Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2020 | Page 18
importantes. A classificação temporal
divide a doença em aguda,
crónica e crónica agudizada. Na EFS
aguda, forma rara da doença, a duração
do quadro é inferior a 3 semanas,
ocorre um separação repentina da
epífise e caracteriza-se por impotência
funcional absoluta. Na EFS
crónica, forma mais comum, o quadro
pode durar entre três semanas
a vários anos, apresentando períodos
de exacerbação e remissão da
sintomatologia. O típico paciente é
adolescente, obeso, tem dor na região
inguinal, claudicação com o membro
inferior em rotação lateral e incapacidade
de rotação medial e abdução
da anca afetada. Na EFS crónica
agudizada, o paciente apresenta
uma exacerbação súbita do quadro
doloroso com incapacidade de fazer
carga sobre o membro afetado. 14-16
A classificação mais usada atualmente
proposta por Loder et al.
baseia-se na estabilidade da fise. 17
Esta estabilidade é determinada pela
capacidade do paciente deambular
e fazer carga no membro inferior
afetado. A EFS considera-se estável
se o paciente conseguir deambular e
fazer carga no membro afetado, com
ou sem o auxílio de apoios externos,
ou instável quando o paciente é
incapaz de deambulação e de carga
sobre o membro mesmo com auxílio
externo. Esta classificação é uma
importante preditora do prognóstico,
no entanto não descreve a magnitude
da deformidade, ao contrário
de outras classificações que quantificam
o grau de deslizamento
da metáfise femoral face à epífise
femoral superior. 17,18
Diagnóstico
O diagnóstico da EFS é baseado
na clínica e nas alterações
Figura 2 – Epifisiólise femoral superior à
esquerda identificada em radiografia da
bacia em posição de rã.
imagiológicas. 19 Um exame físico
completo e cuidado é essencial para
colmatar o subdiagnóstico da EFS.
Um sinal de alerta é presença de
limitação dolorosa da mobilidade
da anca ao exame físico, principalmente
na rotação medial e na
abdução. Devido à epifisiólise, e
consequente conflito de estruturas,
verifica-se a abdução e rotação lateral
obrigatórias da anca em resposta
à sua flexão passiva, sinal classicamente
descrito por Drehmann. 19
Relativamente ao diagnóstico
imagiológico, o gold standard é a
radiografia da anca. As incidências
indicadas na suspeita de EFS
são a ântero-posterior e perfil da
anca, incluindo a posição de rã e as
projeções de Lowenstein e de Dunn,
sendo esta última ideal para pacientes
com epifisiólise grave, incapazes
de se posicionarem em posição de
rã. 20,21 Estas incidências demonstram
o deslizamento ântero-superior e em
rotação lateral da metáfise relativamente
à epífise, no entanto, um
deslizamento em fase inicial poderá
ser apenas detetável em posição de
rã (Figura 2). 21
Outras alterações radiográficas
presentes são a diminuição da altura
da epífise, alargamento da fise e rarefação
da metáfise (o que lhe confere
um aspeto lacunar e irregular), duplo
contorno perióstico no rebordo inferior
do colo femoral (sinal do sublinhado),
interrupção do arco de
Shenton e ausência de interceção da
linha de Klein com a epífise femoral
(Figura 3). 21 A classificação radiológica
de Southwick baseia-se na
gravidade do deslizamento metáfise-
-epífise: ligeiro, moderado ou grave de
acordo com a diferença encontrada
entre o lado afetado e o lado são no
que diz respeito ao ângulo entre a
epífise e o maior eixo do fémur; <30º,
30-60º e >60º, respetivamente. 22 A
ressonância magnética contrastada
com gadolínio tem um papel limitado
no estudo da EFS, recorrendo-se a
esta em casos duvidosos, nomeadamente
em situações de epifisiólise
femoral bilateral. 18 A ecografia
poderá ser útil na identificação de
situações agudas que cursem com
derrame intra-articular, podendo
também verificar-se uma imagem
em degrau de escada na junção da
cabeça com o colo femorais. 23 Por sua
vez, a tomografia computorizada e
a reconstrução tridimensional tem
sido apontada por alguns autores
como sendo útil para avaliar o grau
de deslizamento e deformidade nos
casos de EFS crónica, bem como para
auxiliar na planificação da intervenção
cirúrgica. 16
Tratamento
Existem várias opções no que toca
ao tratamento da EFS, sendo que ao
longo dos anos se foram abandonando
determinados procedimentos
em detrimento de outros mais
eficazes e vantajosos. Atualmente
o método mais utilizado é a estabilização
cirúrgica precoce, efetuada
o mais rapidamente possível após o
diagnóstico, constituindo a EFS uma
admissão hospitalar urgente, sobretudo
se se tratar de uma EFS instável.
14,18,25 Durante o tratamento da
EFS a atenção recai, naturalmente,
sobre o membro afetado, no entanto,
não se pode deixar de ter em conta
que em cerca de 50 a 60% dos casos
existe envolvimento bilateral. Sendo
assim, o membro contralateral
deverá ser alvo de avaliação cuidadosa
e, até mesmo, em situações
de elevado risco de EFS bilateral
(ou seja, em pacientes obesos, com
doenças endócrinas e EFS em idade
inferior a 10 anos, entre outros), de
um tratamento cirúrgico preventivo
no sentido de evitar a progressão da
doença neste. 14,18,25
Atualmente o tratamento da EFS,
seja estável ou instável, consiste na
fixação in situ percutânea com parafuso
canulado em compressão, de
modo a estabilizar a epífise e impedir
deslizamentos adicionais (Figura 3).
A fixação in situ com recurso a um
Figura 3 – Linha de Klein normal e
anormal na EFS. A linha de Klein normal
(linha desenhada ao longo do bordo
superior do colo femoral) intercepta a
cabeça femoral. Quando a linha de Klein
fica superior à cabeça femoral estamos
perante uma EFS, na medida em que a
metáfise deslizou para posição ântero-
-superior e em rotação lateral face à
epífise. 24
16 maio 2020 www.revdesportiva.pt