Revista de Medicina Desportiva Nov. 2021 | Page 21

sua vez , atuam na inibição da expressão de BMAL1 / CLOCK bloqueando a sua própria expressão num loop negativo de feedback . Apenas quando a expressão de genes inibidores desce abaixo do nível limite , a expressão de “ genes relógio ” positivos é reativada . 16 Este padrão de onda sinusoidal , resultante da coordenada subida e queda de “ genes relógio ”, permite o controlo de processos jusante , resultando em efeitos fisiológicos específicos a horas específicas do ciclo sono-vigília . 17
Figura 1 – Regulação molecular do relógio circadiano
A informação obtida do exterior , também denominada na literatura como zeitgeber , é processada centralmente e enviada para outros relógios periféricos presentes em tecidos e / ou células . 16 O zeitgeber mais importante é a luz solar ; outros zeitgebergs menos importantes incluem dieta , exercício , sono e tratamentos hormonais . 17
A temperatura corporal é considerada o principal marcador biológico do ritmo do circadiano . Regulada por um grupo de células na porção anterior do hipotálamo , esta assume algumas características básicas : um mínimo pela manhã por volta das 4h e começa a aumentar até atingir a sua acrofase por volta das 18h . 9 Diversos autores sugerem que a capacidade de desempenho está intimamente relacionada com a hora em que a temperatura corporal atinge o seu pico . 18 O aumento da temperatura ao fim da tarde tem sido ligado ao aumento na coordenação , menor tempo de reação , aumento da força muscular e flexibilidade das articulações e eficiência cardiovascular . 19
Outros marcadores também influenciados pelos ritmos biológicos incluem a melatonina e o cortisol plasmático . A melatonina é uma hormona secretada , em condições normais , entre as 21 e as 7h pela glândula pineal . 9 Durante o dia a sua atividade é inibida pelo SCN através de neurónios GABAérgicos , enquanto à noite neurónios glutaminérgicos estimulam a libertação . 11 Além de induzir sono , acredita-se que a melatonina seja responsável pelo controlo de alguns dos ritmos circadianos . 20
Distúrbios do ritmo circadiano
Tal como na população geral , as doenças do sono no atleta muitas vezes permanecem por diagnosticar , sendo que aquelas que mais podem afetar a performance do atleta são : síndrome da apneia obstrutiva do sono , insónia , síndrome das pernas inquietas e doenças do ritmo circadiano . 21
O ritmo circadiano controla funções que são essenciais no atleta , como o alerta , a concentração , a força e a coordenação . O maior funcionamento é espectável que aconteça ao início da noite durante os picos do circadiano . As viagens frequentes , muitas das vezes através de múltiplos fusos horários , contribuem para a dessincronização do circadiano do atleta , resultando em jet lag . A gravidade aumenta de acordo com o número de fusos horários ultrapassados , mais de três zonas conduz inevitavelmente ao desenvolvimento desta condição . 22 Os sintomas associados ocorrem enquanto o circadiano tenta adaptar-se . Evolutivamente , este é um processo de ajuste lento , de dias ou semanas e não para ser efetuado de forma abrupta , como depois de uma viagem de avião . 16 Foi estabelecido que para a adaptação satisfatória é necessário um dia por cada hora ultrapassada . As queixas variam individualmente , sendo as principais : a dificuldade em dormir , fadiga durante o dia , perda de apetite e fraca performance . 23 Foi observado que equipas de basebol atuam pior se tiverem que viajar através de fusos horários e jogar , mesmo que esse mesmo jogo aconteça na condição de visitado . 24 Uma vantagem no circadiano também foi descoberta na liga profissional de futebol americano , em que as equipas da Costa Oeste parecem ter vantagem face às equipas da Costa Este , visto que os jogos podem acabar depois da meia noite ( hora da Costa Este ) que é mais tarde que a maioria da hora de deitar dos jogadores da Costa Este . 25 São também descritas
Tabela 1 – Compilação de estudos relacionando sono e exercício físico no atleta
Estudo
Número de sujeitos
Juliff et al 37 42 Netball
Fullagar et al 38 16 Futebol
Desporto e Preparação Física
Protocolo
Competição à noite vs Competição de manhã Competição à noite vs dia de treino
Resultados TTS ES % LS
¯ SR SR
¯ SR ¯ Lastella et al 39 21 Ciclismo Competição vs basal ¯ SS SS
Oda and Shirakawa 40 12 Adultos saudáveis
O ’ Donnell et al 41 11 Netball
O ’ Donnell et al 42 10 Netball
Richmond et al 43 10
Sargent e Roach 44 22
Liga de futebol Australiano Liga de futebol Australiano
Shearer et al 45 28 Râguebi
Exercício de alta intensidade vs Sem exercício Competição à noite vs Noite anterior vs Noite após competição Jogos à noite vs Treino à noite vs Basal
¯ ¯ ¯
¯ SS SS
¯ ¯
NS / –
Jogos à noite vs Basal ¯ SS SS
Jogo à noite vs Jogo de dia Jogo à noite como visitado vs Noite referência
¯ SS SS
¯ SS SS
Legenda : melhoria , – decréscimo , SR : sem relatório , SS : sem significado , ES %: eficiência do sono , LS : latência do sono , TTS : tempo total de sono ( Adaptação de O ´ Donnell et al , 2018 )
Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2021 · 19