História natural da FA
Como regra geral a FA progride de episódios paroxísticos curtos e raros para episódios mais frequentes e de maior duração . Ao fim de anos uma proporção significativa de doentes desenvolve formas mantidas de FA 17 .
Tratamento da FA
O tratamento da FA tem como objetivos reduzir os sintomas causados pela arritmia e prevenir as complicações a ela associadas . A prevenção das complicações associadas à FA assenta na terapêutica antitrombótica e no controle da frequência ventricular . Para a melhoria dos sintomas pode ser necessário recorrer a medidas terapêuticas dirigidas a restaurar e / ou manter o ritmo sinusal .
Na estratégia de tratamento a longo prazo da FA os médicos são colocados perante duas opções : aceitar a FA e manter apenas o controle da frequência ventricular ( estratégia de controle da frequência ) ou dirigir o tratamento para a manutenção do ritmo sinusal ( estratégia de controle do ritmo ). As duas estratégias não são , no entanto , mutuamente exclusivas , pois o controle da frequência ventricular é sempre necessário durante os episódios recorrentes de FA nos doentes em que se prossegue a estratégia de controlo do ritmo . Os ensaios clínicos que compararam as duas estratégias não revelaram superioridade de nenhuma delas , quer em mortalidade , quer nos endpoints de morbilidade avaliados . Uma vez que os fármacos antiarrítmicos utilizados para o controle do ritmo têm riscos de efeitos adversos superiores aos utilizados no controle da frequência , as guidelines europeias para o tratamento da FA recomendam que se privilegie o controlo da frequência . No entanto , antes de escolher o controlo da frequência como única estratégia a longo prazo o médico deve considerar qual será o impacto futuro para o doente da FA permanente e qual é o sucesso expectável da estratégia de controlo do ritmo . Os sintomas atribuíveis à FA estão no centro da decisão da estratégia a prosseguir . Entre os fatores que influenciam negativamente o sucesso da estratégia de
controlo do ritmo estão o tempo de evolução da FA , a idade mais avançada , a cardiopatia estrutural mais avançada , aurícula esquerda de maiores dimensões e as comorbilidades . A estratégia de controlo do ritmo está recomendada nos doentes com sintomas persistentes , apesar do controlo da frequência , e deve ser considerada nos doentes mais jovens 18 .
As armas disponíveis para a estratégia de controlo do ritmo são os fármacos antiarrítmicos , a cardioversão elétrica e a ablação por cateter .
Ablação por cateter da FA
Como regra , a ablação por cateter está reservada para os doentes com FA sintomática apesar de terapêutica médica otimizada , incluindo controlo da frequência e controlo do ritmo 18 . O procedimento de ablação é geralmente efetuado em doentes com FA paroxística refratária a pelo menos um fármaco antiarrítmico e sem cardiopatia estrutural ou com doença cardíaca pouco avançada . Esta prática é suportada pelo resultado de estudos randomizados que documentam a superioridade da ablação aos fármacos na manutenção do ritmo sinusal 19-24 . A evidência de superioridade da ablação é menor nas formas de FA persistente e de longa duração e nos doentes com doença cardíaca mais avançada , contextos em que o sucesso da ablação é inferior . Também é menor a evidência de benefício da ablação por cateter como tratamento de primeira linha sem fármacos antiarrítmicos prévios 23 . O procedimento de ablação é tecnicamente exigente e tem riscos reconhecidos . Nos doentes jovens com FA paroxística sintomática e sem cardiopatia estrutural significativa , em face do sucesso da ablação e do risco dos efeitos acessórios da terapêutica antiarrítmica prolongada , é razoável considerar a ablação como tratamento de primeira escolha .
Exercício e risco de FA
Os benefícios da prática regular de exercício estão extensivamente documentados , com benéficos na promoção da saúde e no controlo dos fatores de risco cardiovascular . Existem dúvidas , no entanto , sobre os efeitos cardiovasculares do exercício de endurance quando praticado de forma intensa ou extrema . Várias pequenas séries de publicação recente enfatizaram a possibilidade da relação dessa prática com o aumento de incidência de fibrilhação ou flutter auricular em desportistas . Os estudos reportados de controlo de caso incluíram menos de 300 atletas , com idades entre os 40 e 50 anos , a maior parte dos quais incluíram predominantemente ( mais de 70 % ou exclusivamente ) homens , envolvidos em treinos intensos durante muitos anos . Nestes estudos , o risco relativo de aparecimento de FA aumenta 2 a 10 vezes , mesmo depois de ajustamento para outras variáveis . No estudo catalão de Luis Mont et al , a
Figura 1 – ECG revelando fibrilhação auricular com frequência ventricular entre os 50 e os 60 bpm . Revela igualmente hemibloqueio esquerdo anterior de feixe de his e alterações da repolarização ventricular ( Rui Candeias , Hospital de Faro EPE , Portugal )
Revista de Medicina Desportiva informa Setembro 2012 · 19