Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2012 | Page 5
Reportagem
Abriu o Museu Nacional do
Desporto e, no seu interior,
abriu a Biblioteca do Desporto.
Era uma promessa datada de
1985 que o Sr. Secretário de
Estado do Desporto e da Juventude, o Dr. Alexandre Mestre,
fez nascer. Está localizado no
Palácio Foz, nos Restauradores, em Lisboa, num edifício
muito bonito, amplo e arejado.
O Museu ainda tem algumas
alas fechadas, mas o que tem
exposto merece ser visto. É
uma viagem ao nosso passado
desportivo, que faz lembrar os
nossos
heróis e
aumentar
o orgulho
em ser
português. É
ainda um
pouco o
Museu do
desporto
do êxito,
pois a
quase
totaliA fachada
dade da
exposição é composta medalhas,
trofeus, equipamentos, fotos que nos
recordam os sucessos dos antigos
atletas. Mas é o início e, lá mais para
a frente, outras alas com outros conteúdos se abrirão.
A biblioteca está numa sala lindíssima, circundada por dois níveis
de estantes, já repletas de milhares
de livros que contemplam várias
especialidades que apoiam o desporto: o treino desportivo, o direito
desportivo, a psicologia e a medicina
desportiva, entre outras. Faltará,
certamente, abrir uma sala de leitura onde se possa pausadamente
A Biblioteca
desfolhar o livro pretendido, assim
como mais empenhamento dos seus
funcionários. As afinações farão
daquele espaço um local aprazível,
de encontro, de estudo e de reflexão.
Aguardemos mais um pouco.
promessa da melhoria das condições
de saúde e de alimentação. Extraordinário quando comparado com a
atualidade. Curiosamente a prática
futebolística foi a 1.ª abordagem no
desporto, mas cedo se apercebeu que
nascera para correr, principalmente
depois de ter sofrido pontapé na
cara que o arredou do futebol e do
atletismo durante algum tempo. As
marcas desportivas que ia obtendo
faziam dele um atleta de prestígio
nacional e internacional, pelo que
foi com grande expetativa que em
1912 partiu de barco, para os Jogos
Olímpicos na Suécia, numa viagem
que demorou 3 dias (!). A sua confiança era enorme e antes de partir
disse à sua mulher: “Ou ganho ou
morro!”. Já no dia da prova, o seu
atraso na linha de partida preocupava os outros poucos elementos
Lázaro (1888–1912)
E foi exatamente na biblioteca
que se iniciou uma conversa sobre
temas desportivos. Quis (e quer) o
Sr. Secretário de Estado dinamizar
aquele espaço, promove-lo a fórum
de debate, pelo que fez o convite
para uma tertúlia sobre o malogrado
Francisco Lázaro. Tal ocorreu no dia
19, às 19h00, e a “casa cheia”, sob
a coordenação da jornalista Cecília Carmo, ouviu a intervenção de
alguns especialistas, os quais, cada
um na sua área profissional, comentaram o desfecho fatídico do nosso
maratonista. O jornalista de A Bola,
António Simões, abriu a conversa
fazendo um resumo da vida pessoal,
laboral e desportiva de Francisco
Lázaro, que nasceu em Lisboa no dia
21 de janeiro de 1888. Foi carpinteiro
de profissão, ganhando 6 tostões por
dia, e treinava, ou melhor corria após
o trabalho, acompanhando os elétricos, ora em marcha rápida, ora parados para a entrada e
saída dos passageiros, mas tentando
sempre chegar em
primeiro. Terá sida
a 1.ª experiência do
treino de séries, tão
típicas e fundamentais no atletismo
de hoje. O seu 1.º
clube foi o Benfica,
que o trocou pelo
Lisboa Sporting
Clube motivado pela
A Revista na Biblioteca
da comitiva portuguesa. Foram-no
encontrar a besuntar o corpo com
unto e, mesmo depois de ser obrigado a lavar-se para remover aquela
camada isoladora, partiu para a
corrida que não chegou a terminar.
Por volta do km 29 Lázaro sucumbiu,
foi assistido por um médico sueco
que lhe colocou gelo na cabeça (hoje
seria submerso em banheira com
água e gelo), foi transportado para o
hospital onde morreu no dia seguinte.
A sua promessa fora dramaticamente
cumprida. Foi o 1.º atleta olímpico
a morrer nos Jogos, tendo motivado
grande discussão sobre a continuação
da Maratona no programa olímpico.
Pierre de Cubertain, que chorara após
a visita ao hospital, resistiu e a prova
mantém-se. Apenas 2 meses depois
o seu corpo transladado para Portugal, veio de barco e o corpo ficou em
câmara ardente no arsenal do exército. Foi uma grande perda para o país,
pois representou o fim do sonho que
todos esperavam tornar-se realidade,
assim como um ídolo nacional, agora
já num contexto político-laboral devidos às perturbações sociais que então
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