Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2012 | Page 28

Tema 5 Rev. Medicina Desportiva informa, 2012, 3 (2), pp. 26–28 Lesões no desporto universitário português – estudo epidemiológico nas xxv e xxvi universíadas de verão Dr. Ricardo Aido1, 2 , Dra. Marta Massada1, 2, Dr. Daniel Soares1, Dr. Marco Sousa1, Dr. Carlos Magalhães 2,3 1 Interno Ortopedia CHPorto – Hospital Santo António, 2Médico Seleção Nacional Sénior Federação Portuguesa de Voleibol, 3Especialista em Medicina Desportiva. Porto. RESUMO ABSTRACT Este estudo teve como objetivo obter a frequência, incidência, tipo, etiologia, local anatómico, gravidade e possíveis fatores de risco das lesões do aparelho locomotor diagnosticadas nos 77 atletas da delegação Portuguesa nas Universíadas de Belgrado 2009 e Shenzhen 2011. A maioria das 97 lesões encontradas foi de origem muscular e tendinosa com claro predomínio de lesões de gravidade ligeira e microtraumáticas resultantes da sobrecarga das estruturas anatómicas. O tornozelo e o pé foram as áreas anatómicas onde se diagnosticaram mais lesões. A existência de lesões prévias parece constituir fator de risco para a ocorrência de lesões. This prospective review aimed to obtain data on the frequency, incidence, type, etiology, anatomic location, severity and potential risk factors for injuries to the musculoskeletal system in a cohort of 77 athletes from the Portuguese delegations, who participated in the Belgrade 2009 and Shenzhen 2011 Universiades. Most of the 97 injuries recorded in this study were due to overuse and overload mechanisms resulting in mild muscle and tendon injuries. The ankle and foot were cited as the most commonly affected anatomical site. The existence of previous injuries appears to be clear risk factors for these types of injuries. PALAVRAS CHAVE KEY-WORDS Lesão, epidemiologia, prevenção, desporto universitário. Injury, epidemiology, prevention, university sport. Introdução Sendo uma área em franco desenvolvimento, a Medicina Desportiva enfrenta o desafio de reduzir a incidência e minimizar a gravidade das lesões desportivas. Ao mesmo tempo providencia diagnósticos corretos da lesão desportiva, proporcionando a recuperação precoce e efetiva da função do atleta, aumentando e potenciando a sua performance 1,2. A correta compreensão da epidemiologia lesional do atleta, compreendendo a incidência, os fatores de risco e o mecanismo das lesões, é um importante primeiro passo para o desenvolvimento de intervenções alvo baseadas na evidência3. A identificação, a classificação e a caraterização das lesões desportivas são necessárias de modo a estabelecerem-se medidas preventivas para reduzir a incidência, a gravidade e a recorrência das mesmas4,5. 26 · Março 2012 www.revdesportiva.pt Apesar da sua inegável importância, os estudos sobre epidemiologia lesional continuam a ser escassos em Portugal6,7. Objetivos Este estudo teve como objetivo obter a incidência, frequência, etiologia, tipo, local anatómico, gravidade e possíveis fatores de risco das lesões encontradas nos sistemas locomotor dos atletas da delegação portuguesa presentes nas Universíadas de Verão (Belgrado 2009 e Shenzhen 2011). As Universíadas de Verão constituem o segundo maior evento multidesportivo do Mundo, logo a seguir aos Jogos Olímpicos, contando em 2009 com quase 5000 atletas inscritos e em 2011 com cerca de 9000, muitos deles campeões nacionais, mundiais e olímpicos nas respetivas modalidades. Representam um encontro desportivo com atletas de alta competição, sendo um ótimo meio de estudo para os objetivos a que os autores se propuseram. Material e métodos Trata-se de um estudo epidemiológico do tipo observacional e descritivo envolvendo os atletas da delegação Portuguesa que participaram nas duas Universíadas de Verão, (26 dias de competição no total). Foram incluídos 77 atletas (45 participaram nas Universíades de Belgrado e 32 nas de Shenzhen) das seguintes modalidades: basquetebol (12), judo (7), ginástica (9), taekwondo (8), esgrima (8), natação (6), atletismo (24), golfe (1), xadrez (1) e ténis de mesa (1). Para a realização do estudo foram utilizados dois instrumentos principais: o inquérito pré-competição (data de nascimento, sexo, estatura, peso, modalidade praticada, número de anos de prática desportiva, número de horas de prática desportiva por semana durante no ano que antecedeu a competição, braço e perna dominantes e existência de lesões anteriores) e o registo de lesões durante a competição. Este foi efetuado pela equipa médica da delegação portuguesa. Os exames complementares de diagnóstico foram utilizados sempre que necessários. A definição de lesão proposta pelo Conselho da Europa exige que a lesão tenha pelo menos uma das seguintes consequências: redução da quantidade ou do nível de atividade desportiva, necessidade de avaliação médica ou tratamento ou tenha efeitos sociais e económicos desfavoráveis8,9,10, tendo sido adotada neste estudo. Considerou-se lesão traumática aquela que decorre de um evento específico e identificável e lesão de sobreuso aquela que surge por microtraumatismos repetidos, sem uma causa identificável, visível para a lesão. A gravidade da lesão foi classificada em ligeira, moderada e grave se tivesse impedido o treino/competição num período inferior a 24 horas, entre 24 e 48 horas e superior a 48 horas, respetivamente. A incidência das lesões foi expressa em número