Revista de Medicina Desportiva Nov. 2021 | Page 22

consequências a longo prazo de jet lag frequente : défices cognitivos , depressão , maior incidência de alterações de humor , aumento do risco de cancro , infertilidade , doença cardiovascular e atrofia cerebral . 26
Outro fator a ter em conta , e que poderá afetar o desempenho ideal , é a variabilidade individual ou cronotipo 27 : alguns atletas podem ser do tipo ‘ cotovia ’ ( aqueles cujo circadiano é ligeiramente mais curto que 24h com tendência a avançar ), do tipo ‘ mocho ’ ( aqueles mais facilmente ajustáveis por atraso ) ou do tipo ‘ intermédio ’.
O atleta , cuja performance está intrinsecamente afetada por muitas alterações nos índices de sono , torna-se um caso de estudo interessante para todos os envolvidos na área desportiva , e não só . Múltiplos estudos têm sido realizados e na Tabela 1 encontram-se alguns exemplos . Os dados indicam que durações mais longas do sono durante a competição foram acompanhadas de melhores classificações no torneio , não havendo qualquer diferença entre sexos . 28 Foi também demonstrado que alterações no ambiente de treino afetou o sono nos atletas , devendo ser tomadas as medidas adequadas com vista à mitigação destes potenciais influenciadores de desempenho .
Diagnóstico
Vários métodos subjetivos e objetivos têm sido usados para medir o sono na população geral . 28 Embora todos estes métodos sejam utilizados como medidas para a investigação do sono , nem sempre são passíveis de reprodução no contexto do atleta . 28
A polissonografia é considerada o gold standard da avaliação objetiva do sono em atletas . 29 Este método é usado para diagnosticar e avaliar o tratamento das doenças do sono e fornece a mais rigorosa avaliação dos estádios do sono e da sua fisiologia . 30
A actigrafia ( fgura 2 ) por ser um método mais prático e versátil , torna o estudo do sono no atleta um processo mais exequível . Avalia objetivamente o sono e é um método geralmente aceite na literatura . 31 Um artigo de revisão demonstrou concordância de 91-93 % entre a polissonografia e a actigrafia em adultos saudáveis e de idades compreendidas entre os 20 e os 30 anos . 32
Os questionários e diários de sono têm sido usados para avaliar mutualmente a qualidade e quantidade do sono 33 , oferecendo a perceção do participante do tempo na cama acordado e a qualidade do sono ( tabela 2 ). De acordo com um estudo realizado em 63 atletas masculinos profissionais de râguebi , o sono foi sobrestimado por uma média de 19,8 minutos , tornando o uso de medidas subjetivas de medição do sono aceitável quando a medição objetiva não pode ser efetuada . 33 Os questionários PSQI e ESS têm sido utilizados com frequência na investigação do sono . 28 Todavia , foi sugerido que estes questionários poderiam não ser sensíveis o suficiente para determinar os desafios únicos e diferenças nos hábitos de sono de um atleta . 34 Baseado nestas
Figura 2 – Actigrafia ( https :// doctorferre . com / pruebas-del-sueno / actigrafia /) dificuldades , surgiram o ASSQ e o ASBQ . O ASBQ é uma ferramenta mais prática que consiste num questionário com 18 itens e que pode ser usada por treinadores e equipa médica com a finalidade de identificação de comportamentos mal adaptativos da higiene do sono . 34
Estratégias de adaptação
Atualmente , o ajuste do circadiano é algo com que muitos atletas se preocupam . Com o aprofundar dos estudos , novas estratégias foram surgindo para adaptações mais rápidas a dessincronizações do circadiano . A chave reside na educação dos atletas , reforçando a importância de bons hábitos e higiene no sono ( tabela 3 ).
A decisão de tentar a adaptação ou não à hora local depende da duração da viagem . 16 Para viagens pequenas ( 1 ou 2 dias ) não é recomendado que se tente a adaptação 35 , já que o prazo é demasiado curto para se alcançar a adaptação completa pelos métodos convencionais e qualquer tentativa poderá ter um efeito adverso , piorando a situação . 16 É sim recomendado que o atleta tente manter-se no seu fuso horário normal e que agende os eventos importantes a horas em que os níveis de alerta e performance sejam máximos . 16 Todavia , em competições importantes , devido à pressão dos media , é raramente possível ajustar as horas do evento de forma a servir os interesses do atleta . 16 Para viagens mais longas (> 4-5 dias ) podem ser designadas estratégias que visam apoiar a adaptação após a chegada ou , por outro lado , estas podem já ter sido implementadas antes da viagem . 16 Teoricamente as estratégias baseiam-se no reforço dos zeitgebers , procurando uma mais rápida sincronização do circadiano ao fuso horário local . 16
Tabela 2 – Questionários de Sono Doenças do Sono SAOS Síndrome das Pernas Inquietas Insónia Doença do Ritmo Circadiano
( Adaptação de Malhotra R ., 2017 )
Questionários STOP-Bang , Questionário de Berlim IRLSSG Criteria Insomnia Severity Index
Questionário de Horne-Ostberg , Questionário Morningness-Eveningness
Exercício e dieta
Apesar da pesquisa efetuada neste campo não ser conclusiva , acredita- -se que a atividade física poderá afetar o circadiano . 36 O ajuste do horário dos exercícios de forma a coincidir com o pico do circadiano
20 novembro 2021 www . revdesportiva . pt