mão , dedos e tornozelo . A localização de lesão mais frequente foi a cabeça / face , com 21 % das lesões registadas . Por sua vez , o principal mecanismo de lesão foi o contacto entre jogadores durante a marcação (“ checking ”), com 29 % de todas as lesões , seguido de lesões associadas ao acto de patinar e sobreuso dos patins ( 22 %), e traumatismo com stique ( 20 %).
Hutchinson et al . 12 compararam padrões de lesão entre duas equipas profissionais de hóquei de patins em linha e uma equipa profissional de hóquei no gelo e verificaram que no hóquei de patins em linha as lesões mais frequentes são estiramentos ( 26 %), seguidas de lacerações ( 24 %) e contusões ( 20 %). As localizações anatómicas mais atingidas foram a região do tronco ( 52 %), com 2 % de atingimento do abdómen , e os membros inferiores ( 30 %). Os principais mecanismos de lesão verificados foram sobreponíveis ao do artigo de Varlotta et al . Este estudo verificou que as lesões mais comuns no hóquei em patins e no hóquei no gelo são lacerações faciais , devido ao não uso obrigatório de proteção facial .
Verifica-se assim que a musculatura abdominal é uma localização rara de lesão no hóquei em patins . Não existem artigos específicos sobre hóquei em patins de 4 rodas com dois pares de cada lado , a variante praticada pelo indivíduo deste caso clínico , nem sobre a posição de guarda-redes de hóquei em patins . O guarda-redes de hóquei em patins é um jogador com caraterísticas únicas , uma vez que adquire a posição basal de agachamento por períodos prolongados de tempo e os seus atos de defesa consistem em movimentos bruscos de mudança de direção 7 . Esta postura prolongada em semi-flexão passiva do tronco , com algum relaxamento da musculatura abdominal , poderá ser propensa a lesões do músculo reto abdominal aquando de movimentos bruscos de hiperextensão e rotação , como se verificou neste caso clínico . São necessários mais estudos sobre esta matéria para pode ser considerado um desporto de risco para lesões do músculo recto abdominal .
No caso clínico exposto , a atitude terapêutica conservadora foi adequada , apesar de ao fim de um mês o indivíduo manter queixas álgicas importantes com necessidade de analgesia e apresentar um hematoma intra-muscular sequelar . É recomendado pela literatura o indivíduo iniciar exercícios de reabilitação muito precocemente , em 2-3 dias , mas apenas se tolerado . No entanto , é ainda mais importante respeitar a indicação de repouso abdominal . Ao contrário da imobilização de membros , a imobilização dos músculos abdominais é difícil , uma vez que estão envolvidos em múltiplos movimentos , sendo a falta de repouso muitas vezes um fator decisivo para uma recuperação mais lenta . Um dos erros comuns na terapêutica , e fator de cronicidade , é o regresso precoce à atividade física e insuficiente reabilitação abdominal 10 . São as queixas álgicas que determinam o início e a progressão da reabilitação abdominal . Neste caso clínico , mantendo analgesia e controlando a dor , o plano terapêutico seguinte foi a instituição progressiva e programada de exercícios de reabilitação abdominal conforme tolerado , com o objetivo de recuperação completa aos dois meses pós-lesão . Espera-se ainda desaparecimento gradual do hematoma intra-muscular , já que na sua maioria são auto-limitados . Não existem , neste caso , critérios de reparação cirúrgica do músculo , não só por se tratar de rotura muscular parcial , como também o indivíduo ser um desportista recreativo e não de alta competição , não requerendo portanto função muscular completa .
É importante a adoção por parte dos profissionais de saúde de uma forma de atuação terapêutica padronizada e uniforme deste tipo de lesões , de modo a evitar complicações de um tratamento desadequado . A incidência de lesões na atividade desportiva tem aumentado nos últimos anos devido às crescentes exigências físicas e psíquicas que são exigidas aos atletas . Como tal , é fundamental o conhecimento do tipo de lesões mais comuns de cada modalidade , de modo a podermos atuar na sua prevenção 7 .
Conclusão
A lesão muscular da parede abdominal é uma entidade muito rara no desporto . Deve suspeitar-se deste tipo de lesões sempre que se esteja perante uma dor muscular abdominal associada a um gesto ou traumatismo mais violento , altura em que se deve aprofundar o estudo clínico com recurso à ecografia . O diagnóstico deve ser precoce para minimização de sequelas e o tratamento inicial é do tipo conservador , com repouso relativo , compressão com cinta abdominal e analgesia , a que se segue reabilitação funcional da musculatura abdominal ..
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Revista de Medicina Desportiva informa Setembro 2013 · 7