Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2019 | Page 28

Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(2):26-28. https://doi.org/10.23911/RMN_muscEsquelet A RM na Traumatologia Musculoesquelética: aspectos básicos Dr. Sérgio Rodrigues Gomes Especialista em Radiologia. Grupo SMIC; Consultor de Radiologia da Federação Portuguesa de Futebol, clubes da 1ª e 2ª ligas de futebol de Portugal e Al-Nassr FC (Arábia Saudita). A ressonância magnética (RM) é por muitos considerada o melhor exame para avaliar o sistema músculoesquelético. Isto é verdade? Nos últimos 30 anos, a RM cons- titui o maior desenvolvimento na imagiologia para a medicina desportiva e traumatologia musculoesquelética. A RM é não invasiva, de valor inesti- mável na avaliação das lesões musculoesqueléticas devido às suas capacidades multiplana- res diretas, superior contraste entre os vários tecidos biológicos e sen- sibilidade a lesões por stress ósseo. Permite um diagnóstico preciso, prognóstico para o retorno à com- petição (RTP) e avaliação da cica- trização após lesão ou intervenção cirúrgica. É ótima para avaliar lesões das partes moles (ligamentos, ten- dões, meniscos e cartilagem) (figura 1) e para identificar patologia óssea que pode ser oculta no Rx. Como não utiliza radiação ionizante, a RM é particularmente adequada para avaliar lesões em atletas adolescentes, potencial- mente mais vulneráveis ​​aos efeitos de radiação ionizante, e para avalia- ção de lesões passíveis de exigirem múltiplos exames imagiológicos para seguimento da evolução e cicatrização. Por vezes, a ecografia capaz de dar mais informação, não é? Com os avanços da tecnologia da ecografia nos últimos 20 anos, a uti- lização da ecografia na imagiologia musculoesquelética e, em particular, na medicina desportiva, aumentou bastante, sendo como o “estetos- cópio da medicina desportiva”. O desenvolvimento de sondas de alta frequência permitiu melhorar a resolução espacial, a qual em alguns casos pode exceder a da RM. Cada modalidade tem certas van- tagens sobre a outra e, na maioria das vezes, são melhor usadas ​​como ferramentas complementares para o radiologista melhor responder às questões clínicas. A RM e ecografia demonstraram uma eficácia semelhante na avalia- ção da patologia dos tendões. Mas a ecografia demonstra clara vantagem sobre a RM na avaliação das tendi- nopatias calcificadas. As calcifica- ções são subavaliadas no estudo de RM e facilmente identificadas no estudo ecográfico. A RM fornece avaliação mais ampla da articulação e é muito útil quando o quadro clínico é pouco específico. Figura 1 - Imagem de RM axial (esquerda) e coronal (direita) em STIR da coxa direita: lesão muscular aguda da junção miotendinosa da cabeça indireta do músculo reto femoral, com rotura da aponevrose central intramuscular. 26 março 2019 www.revdesportiva.pt Também permite a avaliação de estruturas que não podem ser avalia- das por ecografia devido à incapaci- dade do feixe ultrassónico penetrar a cortical óssea, como na avaliação do osso além da superfície cortical e de certas estruturas intra-articulares, como a cartilagem, fibrocartilagem ou ligamentos (por exemplo, ligamento cruzado anterior no joelho). A ecografia tem certas vantagens sobre a RM. Além de sua ampla dis- ponibilidade, portabilidade e menor custo, as maiores vantagens da eco- grafia, particularmente no sistema músculoesquelético, são a capaci- dade de executar imagem dinâmica, bem como a oportunidade de inte- ragir com o paciente e correlacionar sintomas com os achados do exame de imagem. Como na RM de rotina, o atleta é estudado numa posi- ção específica e estática, algumas patologias do sistema musculoes- quelético podem ser subavaliadas e não detetadas. A ecografia permite a avaliação dinâmica de estruturas e pode identificar patologias que apenas podem ser demonstradas quando o atleta realiza determina- dos movimentos, como por exemplo na subluxação/luxação de nervos ou tendões, hérnias musculares ou síndromes de ressalto. Por último, a ecografia permite guiar procedimentos terapêuticos minimamente invasivos (figura 2) e, mais recentemente, sono- -cirurgia (técnicas cirúrgicas mini- mamente invasivas realizadas com Figura 2 - Imagem de ecografia do tendão supraespinhoso direito com tendinopatia calcificada: esquerda: ecografia de diag- nóstico; direita: procedimento terapêu- tico invasivo guiado por ecografia.