 meses 4 , durante os quais existem várias fases : 1 – imobilização durante quatro semanas com contrações isométricas ; 2 – mobilização ativa do ombro até 45 graus de rotação externa durante mais 4 semanas ; 3 – mobilização ativa do ombro em toda a amplitude articular , com treino de resistência e de pliometria , e também da propriocetividade . A análise de revisões sistemáticas e de estudos controlados , randomizados , realizados até abril de 2019 verificou que a maioria dos estudos apontou para a realização precoce da cirurgia nos sujeitos entre os 21 e os 30 anos de idade após o primeiro episódio de luxação . 16
História clínica
Tratava-se de um jogador de futebol profissional , de 25 anos de idade , que sofreu queda sobre o ombro esquerdo durante um jogo de futebol . A observação da equipa médica no campo encontrou o jogador com dores no ombro e a protegê-lo , evitando qualquer movimento . A palpação do ombro permitiu constatar a ausência da cabeça do úmero na sua localização habitual . O jogador foi informado do diagnóstico e foi-lhe perguntado se a redução poderia ser feita de imediato . Com o seu consentimento foi feita a redução : com o jogador ajoelhado foi feita tração longitudinal do braço , associada a pequenos movimentos de rotação .
Após a redução o jogador sentiu-se bem e insistiu em continuar a jogar . Foi-lhe fornecida analgesia oral e reforçada no intervalo . Acabou por ser substituído durante a 2 ª parte do jogo por opção técnica , embora a ocorrência clínica tenha tido alguma influência .
Após o jogo foi aconselhada a analgesia e apenas a suspensão braquial , que manteve durante uma semana .
Realizou RMN no dia seguinte , a qual revelou “ Lesão extensa do labrum anterior desde a 1 até às 6 horas , com rotura associada do labrum póstero-inferior ... contorno da cabeça umeral normal ... integridade dos tendões da coifa dos rotadores ”.
Iniciou tratamento de fisioterapia ao 2 º dia após a lesão e iniciou o trabalho de ginásio ( bicicleta e marcha em tapete ) quatro dias depois ; ao oitavo dia foram introduzidos exercícios específicos para a cintura escapular e exercícios de propriocetividade em amplitudes não dolorosas ; manteve treino cardiovascular , também com a elítica . Iniciou o treino de força para os membros inferiores . Ao 12 º dia iniciou treino de impacto sem dor e ao 14 º iniciou treino individual no campo , mantendo os exercícios para o ombro . Ao 15 º dia fez avaliação no campo , ao 16 º começou a integrar o treino com a equipa e ao 19 º dia realizou o primeiro jogo oficial , tendo jogado 90 minutos . Onze meses após a LAO , este jogador mantém a atividade competitiva , sem queixas ou limitações .
Discussão
A LAO constitui uma urgência , cuja redução imediata , atempada deve ser considerada 5 , para minimizar as consequências negativas , pois , de acordo Hovelius , L . et al , existe risco elevado de redução instável se a redução não ocorrer nas primeiras 24 horas . 15 A redução precoce minimiza o espasmo muscular e diminui a possibilidade de agressão neurovascular no momento da redução . 21
Existem mais de 20 técnicas de redução da LAO 2 , mas não existe evidência sobre o melhor método . 20 É consensual que deve ser usada aquela em que o operador tenha mais experiência e se sinta confortável na sua realização , assim como na capacidade de o paciente manter o ombro na posição adequada 1 , 20 , e proporcionando o necessário relaxamento muscular . No nosso caso , foi decidida a redução imediata para alívio sintomático , com consentimento do jogador , aproveitando- -se a ausência ainda de contratura reativa , e foi utilizada a técnica descrita por nos parecer também a mais adequada naquele contexto . A continuação em jogo é algo que motiva grande discussão e colhe muitos opositores . Mais uma vez , no contexto da LAO , a ausência de incapacidade e de dor , a importância e a vontade expressa do jogador em continuar em campo motivaram a continuação da atividade .
Após o final do jogo foi utilizada a suspensão braquial , para conforto e analgesia , tendo-se evitado a imobilização total do ombro .
Figura 1 – Imagem de RM , plano axial , T2 *. Lesão de Bankart : avulsão do labrum ântero-inferior ( setas ).
Figura 2 - Imagem de RM , plano sagital , DP FS . Lesão de Bankart : avulsão do labrum ântero-inferior do rebordo glenoideu ( setas ).
Figura 3 - Imagem de RM , plano axial , DP FS . Lesão de Bankart : avulsão do labrum ântero-inferior ( setas ).
Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2020 · 7