Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2018 | Page 28
Physical Activity and Mortality:
the Potential Impact of Sitting
Peter T. Katzmarzyk, Russell R. Pate
Translational Journal of the ACSM, 2017; 2(6):32-33.
Resumo: Dr. Basil Ribeiro
As indicações das Physical
Activity Guidelines for Ame-
ricans publicadas, em 2008,
referem que para a obtenção
de benefícios para a saúde é
necessário realizar 150 minutos
por semana de exercício físico de
intensidade moderada a intensa. É
um número mágico que se aplica a
toda a gente, independentemente
do tempo que permanece sentado
durante o dia. Os autores deste
Comentário vieram acrescentar
informação muito importante e até
de algum modo contestar este valor.
Apoiando-se em estudos publica-
dos, a média dos valores auto-repor-
tados pelos americanos de perma-
nência sentados é igual a 4.7 horas/
dia (2014), considerado-se subes-
timados, pois a avaliação objetiva
através de acelerometria indicou o
valor de 7.7 horas/dia (2008). Para os
australianos foi encontrado o valor
de 8.8 horas/dia (2015). Independente-
mente destes valores, percebe-se que
há tipos de profissões que obrigam
à permanência de sentado durante
muitas horas por dia, mas também
se percebe que depois do emprego
em todas as profissões o tempo de
permanência sentado é elevado.
Os autores quiseram interpretar à
sua maneira os resultados publica-
dos no Lancet em 2016 por Eke-
lund, U. et al, decorrentes de uma
meta-análise (13 estudos), onde
participaram 1005791 pessoas, que
foram seguidas entre 2 e 18 anos, e
se estudou a mortalidade por todas
as causas. Neste período morreram
8.4% das pessoas. Naturalmente,
e de acordo com o conhecimento
comum, o efeito negativo da per-
manência sentado foi atenuado de
modo direto com o aumento dos
níveis de exercício físico. A prática
de exercício físico de intensidade
moderada-intensa durante 60–70
minutos/dia eliminou eficazmente
o risco de morte por todas as
causas. Estes resultados não são
surpreendentes e estão de acordo
com a sabedoria médico-desportiva
Figura 1 – Associação entre os níveis semanais de exercício físico de intensidade
moderada-intensa de acordo com os níveis de permanência sentado (2.5, 16, 30 e 35.5
MET.h.semana -1 correspondem aproximadamente a 5, 25-35, 50-65 e 60-75 minutos de
exercício físico moderado-intenso)
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corrente. Mas os autores quiseram
saber mais e interrogaram-se se
os níveis de sedentarismo influen-
ciariam a relação entre prática de
exercício físico e a mortalidade, ou
seja, se a relação é a mesma nos
sujeitos pertencentes a um grupo
com diferentes horas de permanên-
cia sentado.
A partir dos dados da meta-
-análise de Ekelund, U. et al estes
autores trabalharam os números
de modo diferente e produziram
esta figura/ gráfico. Mais uma vez,
e muito naturalmente foi encon-
trada uma relação entre a prática
de exercício físico de intensidade
moderada-intensa e a mortalidade
por todas as causas, isto é, quanto
maior o volume, menor o risco de
morte. Mas o gráfico, estratificado
pelo número de horas de permanên-
cia sentado, tem outra leitura. Os
autores referem o exemplo da pes-
soa que realiza 25-35 minutos por
dia (16 MET·h·sem −1 ) que continua a
ter um risco aumentado de morte, o
qual é superior ao valor de referên-
cia para todos os níveis de tempo
de permanência sentado, mesmo
para os valores inferiores a 4 horas/
dia. O que os autores pretendem
dizer é que as “pessoas que perma-
necem muito tempo sentadas numa
secretária durante o dia têm um
forte incentivo, não só para se levan-
tarem, mas também para aumen-
tarem substancialmente o volume
de exercício físico de intensidade
moderada-intensa”. Referem ainda
que cumprir os tais 150 minutos/
semana diminui substancialmente o
risco em comparação com a pessoa
que realiza pouco exercício sema-
nalmente, mas os 150 minutos não
minimizarão de modo completo o
risco (Hazard Ratio).
O Comentário termina com duas
opiniões muito fortes:
1. Os níveis de exercício físico de
intensidade moderada-intensa
devem ser aumentados, indepen-
dentemente do número de horas
diárias que se permanece sentado;
2. As pessoas que são obrigadas a
permanecerem muito tempo sen-
tadas devem ambicionar os níveis
mais elevados de exercício físico e
não os inferiores (os 150 minutos
não serão certamente suficientes).