Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2018 | Page 7

disso mesmo. Deverá também ser avaliada com cautela a extrapolação destes resultados para atletas de elite, isto porque apesar da ine- gável importância do VO 2 max no desempenho (assim como a efi- ciência do consumo de O 2 e limiar láctico) outros factores também se apresentam como determinantes no sucesso desportivo do atleta, nomeadamente factores complexos de natureza motivacional e socioló- gica. 7 O desenho de estudo utilizado neste trabalho também parece ter pouco transfer para atletas de elite, já que implicou interrupção total do treino durante dois dias. Em relação às fraturas de stress, deverá também ser salientado o facto destas apenas representarem até 20% das lesões contraídas no âmbito desportivo, podendo mesmo em alguns despor- tos representar apenas 0,7%. 8 Em mulheres, outros fatores como a amenorreia também parecem rela- cionados com a sua ocorrência 9 , pelo que estes resultados não deverão ser extrapolados para o sexo feminino, pela complexidade fisiológica e hor- monal envolvida. Esta sobrevalorização dos resul- tados a curto prazo relembra a excessiva importância que já se deu à reposição imediata de hidratos de carbono após o exercício, que só se justifica quando o intervalo entre treinos é menor que 8 horas e perde relevância quando é superior. 10 Na mesma linha de raciocínio, parece um passo arriscado traduzir efei- tos em marcadores intermédios para um outcome mais final, como a densidade óssea ou risco de fraturas. Torna-se, assim, premente a reali- zação de estudos que possam aferir directamente a densidade mineral óssea em resposta a estes marca- dores intermédios, como a densito- metria radiológica de dupla energia (DXA). Este trabalho, novamente relembra a enorme importância dada ao impacto da ingestão de pro- teína na síntese proteica muscular a curto prazo assumindo que se tradu- zirá, inevitavelmente, em hipertrofia muscular, o que não é tão linear. 11 Por último, e não menos importante, é uma franca limitação deste estudo não se terem corrigido os valores dos marcadores para a hemoconcentra- ção, bem como não se terem apre- sentado dados da ingestão de outros nutrimentos importantes para a saúde óssea que não o cálcio, como o magnésio e as vitaminas A e D. Em estudos futuros seria também inte- ressante avaliar o efeito da ingestão pós-exercício em dias de múltiplas sessões de treino, particularmente à noite, uma vez que se verifica um zénite nesta altura do dia nos marcadores bioquímicos de turnover ósseo. 8 Bibliografia 1. Townsend R, Elliot-Sale KJ, C urrell K, Tang J, Fraser WD, Sale C. The Effect of Postexercise Carbohydrate and Protein Ingestion on Bone Metabolism. Med Sci Sport Exerc. 2017 Jun; 49(6):1209-18. 2. American Dietetic Association, Dietitians of Canada, American College of Sports Medicine, Rodriguez NR, Di Marco NM, Langley S. American College of Sports Medicine position stand. Nutrition and athle- tic performance. Med Sci Sports Exerc. 2009; 41(3):709-31. 3. Scott JPR, Sale C, Greeves JP, Casey A, Dut- ton J, Fraser WD. The effect of training status on the metabolic response of bone to an acute bout of exhaustive treadmill running. J Clin Endocrinol Metab. 2010;95(8):3918-25. 4. Sale C, Varley I, Jones TW, James RM, Tang JCY, Fraser WD, et al. Effect of carbohydrate feeding on the bone metabolic response to run- ning. J Appl Physiol. 2015; 119(7):824-30. 5. Scott JPR, Sale C, Greeves JP, Casey A, Dutton J, Fraser WD. Effect of fasting versus feeding on the bone metabolic response to run- ning. Bone. 2012 Dec; 51(6):990-9. 6. de Oliveira EP, Burini RC, Jeukendrup A. Gastrointestinal complaints during exercise: prevalence, etiology, and nutritional recom- mendations. Sports Med. 2014; 44 Suppl 1(S1):S79-85. 7. Joyner MJ, Coyle EF. Endurance exercise performance: the physiology of champions. J Physiol. 2008; 586(1):35-44. 8. Schlemmer A, Hassager C. Acute fasting diminishes the circadian rhythm of biochemical markers of bone resorption. Eur J Endocrinol. 1999; 140(4):332-7. 9. Duckham RL, Peirce N, Meyer C, Summers GD, Cameron N, Brooke-Wavell K. Risk factors for stress fracture in female endurance athletes: a cross-sectional study. BMJ Open. 2012; 2(6). 10. Burke LM, van Loon LJC, Hawley JA. Poste- xercise muscle glycogen resynthesis in humans. J Appl Physiol. 2017; 122(5):1055-67. 11. Damas F, Phillips SM, Libardi CA, Vechin FC, Lixandrão ME, Jannig PR, et al. Resistance training-induced changes in integrated myofi- brillar protein synthesis are related to hypertro- phy only after attenuation of muscle damage. J Physiol. 2016; 594(18):5209-22. Revista de Medicina Desportiva informa março 2018 · 5