Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2017 | Page 28

Rev. Medicina Desportiva informa, 2017, 8 (6), pp. 26–28 A Instabilidade Patelofemoral Dr. Ricardo Santos Pereira 1 , Dra. Catarina Aleixo 1 , Dr. Basil Ribeiro 2 , Prof. Doutor Rui Lemos 3 Interno de formação específica em ortopedia; 2 Especialista em medicina desportiva; 3 Especialista em ortopedia e Diretor de Serviço. Serviço de ortopedia do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia / Espinho – EPE. 1 • Torção tibial interna • Anteversão femoral excessiva • Ligamento patelofemoral medial incompetente • Laxidão ligamentar • Diminuição da força muscular • Pé plano • Banda iliotibial “curta” • Retináculo patelar lateral “curto” • Displasia da rótula. RESUMO / ABSTRACT A instabilidade patelofemoral é uma entidade clínica multifatorial que causa dor e epi- sódios de subluxação e luxação da rótula. A incidência é mais elevada nas idades mais jovens das mulheres e a taxa de recorrência de luxação da rótula é elevada após o primeiro episódio. Deve haver um diagnóstico clínico muito preciso e todos os fatores de risco perfeitamente descritos, pois é através a intervenção sobre os mesmos que se conseguem os melhores resultados clínicos. A avaliação imagiológica é fundamental para estudar os fatores de risco, os principais dos quais são a patela alta e a displasia troclear do fémur. O tratamento inicial é conservador e o tratamento cirúrgico está reservado para os casos de instabilidade recorrente, devendo ser dirigido à correção dos fatores de risco. Patellofemoral instability is a multifactorial disease that causes pain and episodes of dislocation and sub-dislocation of the patella bone. The incidence is higher on the youngest girls and the recurrence rate of patella bone dislocation is high after the first episode. There should be an accurate clinical diagnosis and all risk factors should be identified in order to have good clinical outcomes with the treatment. Imaging is fundamental to look for these risk factors and high riding patella and dysplasia of the femur trochlea are the most important. The initial treatment is conservative and the surgical treatment is indicated for the recurrent dislocation, aiming the correction of the risk factors. PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS Instabilidade patelar, luxação rótula displa sia troclear, patela alta Patellofemoral instability, patellar dislocation, trochlear dysplasia, patella alta Introdução A instabilidade patelofemoral é uma entidade clínica que causa dor e incapacidade, atribuída a várias alterações anatómicas, as quais condicionam a manutenção da rótula no sulco troclear do fémur durante os movimentos de flexão e extensão do joelho. 1 A grande prevalência de indivíduos com percepção subjetiva de queixas patelofemorais levou Dejour et al a definirem a instabilidade objetiva, na qual incluem a alteração do movi- mento, a subluxação e a luxação da rótula 2 , tentando separar esta enti- dade das condições clínicas onde apenas existe dor. Incidência A incidência anual de primeiros episódios de luxação da rótula é de 5.8 casos por 100.000 habitantes e é maior nas populações mais jovens e ativas, sendo o sexo feminino mais afetado. A maioria destes primeiros episódios ocorre durante a prática desportiva (55-72% dos casos). 3 26 Novembro 2017 www.revdesportiva.pt As taxas de recorrência descritas após o tratamento conservador do primeiro episódio variam de 15 a 44% 4 e após um segundo episódio mais de metade dos doentes evolui para instabilidade femoropatelar persistente com novos episódios de luxação. 5 Etiologia A etiologia da instabilidade patelo- femoral é multifatorial e obriga a avaliar o alinhamento do membro inferior, os tecidos moles que supor- tam a rótula e a relação da rótula com a tróclea femoral e com a tube- rosidade anterior da tíbia (TAT). 6 Embora se considere que os três principais fatores de instabilidade são a displasia troclear, a patela alta e a distância tubérculo tibial – sulco troclear (TT-TG) superior a 20mm 2 – existem vários fatores que poderão contribuir: 7 • Displasia da tróclea femoral • Patela alta • Alterações do alinhamento • Joelho Valgo • Ângulo Q aumentado Diagnóstico Exame físico O diagnóstico de um primeiro episódio de luxação da rótula é geralmente óbvio e ocorre habitual- mente num jovem adolescente, na segunda década da vida, sendo mais frequente no sexo feminino. O mecanismo de lesão (traumatismo direto ou indireto) pode ser impor- tante mas muitas vezes é mal definido pelos pacientes. Nos casos de instabilidade crónica, a inspeção do joelho deve permitir identificar qualquer alteração do alinhamento dos membros inferio- res e a tonicidade do quadricípite femoral. A inspeção durante a mobilização ativa pode revelar uma rótula que assume uma posição lateral e proximal em relação à tróclea nos últimos graus de exten- são (sinal do J). O teste de apreensão é também um excelente indicador de instabilidade patelofemoral 8,9 com sensibilidade reportada de cerca de 100% e especificidade de 88,4%. 10 Este teste consiste na aplicação de pressão lateral sobre a rótula enquanto o joelho se move de extensão para flexão e é considerado positivo quando causa apreensão visível ou ativação do quadricípite. Uma rótula que pode ser mobilizada lateralmente mais de dois quadran- tes em repouso também é indicativa de laxidão excessiva. Avaliação imagiológica inicial A existência de queixas de instabi- lidade da rótula motiva a realização de um estudo radiográfico inicial, que inclui as incidências ântero- -posterior e de perfil em carga e depois a incidência de Merchant, realizada com o joelho a 30° 11 e 45° de flexão. 6 Esta incidência permite