Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2016 | Page 18

e de contacto, na medida em que estes implicam cargas mais elevadas sobre a prótese articular e como tal têm um risco teoricamente mais elevado de desgaste dos seus componentes, de descolamento da prótese e de lesões traumáticas1,4,5,10,33. Sendo assim, são geralmente desaconselhados desportos como futebol, basquetebol, andebol, ténis, voleibol, hóquei, atletismo, ginástica, artes marciais entre outros, e encorajados desportos de reduzido impacto, tais como ciclismo, natação, hidroginástica (Figura 2), dança, remo, golfe, bowling entre outros1,4,5,18,19,34. Alguns autores permitem a prática de exercícios de alto impacto apenas a nível recreativo com baixa intensidade, não aconselhando a sua prática competitiva5,34. Apesar destas ideias base, alguns estudos demonstram excelentes resultados funcionais em pacientes com próteses de articulações de carga em desportos de elevado impacto, mesmo a nível competitivo16,35-37. Mont et al.35,36 demonstraram que todos os tenistas profissionais da sua amostra submetidos a artroplastias da anca e do joelho (respetivamente com 8 e 7 anos de tempo médio de seguimento) regressaram à prática desportiva a nível competitivo. As taxas de revisão cirúrgica foram de 6% aos 8 anos nas artroplastias da anca e aos 5 anos nas artroplastias do joelho. Apesar disto, o tempo de seguimento dos estudos disponíveis (inferior a 10 anos) não permite aconselhar a sua prática, uma vez que é insuficiente para dar informação acerca do estado da prótese articular1,8. O desenvolvimento e as inovações nas técnicas cirúrgicas e na qualidade e resistência dos implantes articulares da artroplastia da anca poderão garantir melhores resultados funcionais em desportos de elevado impacto, associados a menores taxas de falência dos implantes, mas estas afirmações permanecem por comprovar1. Apesar da ausência de evidência científica acerca desta matéria, tem-se verificado uma tolerância crescente dos ortopedistas acerca da prática desportiva após artroplastias, o que se deve provavelmente ao maior grau de exigência funcional dos pacientes, ao aumento da confiança do cirurgião na técnica cirúrgica de reconstrução articular, que deve 16 Novembro 2016 www.revdesportiva.pt ser anatómica e biomecanicamente estável e equilibrada, e à inovação dos implantes articulares1,10,18,19. Artroplastia do joelho e exercício físico A técnica de fixação e a preservação ou não do ligamento cruzado posterior (LCP) na artroplastia total do joelho em pacientes novos, ativos e praticantes de desporto permanecem alvo de discórdia entre os ortopedistas4. Em teoria, a fixação não cimentada garante uma osteointegração dinâmica da prótese e a preservação do LCP permite níveis superiores de proprioceção e consequentemente melhores resultados funcionais. No entanto, estes dados permanecem por comprovar, uma vez que se obtêm resultados semelhantes na fixação cimentada e nas técnicas com sacrifício do LCP4,10. Em relação às superfícies articulares, os componentes femoral e tibial metálicos e o insert de polietileno são os mais frequentemente aplicados e com sucesso, no entanto os componentes de cerâmica têm evoluído recentemente com resultados sobreponíveis10,38. As próteses unicompartimentais do joelho, que em teoria permitem maior amplitude de movimentos e vantagens propriocetivas (ao serem uma técnica menos invasiva) têm garantido bons resultados, mas os estudos em desportistas são ainda insuficientes39-42. Um estudo em 160 pacientes submetidos a artroplastia do joelho com tempo médio de seguimento de 5 anos, verificou que 65% dos indivíduos que praticavam regularmente exercício físico antes da cirurgia voltaram à prática desportiva e 35% dos indivíduos inativos no ano antes da cirurgia voltaram a praticar desporto33. O regresso foi significativamente superior n os desportos de baixo impacto em comparação com os de alto impacto (91% vs 20%). Por sua vez, Chatterji et al. verificaram, na sua série de 144 artroplastias do joelho, que 85% dos pacientes praticavam pelo menos um desporto a nível recreativo43. Outro estudo em praticantes de golfe submetidos a artroplastia do joelho verificou que todos eles regressaram à prática deste desporto, no entanto apresentaram após um período mínimo de três anos níveis importantes de queixas álgicas durante e após a prática desportiva (respetivamente 16% e 36%) e sinais de osteólise em 53,7% das próteses44. A osteólise foi mais verificada nas próteses com fixação cimentada, alcançando uma taxa de 79,1%, em comparação com 45% das não cimentadas. Fisher et al40 demonstraram que 93% dos pacientes submetidos a artroplastia unicompartimental medial do joelho voltaram à prática desportiva prévia, com melhoria significativa do nível funcional. A anca e o joelho são articulações de carga e as forças exercidas sobre cada uma delas são diferentes, incluindo nos vários momentos da mesma atividade desportiva. Ao contrário da prótese da anca, em que a congruência articular é sempre elevada, nas próteses do joelho a congruência entre os componentes femoral e tibial é máxima em extensão, mas é precária a partir dos 40-60° de flexão do joelho. Esta justaposição mínima entre as superfícies articulares em flexão é responsável por um aumento substancial do estresse de contacto, o que favorece o desgaste e delaminação destrutivos do insert de polietileno5,45,46. O pico de força sobre a prótese aumenta quando a atividade implica amplitudes elevadas de flexão do joelho, sendo que, em teoria, as modalidades em que estes movimentos se verificam com maior frequência têm mais efeitos prejudiciais sobre a prótese do joelho7,47. Um estudo prospetivo verificou que os pacientes com atividades que implicavam mais frequentemente movimentos de flexão do joelho apresentavam significativamente mais risco de descolamento do componente tibial da prótese48. Desta maneira, os pacientes com próteses do joelho, devem evitar, além dos desportos já referidos para as articulações de carga, as atividades de alto impacto sobre o joelho em flexão, tais como a corrida em velocidades elevadas, montanhismo, caminhadas em declives, entre outros5,7,47,49. Artroplastia do ombro e exercício físico A artroplastia do ombro, entenda-se da articulação gleno-umeral (Figura 1-C), difere da anca e do joelho na