Revista de Medicina Desportiva Janeiro 2022 | Page 8

Caso clínico

Rev . Medicina Desportiva informa , 2022 ; 13 ( 1 ): 6-9 . https :// doi . org / 10.23911 / Tendinopatias _ 2022 _ jan

Uma Nova Etapa que se Junta no Tratamento de Tendinopatias ?

A propósito de um Caso Clínico .
Dra . Beatriz Cardoso-Marinho 1 , 4 , 8 , Dra . Sofia Dimitri-Pinheiro 2 , 5 , Dr . João Lixa 3 , 7 , Dr . Joaquim Figueiredo 2 , 7 , Dra . Madalena Pimenta 3 , 6 Médico interno de formação específica em medicina desportiva 1 , radiologia 2 , ortopedia 3 ; Médico especialista em ortopedia 2 , radiologia 3 . Centro de Medicina Desportiva do Porto 4 ; Instituto Português de Oncologia do Porto – Francisco Gentil , E . P . E . 5 ; Faculdade de Medicina , Universidade do Porto 6 ; Centro Hospitalar e Universitário de São João 7 , Universidade da Maia Porto 8 . Portugal
RESUMO / ABSTRACT
O termo Jumper ’ s knee foi classicamente definido como uma lesão crónica do mecanismo extensor da articulação do joelho . A sua etiologia resulta de uma sobrecarga crónica desencadeada por desportos com movimento de salto / pliométricos mediante diferentes predisposições intrínsecas e extrínsecas . O tratamento deve ser escolhido de acordo com o estadio da doença e geralmente opta-se inicialmente por uma abordagem não cirúrgica . Um tratamento proposto para tendinopatia é o brisement ecoguiado . Este procedimento envolve a passagem suave de uma agulha várias vezes pelo tendão anormal para transformar um processo degenerativo crónico numa condição aguda com maior probabilidade de cicatrização . É importante estabelecer um protocolo de reabilitação após a técnica . Os autores fazem uma revisão sucinta da literatura e apresentam o resultado de um caso clínico em que uma atleta foi tratada com recurso a esta técnica .
Jumper ’ s knee has been defined as painful chronic overuse injury of the extensor mechanism of the knee joint . The etiology is a chronic overload which is triggered by jumping / plyometric movements as well as different intrinsic and extrinsic dispositions . Therapy should be chosen according to the stage of the disease and usually starts with a non-surgical approach . A potential treatment for the tendinopathy is the eco-guided brisement . This procedure involves the smooth passage of a needle through the abnormal tendon several times to transform a chronic degenerative process into an acute condition that is more likely to heal . It ’ s important to have a rehabilitation program postbrisement . The authors made a concise review of the literature and present a clinical case which an athlete was treated using this technique .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Joelho do saltador , radiologia de intervenção , andebol , tratamento tendinopatia rotuliano Jumper ’ s knee , intervention radiology , handball , patellar tendinopathy treatment
Introdução
O exercício físico pode incluir movimentos de salto repetitivos , nomeadamente em modalidades como voleibol , andebol , basquetebol , movimentos que representam um desafio mecânico para a articulação do joelho . 1 O termo Jumper ’ s knee foi classicamente definido como uma lesão crónica , de overuse , dolorosa do mecanismo extensor da articulação do joelho , com degeneração a nível celular do tendão . 2
A doença depende da frequência e da intensidade do treino . 1 , 2 A etiologia deste diagnóstico resulta da interação da sobrecarga crónica do mecanismo extensor do joelho desencadeada por desportos com saltos / movimentos pliométricos , com diferentes fatores de risco intrínsecos ( laxidão ligamentar , ângulo Q , altura da rótula , sensibilidade , padrão de desenvolvimento de força ) e extrínsecos ( frequência do treino , nível de desempenho , tipo de superfície do treino ). 2 , 3 O local de patologia mais frequentemente citado é a zona insercional craneal do tendão rotuliano e no seu terço médio no plano axial . 2 , 5 A avaliação histológica do tendão mostrou que a doença apresenta aspetos mais característicos de um processo degenerativo do que inflamatório . 2 , 4 A lesão tendinosa passa por três fases : inflamatória , regeneração fibroblástica e , finalmente , a fase de
5 , 19 , 20 maturação / remodelling .
Os tendões são estruturas incrivelmente complexas capazes de suster ou transferir altas cargas , acima dos 9kN , e com capacidade de adaptação , embora descrita como lenta . 19 , 23 A sua constituição inclui poucas células e muita matriz extracelular ( essencialmente colagénio tipo I e 68 % de água ). 19 O tendão é descrito como uma estrutura avascular e aneural , sendo o paratendão responsável pela alimentação do tendão , podendo apresentar em casos patológicos neovascularização inflamatória .
8 , 16 , 17
Um tecido biológico tem capacidade máxima quando o atleta está capaz de realizar todos os movimentos funcionais com o volume e a intensidade pretendidos e sem sintomas . 28 A história clínica completa do atleta é necessária na avaliação da tendinopatia , pois é importante serem excluídas outras patologias que cursam com dor anterior no joelho . 21 , 23 , 24 A história clínica deve dar resposta a questões tais como : resposta do tendão à carga , localização da dor , que condições / gestão causou o início da dor e como o atleta atualmente responde a carga nos treinos . 23 , 24 Os sinais de alarme , como dor noturna , sintomas de cauda equina , perda de peso , sintomas sistémicos ou sintomas neurológicos em dermátomos devem ser tidos em conta . 23
Na maioria dos casos , o exame clínico mostra uma articulação não suspeita , com sensibilidade na rótula e inserção distal do tendão na tuberosidade anterior da tíbia . 1 , 23 A ecografia de partes moles do tendão rotuliano revela na maioria das vezes a degeneração das fibras profundas do tendão ou edema . 1 , 29 A ressonância magnética revela os achados de tendinopatia inflamatória e degenerescência do tendão , e roturas tendinosas , permitindo a exclusão de patologias concomitantes , como condropatia patelar e conflito femoropatelar . 1 , 2
Perante a tendinopatia existe um tecido com bioplasticidade , com numerosas adaptações e más adaptações na restante cadeia cinética . 28
Fatores de risco de tendinopatias
Os fatores de risco das tendinopatias dividem-se em biomecânicos ,
6 janeiro 2022 www . revdesportiva . pt