Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2017 | Page 6

da correta exclusão de diagnósticos diferenciais , que são exaustivamente fornecidos , e da atuação baseada num organigrama pessoal de orientação .
1 . Justin Neal Hopkins , JN , Brown , W , Lee , CA . Sports Hernia : Definition , Evaluation and Treatment . JBJS Rev . 2017 Sep ; 5 ( 9 ): e6 . doi : 10.2106 / JBJS . RVW . 17.00022 .
Dr .ª An a Rosa Machado da Costa Assistente Hospitalar Graduada em Ginecologia / Obstetrícia . Centro Hospitalar de S . João . Porto
Menstrual Dysfunction in Females Presenting to a Pediatric Sports Medicine Practice 1
Resumo
Este estudo teve como objetivo determinar a prevalência de disfunção menstrual ( DM ) entre atletas lesionadas do género feminino , tratadas numa clínica pediátrica de medicina desportiva , e examinar a influência do tipo de lesão ( aguda ou por sobrecarga ) e do tipo de desporto praticado na prevalência de disfunção menstrual para recomendação de melhores práticas de rastreio nestas atletas . Foi colhida informação demográfica e menstrual das raparigas ( 10 a 18 anos de idade ) que apresentavam uma lesão musculosquelética de novo , bem como o tipo de lesão e de desporto . Foi usado um modelo de regressão logística para determinar a probabilidade de DM , ajustada por idade e índice de massa corporal ( IMC ). Das 491 raparigas que cumpriam os critérios de inclusão , 15.9 % referiam DM . As raparigas com DM , e com índice de massa corporal idêntico ( P = 0,244 ), tinham maior probabilidade de menarca mais tardia ( 12,3 vs 11,9 , P = 0,006 ). A probabilidade de DM não se relacionou com o tipo de exercício [ lean buid sports ( LBS ) vs non-lean build sports ( NLBS ) ou combinação ( CBS )], apesar de as participantes nos exercícios NLBS e CBS mostrarem uma tendência , sem significado estatístico , de proteção de DM comparativamente com o exercício tipo LBS . A DM é prevalente em atletas adolescentes com lesões musculosqueléticas , mas não se
associa com o tipo de lesão , nem com a modalidade desportiva praticada . Todas as atletas adolescentes com lesões musculosqueléticas devem ser rastreadas para disfunção menstrual .
Comentário
Este artigo aborda um tema relevante na atualidade pelo número crescente de jovens a praticar exercício físico , nomeadamente corrida , uma modalidade que se associa a maior risco de fraturas . Não é um tema novo , mas é de grande importância . O género feminino tem maior risco de desenvolver fraturas de stress comparativamente com o masculino . Apesar de não estarem ainda estabelecidas as razões , parece que a densidade mineral óssea ( DMO ) diminuída e os distúrbios alimentares estão implicados . As irregularidades menstruais são um fator de risco independente .
Os autores referem a grande probabilidade das adolescentes atletas sofrerem de disfunção menstrual ( DM ) e inter-relação entre os três componentes da “ tríade da mulher atleta ”: baixo aporte energético , disfunção menstrual , densidade mineral óssea baixa . Mesmo mulheres que não tenham os três componentes têm risco aumentado de fraturas por stress . Cada componente da tríade inclui um espectro e cada mulher pode passar de um para outro em diferentes momentos :
• Baixo aporte energético – desde baixo aporte energético inadvertido até distúrbio alimentar
• Função menstrual – desde ciclos normais ovulatórios , défice de fase lútea , até amenorreia
• DMO – de normal a diminuída . A prática de exercício intenso e por longos períodos de tempo , não compensado por aporte energético adequado , associa-se com frequência a alterações menstruais e amenorreia hipotalâmica 1 . A diminuição da secreção da hypothalamic gonadotropin-releasing hormone ( GnRH ) leva a diminuição dos pulsos de gonadotrofinas , ausência do pico da hormona luteinizante ( LH ), ausência do desenvolvimento folicular normal , anovulação e concentrações baixas de estradiol . As concentrações da hormona estimulante folicular ( FSH ) estão dentro de valores normais ou baixos e frequentemente excedem os de LH , num padrão similar à mulher pré-púbere . Estas alterações no eixo endócrino hipotálamo- -hipófise-ovário são as responsáveis pela anovulação , amenorreia e hipoestrogenismo em quase todas as modalidades . A amenorreia nas nadadoras não parece relacionar- -se com deficiência de GnRH , estas têm tendencialmente mais peso , níveis séricos mais elevados de LH e de concentrações de androgénios adrenais [ sulfato de dehidroepiandrosterona ( DHEA-S )].
Uma das principais preocupações na amenorreia hipotalâmica é a repercussão na formação óssea na adolescência e DMO baixa na idade adulta . Há uma grande variação interindividual entre o nível de perda de peso e de exercício requeridos para induzir amenorreia , o que se deve em parte á predisposição genética nas mulheres suscetíveis . A DMO nestas idades , apesar de preditiva de maior risco de fraturas , deve ser interpretada de forma cautelosa , uma vez que nesta idade ainda não foi atingido o pico de massa óssea , só atingido por volta dos 35 anos . É na adolescência que ocorrem mais alterações no conteúdo mineral ósseo , que coincidem com maior velocidade de crescimento e maior risco de lesões .
Os autores referem uma tendência para menarca mais tardia nas atletas com disfunção menstrual , apesar de apontarem algumas limitações no registo da mesma . A tendência da menarca em idades mais jovens está de acordo com a tendência geral . É importante referir que , ao contrário da idade da menopausa que permanece a mesma , a idade da menarca tem vindo a diminuir e reflete a interação entre fatores genéticos ( idade da menarca da mãe ) e fatores ambientais , como a alimentação , a atividade física , o stress , o IMC , etc . Apesar de neste estudo não ter sido encontrada diferença estatisticamente significativa no IMC , verifica-se que no grupo de atletas sem disfunção menstrual o IMC foi ligeiramente superior ( 23,4 vs 22,8 kg . m 2 ). Não foi avaliado o início da atividade física e do IMC na altura da menarca . Num estudo de Beck et al , de 1996 , verificou-se que
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