Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2017 | Page 26
Tratamento
O tratamento da NCVE, tal como em
outras cardiomiopatias, é sintomá-
tico e deve ser individualizado. Os
doentes devem ser tratados segundo
as recomendações atuais de acordo
com o quadro clínico, nomeada-
mente sinais e sintomas de insufi-
ciência cardíaca, disfunção ventri-
cular esquerda ou taquiarritmias.
Outro aspeto importante é a pre-
venção de complicações embólicas,
particularmente em doentes com
antecedentes de tromboembolismo,
fibrilhação auricular ou redução da
fração de ejeção do VE (<40%). 13
Prognóstico e Recomendações
O prognóstico é variável. Os atletas
com hipertrabeculação do VE que
preenchem os critérios diagnósticos
de NCVE, assintomáticos e que não
têm história familiar, apresentam
uma função ventricular esquerda
normal e não têm documentação de
arritmias malignas ou realce tardio
na RMC, apresentam baixo risco e a
participação em atividades despor-
tivas pode ser autorizada (recomen-
dação classe IIb; Nível de evidência
C). 16 Pelo contrário, os atletas com o
diagnóstico de NCVE com disfunção
do VE, documentação de taquiarrit-
mias auriculares ou ventriculares e
antecedentes de síncope são consi-
derados de alto risco e não devem
ser autorizada a competir, com a
possível exceção da participação em
desportos de baixa intensidade –
Classe 1A (low static and low dinamic
component) – (Recomendação classe
III; Nível de evidência C). 16
Fluxograma de avaliação de atletas
Recentemente, vários autores refe-
rem que o padrão de hipertrabecula-
ção ventricular isolado num coração
normal, não deverá ser suficiente
para estabelecer o diagnóstico de
NCVE. 15,17 Advogam a necessidade
de rever os critérios do diagnóstico
diferencial entre a NCVE e adapta-
ções fisiológicas que são variantes
do normal.
Caselli e colegas 15 sugerem, nos
atletas assintomáticos, uma abor-
dagem clínica baseada na história e
exame objetivo e nos resultados dos
exames complementares de diag-
nóstico, nomeadamente o ecocar-
diograma, como exame de primeira
linha com avaliação da função sistó-
lica. A disfunção ventricular (fração
de ejeção do VE< 55%) é um preditor
de patologia cardíaca. Em casos bor-
derline, o estudo da função diastólica
e o estudo da deformação global lon-
gitudinal (strain) são importantes. Se
um ou mais destes elementos levan-
tarem a hipótese NCVE, a RCM com
contraste e o estudo genético podem
melhorar a acurácia diagnóstica.
Tal como em outras cardiopatias,
Figura 3 – Fluxograma diagnóstico em atletas assintomáticos com suspeita de NCVE
(adaptado de Caselli 15 )
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o médico pode sugerir um período
de descondicionamento físico, já
que a redução da hipertrabeculação
após esse período sugere um padrão
benigno (Figura 3). 15
A decisão final sobre a partici-
pação ou restrição desportiva deve
englobar todos estes elementos e não
apenas os achados morfológicos. 15
Conclusão
Por vezes a diferenciaçã o entre o
fisiológico e o patológico é difícil.
Deste modo seria crucial estabele-
cer critérios diagnósticos claros que
diferenciem a hipertrabeculação
do VE e a NCVE. Em atletas estas
duas entidades podem ser a mesma,
correspondendo a um continuum
adaptativo. O diagnóstico da NCVE
deve integrar vários elementos da
avaliação clínica, funcional e estru-
tural. Após o diagnóstico de NCVE, a
estratificação de risco e seguimento
dos doentes/atletas é fundamental.
Conflito de interesses
Os autores declaram não haver conflito
de interesses.
Correspondência
[email protected]
Centro Hospitalar de Coimbra Quinta dos
Vales
3041-801 São Martinho do Bispo, Coimbra.
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