Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2019 | Page 20

os valores reportados no estudo nacional são similares aos encontra- dos noutros estudos realizados com atletas de crossfit: 3.1/1000 horas de treino 5 , 2.71/1000 6 , 2.4/1000 7 e 2.3/1000 8 . No que diz respeito à incidência de lesões, apesar do estudo de Hak et al. 5 ter reportado valores de 73,5%, na sua maioria os valores apresen- tados pelos diferentes estudos são similares entre si, como por exem- plo: 34% 6 , 31% 9 , 26.2% 8 e 19.4% 7 . Em relação ao local da lesão, o ombro é a região anatómica mais frequentemente lesionada, seguindo-se a coluna vertebral. 5-7 Por exemplo, Weisenthal et al. 7 num total de 84 lesões, reportou que 21 (25%) das lesões ocorreram no ombro e 12 (14,3 %) na coluna ver- tebral. Também as lesões no joelho, ainda que com menor incidência, são mencionadas como possível local de lesão. 8,10 Algumas das lesões ocorridas devem-se á realização de exercícios com má técnica de execução, ao treino com fadiga já instalada ou à inexistência de um período de recu- peração entre treinos adequado. Prevenção de lesões Após caraterização do crossfit e aná- lise epidemiológica das lesões decor- rentes da sua prática, interessa, como em qualquer modalidade des- portiva, procurar diminuir o número de lesões e, consequentemente, otimizar o rendimento desportivo. Para se alcançar este objetivo é necessário respeitar os princípios Figura 1 – Kettlebells 18 março 2019 www.revdesportiva.pt de treino (sobrecarga, individuali- dade, progressividade, etc), basear a metodologia do treino em ciência e atender às caraterísticas particula- res da modalidade de crossfit. Assim, recomenda-se o seguinte: Adequada periodização de treino, respeitando princípio da progressivi- dade e da individualidade Assim como noutras modalidades desportivas, é imprescindível atender ao nível de condição física e clínica de cada participante. No caso de ser um sujeito descondicionado é crucial respeitar-se uma primeira fase de adaptação anatómica, em que as cargas sejam menos intensas e se privilegie a correta aprendizagem técnica de execução dos exercícios e se procure compensar assimetrias e desequilíbrios. Os WODs realiza- dos deverão ser individualizados e programados, respeitando o princí- pio de progressividade. É necessário respeitar a mobilidade e estabilidade articular da pessoa, bem como as suas particularidades anatómicas. De igual forma, independentemente do nível do praticante (iniciado, intermédio ou avançado) é impor- tante respeitar-se o equilíbrio entre dias de treino e de repouso. Dever-se- -ão respeitar os tempos de regenera- ção muscular e articular. Respeitar as leis básicas do treino da força Devemos ter em consideração, entre outras leis que devemos respeitar, de que dever-se-á sequen- cialmente privilegiar primeiro o fortalecimento dos músculos do core e só depois os dos membros. Privilegiar sempre a correta exe- cução técnica dos exercícios Deve-se sempre procurar a ótima execução técnica dos exercícios, o que por vezes não sucede, ou por desconhecimento da mesma ou por o atleta estar já sob fadiga. Em função das caraterísticas metabó- licas do crossfit (muitas repetições, cargas elevadas e elevada veloci- dade), poderá ocorrer, por vezes, a perda da correta execução técnica do exercício derivado da fadiga que se instala. A consequência poderá ser a ocorrência de lesões. Poderá ser o exemplo da realização com fadiga e má execução técnica de exercícios como o deadlift ou clean que poderão predispor a lesões da coluna lombar. 5 Em resumo, deverá ser sempre prio- ridade a realização dos exercícios com boa execução técnica, previa- mente ao foco na alta intensidade e em momento algum se deve permi- tir que a fadiga comprometa essa mesma correta execução técnica. Respeitar rácios de força trem superior e “compreender” o ombro O ombro é o complexo articular em que se reportam mais lesões. Uma possível justificação poder-se-á dever ao facto de no crossfit existirem muitos exercícios acima do plano da cabeça, em que o ombro se terá de posicionar numa posição de máxima flexão, abdução e rotação interna. 5 Se aliarmos a este facto a repetida necessidade de aplicação força para preparar atleta para próxima repetição (exemplo do movimento de kipping) ou uma possível incorre- ção técnica por existência de fadiga compreende-se que o risco de lesão Figura 2 – CINDY e AMRAP