Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2017 | Page 5

O que andamos a ler Nesta rúbrica pretendemos dar notícia de artigos recentes ou que merecem ser (re)lidos e comentados. Será uma página aberta a todos os colegas que pretendam colaborar descrevendo ou comentando temas de medicina desportiva.   Dr. Luís Fernando Moreira Cardoso Castro Neves Especialista em Cirurgia Geral. Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. Sports Hernia: Definition, Evaluation and Treatment 1 Resumo Os autores do artigo descrevem uma entidade nosológica muito pouco definida, a hérnia do desportista ou, a denominação mas usualmente utilizada, a inguinodinia do despor- tista. Fazem um esboço de definição, debruçam-se sobre as formas de ava- liação e de exclusão de diagnósticos diferenciais e, finalmente, propõem um esquema terapêutico por etapas. Comentário É um artigo denominado como de investigação, mas parece ser mais uma análise de vários outros traba- lhos sobre esta matéria, sem clara referência ao material de trabalho e aos objetivos a que se propõe. O artigo peca por um défice de meto- dologia e por ser baseado em dados fortemente heterogéneos de outros trabalhos. Contudo, é uma mais- -valia ao chamar a atenção para uma entidade nosológica que é frequentemente mal compreendida e classificada e, em consequência, tratada muitas vezes de forma pouco seriada ou baseada em dados concretos de resultados espectáveis. Daqui resulta a tão grande quanti- dade de métodos de tratamento que Prof. Doutor Ovídio Costa Cardiologista. Faculdade de Medicina do Porto têm sido adotados, onde na maior parte das vezes a escolha é apenas baseada na preferência dos médicos que acompanham o doente. Depois de fazerem uma correta avaliação fisioanatómica desta condição e de definirem prioridades de estratificação, desde logo dando importância à necessidade da deter- minação o mais precisa possível do tipo de dor e do órgão anatómico mais provavelmente atingido, fazem uma proposta de estudo escalonada e orientada pela avaliação clínica. Esta é muito importante e deve ser adequadamente bem feita, pois a triagem inicial deve definir os casos que mais provavelmente necessitarão de tratamento cirúrgico e determinar se serão melhor orientados pelo ortopedista ou pelo cirurgião geral. A utilização de infiltração local com lidocaína é também referida como uma mais-valia para a obtenção de um diagnóstico o mais preciso pos- sível. Contudo, é realçado o facto de este gesto não ser terapêutico, pois apenas permite o alívio sintomático, passageiro e curto, sem efectiva resolução da situação clínica. Em relação ao tratamento, os auto- res têm uma clara e louvável intenção ao tentarem estabelecer um algoritmo de atuação, baseado primariamente no repouso dos grupos musculares atingidos e na posterior recupera- ção funcional com fortalecimento. Entretanto, realça-se o facto de ser necessária a exclusão de existência de qualquer tipo de conflito articular, mormente o conflito femoroaceta- bular, o qual tem abordagem ortopé- dica específica. Na eventualidade de haver atingimento nervoso, isolado ou preferencial, são elencados vários tipos de abordagem terapêutica, devendo ser realçada a importância da anestesia e de técnicas específicas, tais como a radiofrequência, no seu tratamento. Aquando da existência de hérnia, mesmo que clinicamente não evi- dente, os autores realçam a importân- cia da referenciação para a cirurgia geral para o tratamento. Nestes casos, e quando se determina a existência concomitante de pubalgia, a tenoto- mia do adutor é referida como uma intervenção eficaz e com benefícios claros. Contudo, reforçam a não jus- tificação da sua realização de forma rotineira se não houver pubalgia, pois a sua realização pode mesmo levar a consequências posteriores adversas, como a instabilidade articular local. Por outro lado, também a realização de hernioplastia inguinal em todos os casos de inguinodinia do desportista, mesmo sem determinação de hérnia, como foi muitas vezes defendido, não tem indicação, podendo mesmo, pela alteração de forças locais e pela introdução de material estranho no local, haver consequências indesejá- veis para o atleta. Quanto à técnica cirúrgica a adotar, não conseguem concluir por uma vantagem clara de nenhuma, mas sugerem que as técnicas minima- mente invasivas (laparoscópicas) poderão acarretar vantagens para a recuperação mais rápida, com retoma da atividade desportiva mais precoce. Os autores concluem lembrando que, sendo uma entidade frequente no desportista, é muito importante a definição anatómica da sintoma- tologia, bem como a necessidade Revista de Medicina Desportiva informa Novembro 2017 · 3