Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2013 | Page 20

qualquer intervenção cirúrgica . Como já foi referido , é muito frequente ao realizar-se uma artroscopia encontrarem-se lesões osteocondrais , sem qualquer tradução clínica . No entanto , se houver uma história de traumatismo , queixas persistentes , clínica e exames complementares de diagnóstico compatíveis , poderá estar indicado o tratamento cirúrgico .
Quando opero um atleta com uma lesão osteocondral tenho sempre na mesa operatória todas as soluções possíveis para o seu tratamento , nomeadamente instrumental para microfracturas , mosaicoplastia , biópsia para implante autólogo de condrócitos , fatores de crescimento e membrana de colagénio . É necessário também termos cola biológica . Na verdade , nem sempre existe uma correlação entre os exames complementares de diagnóstico ( TAC / RM ) e os achados intra-operatórios . Quando entramos no joelho , por vezes deparamo-nos com uma lesão muito maior do que a esperada e precisamos de ter soluções .
Qual é o interesse do implante antólogo de condrócitos ?
JEM – O implante autólogo de condrócitos consiste , em termos gerais , na retirada de uma amostra de condrócitos de cartilagem saudável ( através de biópsia ) de modo a serem cultivados in vitro para posteriormente serem aplicados no local da lesão . No entanto , este tipo de intervenção é dispendiosa , obriga a duas intervenções e tem resultados sobreponíveis a outras , como sejam a mosaicoplastia ( enxertos autólogos ) e as microfraturas . O nosso grupo desenvolveu uma técnica de enxerto autólogo ( GUT ), retirado da articulação tíbio-peroneal superior que está publicado internacionalmente e mostra resultados idênticos . FL – Está indicado para o tratamento de lesões unipolares sintomáticas de espessura total de grau III ou IV , medindo preferencialmente entre 2 a 10 cm 2 e / ou quando as outras técnicas falham ( fixação do fragmento , microfraturas , enxertos osteocondrais , etc .). Idealmente está indicado no jovem , em lesão pouco profunda no côndilo femoral ou patelofemoral . Se existir perda de osso subcondral superior a 6 – 8 mm necessita de enxerto ósseo . PP – Em lesões osteocondrais localizadas , de tamanho superior a 4 cm ou em lesões múltiplas , poderá estar indicado o tratamento com implante autólogo de condrócitos . A idade superior a 30 anos , a lesão com mais de um ano de evolução e a localização patelar têm pior prognóstico . A existência de um processo degenerativo evoluído é uma contraindicação absoluta . A obesidade e os desvios de eixo estão entre as múltiplas contraindicações relativas .
… e do plasma rico em plaquetas ?
JEM – O plasma rico em plaquetas , conhecido também por fatores de crescimento , tornou-se um método bastante utilizado no tratamento das lesões cartilagíneas ( trata-se de um método biocompatível , versátil e de baixo custo ). Contudo , à medida que foi sendo utilizado , com maior frequência , foi revelando excelentes resultados na sintomatologia , mas carece de evidência o efeito na regeneração tecidular .
FL – É das plaquetas que se obtém os fatores de crescimento , os quais têm uma ação chave na reparação tecidular , incluindo a proliferação , migração , diferenciação celular e síntese extracelular da matriz . O uso terapêutico em tecidos do sistema músculo-esquelético é fundamentado em dois fatores : bons resultados clínicos na cirurgia oral e maxilofacial e na sua função de ativação celular em qualquer órgão ou sistema . A sua ativação requer variáveis bioquímicas e ambientes biológicos , tais como o pH e proteínas específicas . Na avaliação dos seus efeitos no tratamento das lesões de cartilagem , apesar de alguns resultados encorajadores in vitro , tem sido objeto de acaloradas discussões por falta de consenso e bons resultados na sua utilização in vivo . PP – Os chamados fatores de crescimento são normalmente associados ao tratamento das lesões osteocondrais com microfraturas . Isoladamente poderão ser utilizados , mas os resultados já são muito discutíveis . Tem um papel anti-inflamatório localizado , que poderá explicar a melhoria clínica observada em muitos doentes .
Imagem artroscopica de fixação de lesão osteocondral com parafuso reabsorvível – Foto FL
Já agora , o que são as “ foragens ?
JEM – As microfraturas ( técnica atual que substituiu as furagens de Pridie ) consistem na realização de pequenas perfurações da lesão para provocar sangramento e recrutamento de células mesenquimais regeneradoras do osso subcondral . O local da lesão ficará com uma fibrocartilagem reparativa , mas sem as caraterísticas histológicas da cartilagem hialina normal . FL – São perfurações ou microfraturas efetuadas perpendicularmente no osso subcondral , com penetração de 2 a 4 mm , iniciando-se da periferia para o centro da lesão em espiral e mantendo pontes entre si de 3 a 4 mm para que não haja colapso do osso . Isto vai permitir o sangrado com migração das células pluripotenciais , que irão formar um coágulo de fibrina . Este coágulo transformar- -se-á em fibrocartilagem e hialinocartilagem e adquirir ortopticidade com a mobilização passiva contínua . Esta técnica está na 1 .ª linha de tratamento das pequenas lesões condrais de espessura total em zona de carga , sendo uma técnica fácil e de execução artroscópica . PP – São utilizados cada vez menos no tratamento de lesões de cartilagem e são substituídas pelas microfraturas . A sua indicação atualmente prende-se mais com o tratamento de algumas lesões de origem vascular , como as osteonecroses .
18 · Março 2013 www . revdesportiva . pt