Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2016 | Page 23
subcondrais, hidrartrose AC com
distensão capsular, fragmentos
ósseos e irregularidade e/ou diminuição da cortical óssea; ainda
assim, as alterações imagiológicas
mais elementares são a osteopenia
da extremidade distal da clavícula
e a destruição da mesma, respetivamente, na fase precoce e tardia da
doença (Figura 3)1,3,4,16,17.
Tratamento conservador
A ODCA resolve geralmente em
12-24 meses com o tratamento
conservador, sendo que a adesão
ao plano terapêutico tem um papel
fundamental nos resultados e
prognóstico2,13. Ainda assim, o curso
natural da ODCA não é previsível,
sendo impossível antever o grau
de destruição articular mesmo
com uma intervenção terapêutica
precoce1,2. O tratamento inicial da
ODCA consiste no repouso/evicção de manobras que despoletem
queixas, alteração do gesto técnico,
imobilização articular, crioterapia
dinâmica local e medicação com
analgésico oral e/ou anti-inflamatório oral e/ou tópico1,2,3,9.
No que concerne ao treino de
força, é benéfico diminuir a sua
intensidade e/ou eliminar ou
modificar os exercícios provocativos5. No caso específico dos halterofilistas, Haupt HA sugeriu uma
série de modificações às técnicas
praticadas, tendo em conta que é
difícil suspender o treino com pesos
nestes atletas3. No levantamento de
Figura 4 – Levantamento de pesos do tipo supino declinado com halteres.
Adaptado http://www.workoutroutinewarehouse.com/decline-dumbbell-bench-press.html.
pesos do tipo supino com barra, as
modificações específicas incluem
diminuir a distância entre mãos
na barra (inferior a 1,5 x distância
bi-acromial; permite um melhor
controlo posicional, mantendo os
braços com abdução <45º e extensão <15º, o que diminui as forças
compressivas sobre a extremidade
distal da clavícula) e controlar a
fase descendente do levantamento
de pesos do tipo supino plano com
barra para terminar cerca de 4-6cm
acima do tronco (podem colocar-se
toalhas sobre o peito para facilitar
esta restrição)3. Já nos exercícios
tipo power clean (exercício idêntico
ao primeiro movimento do arremesso no halterofilismo), este deve
ser substituído por uma variante
em que não há sustentação da
barra nos ombros (power clean high
pull), evitando trauma adicional da
articulação AC3. A implementação
de modificações na rotina de treino
permite substituir o levantamento
de pesos do tipo supino plano com
Figura 3 – Ressonância magnética de articulação acromioclavicular evidenciando edema ósseo da extremidade distal da clavícula associado a esclerose e irregularidade, com pequenas erosões, edema e aguçamento marginal
superior do acrómio, e espessamento da sinovial/estruturas capsuloligamentares.
barra, elevações em barras paralelas
e flexões, por aberturas/crucifixo em
pé em polia, levantamento de pesos
do tipo supino declinado com halteres (Figura 4) e inclinado com barra3.
O enquadramento pela Medicina
Física e de Reabilitação é uma mais-valia para controlo da sintomatologia, melhoraria da biomecânica
escapular e manutenção de alguma
atividade articular com enquadramento técnico visando a evicção
de movimentos sintomáticos1,9.
A pronta intervenção em casos de
diagnóstico precoce mostrou ser
eficaz na interrupção do processo
de osteólise, resultando num grau
variável de cura, tal como descrito
por Gajeski BL e Kettner NW1.
A infiltração intra-articular
de uma mistura de anestésico e
corticosteroide está preconizada
quando as medidas anteriores
falham, podendo providenciar analgesia durante um tempo limitado
(por exemplo, até 6 meses)1,2,3,9,18.
Devido à grande variabilidade inter-individual e reduzida dimensão da
articulação AC, o apoio ecográfico ou
por tomografia computorizada deve
ser considerado para controlo da
colocação da agulha (profundidade
e inclinação) e garantia da administração intra-articular da solução3,9.
A melhoria sintomática com infiltrações deve ser documentada antes
de se avançar para o tratamento
cirúrgico9.
O tratamento cirúrgico da ODCA
está indicado em indivíduos com
diagnóstico confirmado quando
as medidas conservadoras (6 a 12
meses) se revelam infrutíferas no
alívio sintomático ou quando os
indivíduos se recusam a modificar o
seu padrão de treino e/ou atividade
desportiva/laboral1,2,3,5,9,11,15,19.
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