crescimento ou a maturação sexual e óssea , e tem benefícios significativos nas componentes da condição física ; a performance correlaciona-se com a maturação e com o crescimento , mas algumas das suas alterações podem aumentar a predisposição para lesões ou causar o afastamento desportivo das jovens atletas .
Identificam-se marcadores de crescimento e de maturação somática ou morfológica , de maturação sexual , óssea e ainda de maturação bioquímica e hormonal e nenhum dos marcadores isolado dá uma descrição completa de qualquer dos estádios de crescimento ou maturação . Assim , avaliamos vários marcadores para obter uma ideia mais completa da maturação global .
Como marcadores de crescimento e maturação somática ou morfológica temos a estatura ( altura ) que poderá ser utilizada para a previsão da altura final , em adulto ; o peso dá-nos escassa informação sobre a composição corporal e deverá ser determinada a percentagem de massa gorda ( MG ) e muscular ; o IMC é uma mera relação entre peso e estatura ; o pico de velocidade de estatura ( PVE ) marca o ponto de velocidade máxima do crescimento na adolescência e geralmente ocorre entre o início da puberdade e a menarca .
Ilustrámos estes marcadores com uma amostra de 1056 atletas dos registos do CMDL , na sua grande maioria de desportos coletivos . No que se refere à estatura , constata-se uma taxa de crescimento sobreponível à da restante população . A discrepância nos valores do peso não é apenas explicada pela assimetria da amostra , onde as atletas muito jovens são mais pesadas e com mais MG do que seria expectável ; as atletas mais velhas têm redução e menor variação do peso nos percentis mais elevados e maior quantidade de massa muscular . Estas atletas têm mais músculo e menos gordura . Outro marcador é o tamanho do coração , que no jovem saudável tem um padrão de crescimento similar ao do peso corporal . Com algumas diferenças , atribuídas ao status hormonal dos jovens , adapta-se tal como o “ coração de atleta ” do adulto . As dimensões cardíacas influenciam a sua eficiência e estão relacionadas com a performance aeróbia , mas
a sua avaliação deverá ser normalizada para a dimensão corporal . Apresentaram-se as curvas de percentis de crescimento de mais de 700 atletas adolescentes com ecocardiogramas normais realizados no CMDL .
Os marcadores de maturação sexual incluem a idade da menarca , que ocorre em média cerca de dois anos após o início da puberdade e o estadiamento da morfologia mamária ( dependente das hormonas gonadais ) e da distribuição dos pelos púbicos ( dependente do eixo suprarrenal ) com a Escala de Tanner .
Detetámos um valor elevado de atletas com maturação mamária tardia e nas mais jovens há uma elevada proporção com maturação púbica precoce , o que poderá refletir o efeito hormonal associado ao aumento da adiposidade .
Outro indicador de maturação é a idade óssea , que indica o crescimento ósseo . É habitualmente determinada através de uma radiografia do punho e mão no plano frontal para avaliar o encerramento das cartilagens de conjugação . Este não é um indicador válido de idade cronológica e por isso não deve ser utilizado para verificação de idade no desporto . Os vários métodos não são comparáveis entre si .
Temos uma elevada quantidade de atletas com maturação óssea precoce , o que poderá refletir os efeitos hormonais da massa gorda no encerramento precoce das cartilagens de conjugação .
Os marcadores bioquímicos e hormonais deverão ser utilizados na avaliação de patologias que possam interferir com o crescimento e ou maturação .
Em conclusão , o crescimento e a maturação não são afetados pela prática desportiva , embora afetem o seu sucesso , nem se iniciam ou terminam nas mesmas idades cronológicas .
RED-S : Será a prevenção primária suficiente ?
Prof . Doutora Maria João Cascais Médica Especialista em Medicina Desportiva e Patologia Clínica . Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Desportiva . Lisboa
A expressão RED-S ( Relative Energy Deficiency in Sport ) indica um estado de deficit / baixa de energia em atletas . Esta condição era referida como tríade da mulher atleta e caracterizada por distúrbios alimentares , amenorreia e osteoporose . Esta expressão é ainda usada em vários trabalhos e foi identificada como tríade nos anos 90 , embora já fosse investigada nos anos 60 / 70 .
Em 1997 , o American College of Sports Medicine ( ACSM ) sinalizou esta síndrome . Em 2007 ficou definida como baixa energia , disfunção menstrual e baixa densidade óssea . Em 2014 , o Comité Olímpico Internacional ( COI ) mudou o nome para RED-S , uma definição mais abrangente com o objetivo de chamar a atenção para os vários órgãos e sistemas que estão perturbados no seu funcionamento . Para além dos já referidos , referem- -se o aparelho reprodutor , o metabolismo ósseo , as alterações endocrinológicas e ainda as repercussões no perfil hematológico e imunológico , assim como no aparelho cardiovascular e digestivo . A definição é consensual : diminuição das funções fisiológicas por deficit relativo de energia , incluindo , mas não limitado , a diminuição da taxa metabólica , da função menstrual , da saúde óssea , da imunidade , da síntese proteica , e saúde cardiovascular . Esta síndrome possui uma componente multiorgão e tem consequência na prestação desportiva das atletas , com diminuição de rendimento , e é causa de lesões frequentes e alterações de comportamento cognitivo e relacionamentos pessoais .
32 novembro 2021 www . revdesportiva . pt