Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2018 | Page 6

O que andamos a ler

Nesta rúbrica pretendemos dar notícia de artigos recentes ou que merecem ser ( re ) lidos e comentados . Será uma página aberta a todos os colegas que pretendam colaborar descrevendo ou comentando temas de medicina desportiva .
Revista Medicina Desportiva informa , 2018 ; 9 ( 2 ): 4-5 . https :// doi . org / 10.23911 / Vol . 9Iss . 2FMUP . Comenta . CH . exercicio
Comentário ao artigo
The Effect of Postexercise Carbohydrate and Protein Ingestion on Bone Metabolism 1
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Prof . Doutor Vítor H . Teixeira , 2 Dr . Filipe J . Teixeira
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Nutricionista e Professor Auxiliar na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto e Investigador no Centro de Atividade Física e Lazer da Universidade do Porto ; 2 Nutricionista e Investigador no Laboratório de Fisiologia e Bioquímica do Exercício da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa . Body Temple Lda e Fisiogaspar .
Resumo
Este trabalho avaliou o impacto de uma solução com hidratos de carbono e proteína ( 1,5kg / kg e 0,5g / kg , respetivamente ) em marcadores de turnover ósseo de corredores , quando ingerida imediatamente após ou 2 horas depois de uma corrida até a exaustão a 75 % do VO2max (± 75 min ). Após o exercício verificou-se um aumento do turnover ósseo , como indicado pelo incremento nos marcadores de formação ( N-terminal propeptides of type 1 procollagen P1NP ) e reabsorção ósseos ( C-terminal telopeptide of type 1 collagen , β-CTX ) que declinaram durante o período de recuperação ( 4 horas ), mesmo na ausência de qualquer ingestão nutricional . A ingestão da bebida com hidratos de carbono e proteína , imediatamente a seguir ao término do exercício , acentuou a redução da reabsorção óssea ( β-CTX ) nas primeiras 3 horas de recuperação e elevou a formação óssea a partir daquele momento . A cinética da resposta de outros parâmetros ( Ca 2 + , PO 4
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– e PTH ) não é sugestiva de que medeiam o efeito positivo da ingestão nutricional . A ingestão nutricional mais tardia ( 2 horas ) teve um efeito da mesma magnitude e com percurso temporal semelhante na redução da reabsorção óssea . Esta investigação sugere que a ingestão de hidratos de carbono e proteína a seguir ao exercício possa ser benéfica , na medida em que atenua a reabsorção e aumenta a formação ósseas , contribuindo para um turnover ósseo mais benéfico .
Comentário
Habitualmente , as pesquisas acerca do impacto da ingestão nutricional após o exercício centram-se na ressíntese de glicogénio muscular , síntese proteica , dor e dano muscular , equilíbrio redox e rehidratação , entre outros . 2 Este trabalho vem estender a investigação ao efeito no metabolismo ósseo , sublinhando a importância da ingestão nutricional posterior ao exercício para atenuar os efeitos deletérios deste no osso a curto prazo . De facto , alguns resultados anteriormente publicados apontam para que o exercício tenha , pelo aumento da PTH , um impacto agudo maior na reabsorção do que na formação óssea , o que pode contribuir para uma menor saúde óssea a longo prazo do atleta , aumentando o risco de fraturas de stress . 3 Neste contexto , a ingestão nutricional – por si só já favorecedora de saúde óssea – tem o potencial de mitigar o efeito deletério do exercício agudo . A investigação realizada neste domínio indica que a ingestão de hidratos de carbono durante o exercício atenua o efeito do exercício no turnover ósseo nas horas seguintes 4 , ao passo que a ingestão nutricional anterior não parece ser protetora , eventualmente porque fica aquém do impacto muito superior do exercício que a sucede . 5 Este trabalho vem demonstrar que os efeitos positivos verificados com a ingestão durante o exercício também se verificam no momento posterior ao exercício , onde é mais fácil garantir um bom aporte nutricional com menor risco de perturbações gastrointestinais . 6
Apesar de ser um trabalho muito interessante ao abrir novas perspetivas sobre a reposição nutricional após o esforço físico , as conclusões devem ser interpretadas de forma comedida . Assim , parece ser uma leitura demasiado otimista afirmar que a ingestão imediatamente após o exercício tem um maior benefício no metabolismo ósseo do que aquela mais tardia . De facto , e atendendo ao curso das respostas dos marcadores após a ingestão imediata , o tempo de análise ( primeiras quatro horas ) não parece suficiente para abranger completamente os efeitos da ingestão tardia , nomeadamente nos marcadores de formação óssea . Aliás , os resultados semelhantes entre as duas intervenções 24 horas após o exercício são indicativos
4 março 2018 www . revdesportiva . pt