Esta entidade também pode ser encontrada em atletas masculinos e em paratletas , com as suas características próprias .
A prevenção primária será suficiente ? Para se conseguir este objetivo seria necessário que as equipas médicas estivessem conscientes do problema , o que não se verifica por enquanto .
A atenção da equipa que contacta com o atleta deve promover um estado de saúde global do desportista e no caso feminino o médico deve ter informação sobre aparecimento da menarca e a história menstrual . A história alimentar é também muito importante . Estas atletas têm tendência a anorexia e a bulimia , por vezes consciente ou por falta de conhecimento .
Os objetivos demasiado difíceis impostos pelos treinadores são uma peça chave neste problema . Pretende- -se que as necessidades nutricionais impostas pela idade e carga de treino sejam compensadas pela ingestão calórica cuidada e de qualidade , ou seja , a energia despendida deve ser compensada pela alimentação equilibrada e pelos períodos de recuperação adequados . Quando este equilíbrio falha surgem várias patologias , sendo as mais comuns de seguida referidas . No entanto , quase todos os sistemas podem ser afetados por este quadro de deficiência energética .
A baixa percentagem de gordura corporal e o baixo peso vão condicionar as alterações hormonais . Nestas atletas este desequilíbrio causa a diminuição de hormonas , como a leptina , o aumento do cortisol e a alteração no eixo hipotálamo- -hipofisário , levando a diminuição de GnRH ( hormona de libertação das gonadotrofinas ), com consequente redução da libertação dos pulsos de FSH e LH , o que causa diminuição da função folicular e ovulatória , com consequentes baixos níveis de estrogénios e de progesterona . Estas alterações causarão amenorreia hipotalâmica funcional . A diminuição de estrogénios leva a alteração da relação osteoblastos / osteoclastos , resultando em densidade mineral óssea reduzida , que muitas vezes não é reversível , mesmo na vida adulta .
Encontram-se , também , alterações a nível cardiovascular , como
bradicardia , hipotensão arterial e disfunção endotelial . Existem alterações da resposta imunitária , com diminuição da resistência às infecções , sobretudo as do trato respiratório superior . Existem perturbações gastrointestinais , como sejam a obstipação e a diminuição do esvaziamento gástrico . A nível psicológico ocorrem disfunções , como seja a anorexia e a bulimia , assim como depressão e dificuldade em reagir a situações de stress .
O rastreio desta entidade pode ser feito com abordagens mais simples nas consultas de medicina desportiva ou através de inquéritos específicos , como sugere o Comité Olímpico Internacional na publicação RED – S Clinical Assessment Tool ( CAT ), os quais podem ser adaptados à realidade de cada desporto .
Esta entidade estende-se também aos atletas masculinos e paratletas , com as suas características próprias .
Não cabe aqui discutir métodos de tratamento , no entanto , a abordagem terá de ser multidisciplinar e centrar-se , no início , em tratamento não farmacológico e só depois através da prescrição fármacos quando necessários . O mais importante será ter um conhecimento sólido sobre esta temática , levando a estratégias preventivas , diagnóstico precoce e tratamento adequado .
Restante Bibliografia em : www . revdesportiva . pt ( A Revista Online )
Regulação hormonal e risco de lesão na mulher atleta
Dra . Beatriz Cardoso-Marinho Interna de Medicina Desportiva no Centro Medicina Desportiva do Porto ; Federação Portuguesa de Futebol ; Federação Portuguesa Automobilismo e Karting . Porto
O tema da Regulação Hormonal e Risco de Lesão na Mulher Atleta é um tema interessante , embora controverso . Atualmente , apesar da participação feminina desportiva a nível global ter aumentado exponencialmente , não existe nenhuma orientação desenhada especificamente para as atletas sobre a regulação hormonal . No entanto , existem alguns estudos recentes neste âmbito .
Mesmo que entendamos que a saúde menstrual é um indicador- -chave de saúde para a mulher atleta , urge refletir para a mudança cultural de pró-atividade em relação à saúde menstrual , perguntando rotineiramente às atletas durante a consulta de Medicina Desportiva sobre a mesma .
Num estudo recente de Martin et al , em jogadoras internacionais de futebol em Inglaterra , a incidência de lesões foi superior na fase folicular tardia e a probabilidade de lesões musculares e tendinosas ocorreu 88 % na fase folicular tardia . Wojtys et al demonstraram que a laxidão ligamentar da articulação do joelho aumenta em relação direta às elevações nos níveis de estradiol no plasma , o que poderá explicar a alta incidência de risco de lesão nesta fase do ciclo menstrual .
Lefevre et al explicam o risco superior de lesão do ligamento cruzado anterior ( LCA ) durante a fase pré-ovulatória . Assim , um estudo prospetivo randomizado deve ser uma prioridade para pesquisas futuras , dado o impacto físico , psicológico e sócio- -económico da lesão do LCA , mais prevalente em atletas femininas .
Ao longo da pesquisa , uma tendência emergente é a necessidade de individualizar as intervenções , uma vez que a relação entre a regulação hormonal , nível competitivo , risco de lesão e a ingestão nutricional parece variar muito de atleta para atleta .
Snook et al demonstram através de um estudo realizado em mulheres atletas norte-americanas que uma concussão durante a fase lútea resulta numa pontuação inferior no score de avaliação de qualidade de vida . A lesão cerebral funcional poderá afetar a produção de progesterona e , consequentemente , interferir no ciclo menstrual da atleta . Será que devemos reformular e perguntar como a concussão afeta a saúde menstrual ?
Ainda não sabemos o potencial da mulher atleta , porque ainda existem poucos estudos científicos sobre a performance e o desempenho da
Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2021 · 33