Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2016 | Page 22

pesos5,10. A idade de apresentação varia com a idade de início de atividade desportiva e o manancial de stress cumulativo na articulação articulação acromioclavicular", este último dependente do volume e intensidade dos programas de treino que incluem fortalecimento muscular com pesos e/ou atividades de lançamento5. Face à crescente participação desportiva das crianças e adolescentes, a somar ao crescente nível competitivo nos escalões jovens, é importante estar atento a apresentações sintomáticas nesta faixa etária12. Regra geral, os sintomas surgem de modo insidioso na forma de dor na área da articulação AC que agrava com a atividade física (por exemplo, arremessos, levantamento de pesos) e alivia com o repouso prolongado1,3,5. Episodicamente, a dor poderá irradiar para os músculos deltoide, trapézio ou do pescoço3,5,9. Sensações mecânicas como estalar, ranger ou prisão também podem ser relatadas9. Por norma, a apresentação sintomática é unilateral, mas pode ser bilateral em até um quarto dos casos1. A bilateralidade dos sintomas é comum nos halterofilistas e nos restantes desportistas o membro dominante é o mais afetado5. À medida que a ODCA progride, os atletas começam a referir dor aquando do exercício físico, sendo que a sua intensidade poderá ser suficiente para interferir com a performance do gesto técnico, e manutenção dos sintomas álgicos durante alguns dias após o treino, com alívio progressivo2,3,5. Não havendo nenhuma alteração no planeamento de treino, a dor tende a piorar e afetar inclusive as atividades da vida diária ou mesmo o sono5,10. Exame objetivo A presença de edema dos tecidos moles é possível e facilmente identificável à inspeção nos casos de apresentação unilateral1,2,5. Os indivíduos apresentam desconforto/dor à palpação da articulação AC e, ocasionalmente, crepitação sem instabilidade evidente1,3,5,9. A estabilidade articular deve ser avaliada mobilizando a extremidade distal da clavícula com o polegar e indicador nas direções ântero-posterior e supero-inferior, enquanto se estabiliza o acrómio com a outra mão3. Nos casos de palpação articular dúbia, podem realizar-se algumas manobras provocativas, nomeadamente a mobilização horizontal ântero-posterior da clavícula, a rotação interna do membro superior ou a adução horizontal do braço (colocação do braço a 90º de flexão e realização de hiperadução para a linha média (Figura 2-A))3,5,9. Se esta última prova despertar dor articular ântero-superior, pode suspeitar-se de patologia inflamatória9. O teste de O’Brien (colocação do braço a 90º de flexão e 10º de adução e flexão resistida do braço com polegar virado para baixo e depois com o polegar virado para cima (Figura 2-B)) é outra manobra diagnóstica útil, onde dor na última posição sugere patologia da articulação AC (vs. patologia labral na primeira posição)9. Na ODCA não existe evidência de subluxação articular e o trofismo muscular poderá manter-se inalterado3. Os indivíduos não costumam apresentar limitações da amplitude articular da articulação gleno-umeral3. No âmbito do diagnóstico diferencial, deve efetuar-se uma avaliação do complexo articular do ombro, da Figura 2 – Manobras provocativas de dor na articulação acromioclavicular: A) manobra de adução horizontal; B) teste de O’Brien. Adaptado de http://www. movingbeyondjointpain. com/ acromioclaviculararthritis. 20 ·Março 2016 www.revdesportiva.pt coluna cervical e do sistema neurovascular local de forma a excluir outras patologias (por exemplo, patologia da coifa de rotadores, instabilidade gleno-umeral, síndrome de conflito subacromial, patologia da coluna cervical, infeção local)3,5,9. Além disso, deve realizar-se um exame geral para exclusão de patologia sistémica com repercussões locais (por exemplo, hiperparatiroidismo, gota, esclerodermia, artrite reumatoide, mieloma múltiplo, síndrome de Gorham-Stout)2,3,13. A infiltração da articulação AC com um anestésico (por exemplo, lidocaína ou bupivacaína) pode auxiliar no diagnóstico diferencial3,9,14,15. Exames complementares de diagnóstico O diagnóstico da ODCA é eminentemente imagiológico, não descurando de todo os dados recolhidos na história clínica prévia1. A par do estudo radiográfico genérico do(s) ombro(s) afetado(s), deve solicitar-se a radiografia ântero-posterior de ambas as articulações AC com uma inclinação cefálica de 10-15º do feixe de radiação para melhor visualização das articulações, tal como descrito por Zanca P1,3,5,9. As primeiras alterações radiográficas são subtis e surgem apenas numa fase tardia da doença3,5,9. A radiografia pode mostrar desde a perda do osso subcondral na ext ɕ