Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2012 | Page 22

proporção de desportistas homens entre os doentes com FA isolada foi muito superior à da população em geral : 63 % vs 15 % ( p < 0.05 ) 25 , 26 , 27 .
Etiopatogeniada FA no desportista
Os mecanismos etiopatogénicos da FA relacionada com o desporto permanecem controversos e até especulativos . O clássico triângulo de Coumel aponta como triggers da atividade ectópica auricular , particularmente com origem nas veias pulmonares . O papel modulador do sistema nervoso autónomo , com a hipótese de FA mediada por influência vagotónica , é defendido . O estudo GIRAFA parece demonstrar que a FA vagal constitui a regra e não a exceção ( cerca de 70 %) nos casos de FA isolada . O substrato da arritmia seria a dilatação da aurícula ( ou aurículas ) e a fibrose . O exercício intenso e o sobretreino conduziriam à sobrecarga de volume e de pressão e a processos inflamatórios crónicos , e consequente “ remodeling ” auricular , mesmo antes da ocorrência de disfunção diastólica 28 .
Caraterísticas clínicas da FA no desportista
As caraterísticas clínicas típicas na FA relacionada com o desporto revelam a predominância em homens na década dos 40 ou 50 anos , envolvidos na prática de exercício intenso desde jovens , e em desportos de endurance , como o ciclismo , corrida , natação ou esqui de longa distância , jogging e futebol . Os episódios de FA ocorrem mais durante a noite ou após as refeições e , raramente , durante o esforço físico . Os episódios tendem a ser mais frequentes e duradouros com o tempo e a FA pode evoluir para persistente ou permanente . No estudo de Hoogsteen et al , a percentagem de progressão para FA permanente foi de 17 % 29 . No estudo GIRAFA 43 % tinha FA persistente 30 . Alguns autores , como Furlanello et al , defendem que a evicção da prática desportiva reduz o número de crises de FA em atletas de topo , particularmente naqueles com FA de início mais recente e com aurículas pouco dilatadas 31 .
Prevenção e tratamento da FA no desportista
Este tipo de atletas é claramente dependente do exercício e não aceita facilmente a abstinência . O papel dos medicamentos , nomeadamente dos IECA ou ARA II e beta-bloqueadores na prevenção da hipertrofia não está claramente definido , exceto nos casos em que coexiste hipertensão arterial . Convém relembrar que algumas drogas não podem ser usadas em atletas federados por constarem da lista de substância proibidas da AMA ( Agência Mundial Antidopagem ). O consumo de álcool , mesmo ocasional mas abusivo , o uso de drogas estimulantes , o tabaco e o stress emocional podem ser fatores precipitantes de crises de FA . As drogas habitualmente usadas na prevenção da recorrência das crises , como a amiodarona , o diltiazem , e a flecainida , têm todas efeitos secundários relevantes , ainda menos aceitáveis neste grupo específico dos desportistas . A ablação de FA é hoje em dia uma alternativa terapêutica , com elevadas taxas de sucesso , atingindo os 90 % na série de Furlanello et al 31 . No entanto , há que contar com a taxa de recorrências conforme é apontado por Heidbuchel et al , que poderão em certos casos ser resolvidas com uma segunda ablação 32 .
Figura 2 – Mapa eletroanatómico tridimensional da aurícula esquerda ( sistema CARTO ) em fusão com secção da aurícula esquerda de imagem de angio TAC cardíaca efetuada previamente a estudo eletrofisiológico para ablação de fibrilação auricular . Os pontos vermelhos correspondem a aplicações de radiofrequência em torno dos ostia das veias pulmonares direitas .( Rui Candeias , Hospital de Sta . Cruz , Carnaxide )
Não esquecer que é precisamente nos indivíduos nas referidas faixas etárias , com FA de início mais recente e com aurículas normais ou pouco dilatadas , que a ablação por radiofrequência , com técnicas otimizadas por equipamentos de navegação e estereotaxia e executadas por equipas experientes , que se podem esperar os melhores resultados .
Conclusão
A FA está associada a eventos cardiovasculares . A sua prevalência parece ser maior em atletas , em particular nos envolvidos em desportos de endurance . A prevenção e o tratamento não invasivo , incluindo os fármacos , têm limitações . A ablação por cateter é uma opção válida nesta população de doentes jovens e sem cardiopatia estrutural significativa .
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